18 Mai 2011
Em uma entrevista exclusiva ao jornal The Guardian, o cosmólogo compartilha seus pensamentos sobre a morte, a Teoria-M, o propósito humano e o destino da nossa existência.
A reportagem é de Ian Sample, publicada no sítio The Guardian, 15-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto e revisada pela IHU On-Line.
A crença de que o céu ou a vida após a morte nos espera é um "conto de fadas" para as pessoas com medo da morte, disse Stephen Hawking. Em uma recusa que salienta a sua firme rejeição do conforto religioso, o cientista britânico mais eminente disse que não há nada além do momento em que o cérebro palpita pela última vez.
Hawking foi diagnosticado com a doença do neurônio motor aos 21 anos. Esperava-se que doença incurável iria matar Hawking dentro de alguns anos, devido aos sintomas decorrentes, uma perspectiva que fez com que o jovem cientista se voltasse para Wagner, mas finalmente o levou a gozar mais a vida, disse ele, apesar da nuvem que paira sobre o seu futuro.
"Eu tenho vivido com a perspectiva de uma morte prematura pelos últimos 49 anos. Eu não tenho medo da morte, mas não tenho pressa de morrer. Tenho muita coisa que quero fazer antes", disse.
"Eu considero o cérebro como um computador que vai parar de trabalhar quando seus componentes falharem. Não existe céu nem vida após a morte para computadores quebrados. Isso é um conto de fadas para as pessoas que tem medo do escuro", acrescentou.
Os últimos comentários de Hawking vão além daqueles proferidos em seu livro de 2010, The Grand Design, no qual ele afirmou que não há necessidade de um criador para explicar a existência do universo. O livro provocou a reação de alguns líderes religiosos, incluindo o rabino-chefe britânico, Lorde Sacks, que acusou Hawking de cometer uma "falácia elementar" da lógica.
O físico de 69 anos adoeceu gravemente depois de um ciclo de palestras nos EUA em 2009 e foi levado ao hospital Addenbrookes em um episódio que desencadeou sérias preocupações pela sua saúde. Ele já voltou ao seu departamento em Cambridge como diretor de pesquisa.
As observações do físico traçam uma linha rígida entre o uso de Deus como metáfora e como crença em um criador onisciente cujas mãos orientam o funcionamento do cosmos.
Em seu best-seller de 1988, Uma Breve História do Tempo, Hawking recorreu ao dispositivo tão amado por Einstein ao descrever o que significaria para os cientistas desenvolver uma "teoria de tudo" – um conjunto de equações que descrevam cada partícula e força em todo o universo. "Seria o triunfo final da razão humana – pois então conheceríamos a mente de Deus", escreveu.
O livro vendeu 9 milhões de cópias e impulsionou o físico ao estrelato instantâneo. Sua fama o levou a papéis como convidado nas séries Os Simpsons, Star Trek: The Next Generation e Red Dwarf. Uma de suas maiores conquistas na física é uma teoria que descreve como os buracos negros emitem radiação.
Na entrevista, Hawking rejeitou a noção de vida além da morte e enfatizou a necessidade de cumprir o nosso potencial na Terra, fazendo bom uso de nossas vidas. Em resposta a uma pergunta sobre como deveríamos viver, ele disse simplesmente: "Devemos buscar o maior valor da nossa ação".
Ao responder outra pergunta, ele escreveu sobre a beleza da ciência, como a requintada hélice dupla do DNA na biologia, ou as equações fundamentais da física.
Hawking será um dos conferencistas do encontro Google Zeitgeist de Londres, em que irá abordar a questão: "Por que estamos aqui?".
Na conferência, ele irá argumentar que as minúsculas flutuações quânticas do universo muito primitivo tornaram-se as sementes a partir das quais as galáxias, as estrelas e, finalmente, a vida humana surgiram. "A ciência prevê que muitos tipos diferentes de universo serão espontaneamente criados do nada. É uma questão de sorte que estejamos aqui", disse ele.
Hawking sugere que, com os modernos instrumentos baseados no espaço, como a missão Planck da Agência Espacial Europeia, pode ser possível detectar impressões digitais antigas na luz restante dos primeiros momentos do universo e descobrir como o nosso lugar no espaço veio a surgir.
Sua conferência vai se focar na Teoria-M, um amplo quadro matemático que engloba a teoria das cordas, que é considerada por muitos físicos como a melhor esperança até agora para desenvolver uma teoria de tudo.
A Teoria-M demanda um universo com 11 dimensões, incluindo uma dimensão do tempo e as três dimensões espaciais familiares. As restantes estão enroladas em um tamanho muito pequeno para que possamos vê-las.
As provas em apoio à Teoria-M também poderão vir do Large Hadron Collider - LHC, do CERN, o laboratório europeu de física de partículas perto de Genebra.
Uma possibilidade prevista pela Teoria-M é a supersimetria, uma ideia que afirma que as partículas fundamentais têm gêmeos pesados – e ainda desconhecidos – com nomes curiosos como selectrons e squarks.
A confirmação da supersimetria seria uma injeção de ânimo para a Teoria-M e ajudaria os físicos a explicar como cada força em funcionamento no universo surgiu de uma superforça na aurora do tempo.
Outra descoberta potencial do LHC, a do evasivo bóson de Higgs, que, conforme se pensa, dá massa a partículas elementares, podem ser menos bem-vindas para Hawking, que aposta há muito tempo que essa entidade muito procurada nunca será encontrada no laboratório.
Hawking irá se somar a outros conferencistas no evento de Londres, incluindo o chanceler George Osborne, e o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz.
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"O céu não existe, é um conto de fadas", afirma Stephen Hawking - Instituto Humanitas Unisinos - IHU