01 Novembro 2011
Marcelo Freixo quase não encontra tempo de atender telefonemas. Passou a manhã de ontem e parte da tarde pagando contas, transferindo documentos, resolvendo a papelada burocrática que envolve os preparativos para uma saída de supetão do país. Saída que, ele garante, será por um breve espaço de tempo.
A entrevista é de Humberto Trezzi e publicada pelo jornal Zero Hora, 01-11-2011.
Eis a entrevista.
Por que o senhor decidiu se exilar?
Não se trata de exílio, acho essa uma palavra forte. Saio para esfriar os ânimos um pouco, meus e dos caras que andam me ameaçando. Pretendo voltar até o final do ano, se tudo ajudar. Estou indo para o Exterior a convite da Anistia Internacional, que se preocupa com as ameaças que tenho recebido. Vou aproveitar para dar umas palestras, falar da situação das milícias no país, que não se restringem ao Rio. Vou levar a família junto. Saio para restabelecer o equilíbrio.
O senhor recebeu muitas ameaças, desde que presidiu a CPI das Milícias?
Perdi a conta. Mas foram sete no último mês, aumentou de intensidade depois do assassinato da juíza Patrícia Acioli. Acirrou muito. Sete, não, foram oito. Acabei de receber uma ameaça, via Disque-Denúncia, me avisa minha assessoria. A juíza usou muito meu relatório das CPIs para embasar sentenças. Acho que esse pessoal ficou um pouco irritado...
O senhor usa escolta?
Tenho escolta desde 2008. Só não uso em viagens longas. São gente da PM, da Polícia Civil e dos serviços penitenciários, não vou dimensionar quantos, porque é informação confidencial. É preciso, porque as milícias são compostas de criminosos eficientes, integradas por funcionários públicos, gente que não é analfabeta. Se as milícias têm coragem de torturar jornalistas, como aconteceu com teus colegas do jornal O Dia, ou assassinar uma juíza, eu tenho de levar a sério as ameaças, não é?
No que o senhor acha que o Estado tem falhado ao combater milícias?
Não foi feito ainda todo o necessário. O poder público enfrentou algumas milícias de mais visibilidade, mas algumas, não tão famosas e até mais antigas e menores, mantêm-se intocadas. Até que o Estado tem prendido gente, foram mais de 500 prisões de milicianos desde a CPI, em 2008. O problema é que não foram cortados os elos econômicos dos milicianos, que embasam seu poder. Tem miliciano comandando de dentro da cadeia. É preciso fazer licitação da distribuição de gás e das peruas (transporte coletivo), mas tudo isso está em compasso de espera. É daí que vem a receita das milícias, é aí que deve acontecer o corte no financiamento desse tipo de crime. Mas é importante ressaltar que, apesar do vacilo do Estado, as milícias não venceram. Não vamos recuar.
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"As milícias não venceram. Não vamos recuar" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU