19 Novembro 2011
Um importante expoente da Escola de Bolonha, Luis Antonio Tagle (foto), logo será feito cardeal. Foi ele que escreveu o capítulo chave da história mais lida em nível mundial sobre o Concílio Vaticano II, interpretado como ruptura e "novo início". Mas na cúria há um silêncio sobre o assunto.
A reportagem é de Sandro Magister e está publicada no sítio Chiesa, 14-11-2011. A tradução é do Cepat.
Nos corredores do Vaticano circula a informação de que em fevereiro de 2012 poderia haver um novo Consistório para a criação de novos cardeais, o quarto do pontificado de Bento XVI.
A eleição dos novos cardeais é uma eleição muito pessoal do Papa. Mas nunca faltam as grandes e pequenas manobras para buscar se intrometer no tão reservado processo para a tomada desta decisão.
Está evidente a do historiador Alberto Melloni, primeiro da lista da célebre escola historiográfica de Bolonha que elaborou a história mais lida em todo o mundo do Concílio Vaticano II, interpretado como ruptura e "novo início" em relação à época precedente da Igreja.
Comentando, na edição florentina do jornal Corriere della Sera, o atentado sofrido no dia 04 de novembro pelo arcebispo da Florença Giuseppe Betori, ficando ferido seu secretário particular, Melloni teceu sobre ele um elogio profundamente apaixonado, lamentando que "por causa de uma artimanha do Direito Canônico utilizada em corrente alternativa", Betori e a Igreja da Florença ainda "devem esperar pela púrpura cardinalícia que dará a esta Igreja o nível que lhe corresponde".
Com efeito, no último Consistório de 20 de novembro de 2010, Betori na foi feito cardeal porque se aplicou a ele a regra – para dizer a verdade, empírica e não "canônica" – com base na qual não se concede a púrpura ao bispo de uma diocese que ainda tiver em vida um purpurado emérito com menos de 80 anos, embora já não fosse residente na cidade porque é responsável por um cargo na cúria romana, como é o caso, para a Florença, de seu arcebispo emérito Ennio Antonelli, 75 anos, atual presidente do Pontifício Conselho para a Família.
Ainda parece prematuro dizer que esta regra, aplicada no ano passado, voltará a ser aplicada em fevereiro, excluindo novamente Betori da púrpura.
* * *
Mas, enquanto isso, um autêntico aluno da Escola de Bolonha, não italiano, já está na pole position para ser feito cardeal no próximo Consistório.
Trata-se de Luis Antonio Tagle, 54 anos, nomeado arcebispo de Manila, capital das Filipinas, no dia 13 de outubro passado, uma das duas dioceses cardinalícias com mais católicos dos países asiáticos.
Manila é a sede cardinalícia desde 1960, ao passo que a outra, Cebú, o é desde 1969. Atualmente, depois da divisão da diocese de Manila em 2002, Cebú ultrapassa Manila em população (4,1 milhões contra 3,3), em número de católicos (3,6 milhões contra 2,9), em número de clero diocesano (326 contra 299), em número de religiosas (1.244 contra 1.000) e, sobretudo, em número de seminaristas (234 contra 66) e de batismos no ano passado (126.000 contra 67.000), ao passo que a capital conserva o primado no clero religioso (353 contra 278). Os dados são do Anuário Pontifício de 2011.
Mas, voltemos ao arcebispo Tagle, que, assim que foi nomeado para Manila, foi imediatamente denominado com o título de "new papal contender" pelo vaticanista John L. Allen do semanário progressista norte-americano National Catholic Repórter.
Foi precisamente Allen quem destacou como Tagle, depois de ter sido aluno do teólogo Joseph Komonchak da Universidade Católica da América, fez parte da esquadra de estudiosos que trabalhou para Alberto Melloni e seu mestre Giuseppe Alberigo – ambos discípulos e sucessores de dom Giuseppe Dossetti – em sua controvertida história do Concílio. No quarto volume desta história, publicada em 1999, dedicado ao turbulento período conciliar do outono de 1964, é precisamente Tagle quem assina o capítulo chave, dedicado à "tempestade de novembro: a semana negra".
A candidatura do novo arcebispo de Manila foi discutida no Vaticano pelos cardeais e bispos membros da Congregação na reunião de 22 de setembro.
Nesta reunião, Tagle, que desde 2001 era bispo de Imus e já figurava como o primeiro da terna dos candidatos a Manila, foi escolhido sobre o segundo da lista, Sócrates Beunaventura Villegas, desde 2009 arcebispo de Lingayen-Dagupan, ex-secretário pessoal do cardeal Jaime Sin, protagonista da pacífica revolução que levou, em 1986, à queda da ditadura de Ferdinand Marcos.
Bento XVI confirmou a eleição e promoveu Tagle para Manila.
Ao comentar a nomeação de seu aluno, Komonchak, curador da edição norte-americana da história do Vaticano II da Escola de Bolonha, deduziu disso, com satisfação, que o fato de ter colaborado nessa obra de história "não é mais um motivo para ser considerado "persona non grata’ no Vaticano".
O Philippine Daily Inquirer escreveu que o vínculo de Tagle com a progressista Escola de Bolonha "torna sua nomeação ainda mais intrigante", já que Bento XVI "é conhecido por sua visão conservadora em doutrina".
O estranho é que os cardeais e os bispos que no Vaticano avaliaram a candidatura de Tagle souberam deste seu vínculo com a Escola de Bolonha apenas depois da publicação da nomeação.
De fato, na documentação informativa normalmente volumosa – a chamada "colocação" – entregue a eles sobre cada um dos candidatos, este aspecto da biografia de Tagle, efetivamente "intrigante" e eclesiasticamente de grande peso, foi inteiramente omitido.
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Concílio Vaticano II, uma ruptura? O novo arcebispo de Manila - Instituto Humanitas Unisinos - IHU