02 Janeiro 2011
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Ele é o ministro da Cultura do Papa. E um dos melhores biblistas da Igreja Católica. Chama-se Gianfraco Ravasi, e alguns o colocam no alvo dos papáveis com chances. Pois bem, essa autoridade curial e de prestigio teológico que acaba de publicar um artigo no jornal italiano Il Sole 24 Ore, em que reivindica o Jesús de Pagola em termos muito elogiosos.
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada no sítio Religión Digital, 21-12-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Tanto é assim que o purpurado assegura que "a melhor forma para guiar o leitor não técnico por essa selva (de interpretações cristológicas) me parece ser a narrativa realizada na Espanha por dois teólogos, Armand Puig i Tarrech (Jesús. Respuesta a los enigmas, Ed. San Pablo) e José Antonio Pagola (Jesús. Una aproximación histórica, Ed. PPC)". Pode-se dizer mais alto, mas não mais claro.
O que o atual bispo de Córdoba, Demetrio Fernández, vai fazer agora, ele que divulgou na página da Internet da diocese de Tarazona, da qual então era titular, um relatório, no qual desacreditava por completo a obra e a teologia de Pagola, à qual chegava a acusar de heresias?
O que o secretário técnico da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e bispável, José Rico Pavés, que assinou esse estudo, vai fazer agora?
O que Martínez Camino vai fazer agora com as pressões que exerceu contra a editora PPC e sua matriz SM, obrigando a editora dos marianistas a não voltar a imprimir o livro de Pagola?
Quem vai reivindicar agora a figura do bispo anterior de San Sebastián, Dom Uriarte, que sempre deu a cara pelo seu teólogo e, mais ainda, colocou seu nihil obstat no livro?
O que vão fazer agora os "talibãs" que queimaram na fogueira de seus insultos o livro, Pagola, as editoras PPC e SM, Euskadi, a teologia e até Dom Setién por extensão? Quem vai lhes ressarcir pelos danos provocados? Danos e prejuízos econômicos, mas sobretudo morais.
Demetrio Fernández, José Rico Pavés e Juan Antonio Martinez Camino deveriam sair à praça pública e pedir perdão humildemente, reconhecer seu erro, reabilitar a honra pisoteada do teólogo e de Dom Uriarte, ressarcir a editoria e... retirar-se, os três juntos, para um mosteiro, para rezar. Vestidos de saco de lã crua, durante uma longa temporada. Ou ficar ali.
Alegramo-nos por Pagola, nosso colaborador, pela SM, a empresa que tanto sofreu nesse episódio, por Dom Uriarte, que sempre deu a cara pelo seu teólogo e, principalmente, por tantas pessoas que encontraram no livro de Pagola, agora referendado pelo Vaticano, uma fonte de encontro com o verdadeiro rosto de Jesus.
Este é o trecho do artigo do cardeal Ravasi no Il Sole 24 Ore do último dia 5 de dezembro:
Chegamos assim à Third Quest, o terceiro caminho aberto em 1985 e ainda em obras: é "o paradigma judaico pós-moderno", como o definiu Segalla, inaugurado por Ed Parish com o seu Gesù e il giudaismo, traduzido pela editora Marietti e, 1992. Na base, havia a confiança de conhecer o Jesus histórico, colocando-o dentro do leito do judaísmo em que ele havia surgido e vivido, mas com o qual havia também marcado descontinuidades e originalidades. Esse novo modelo historiográfico e teológico, cuidadosamente apresentado por Segalla, sofreu algumas ramificações interessantes por meio do "Jesus recordado" da tradição oral (James D. G. Dunn) e o "Jesus testemunhado" (Richard Bauckham).
Mas detenhamo-nos aqui para não desperdiçar os nossos leitores que continuam alertas sobre a complexidade atual da pesquisa, do alto nível dos estudos histórico-críticos conduzidos pelos exegetas, pela consequente vulgaridade de quem pensa que "cristão" é sinônimo de "cretino", mas também dos riscos de ofuscamento que uma galáxia semelhante de análise pode gerar.
O modo mais transparente para guiar o leitor não "técnico" por essa selva continua sendo talvez o narrativo, adotado na Espanha por dois estudiosos, Armand Puig i Tàrrech (Jesús. Respuesta a los enigmas, Ed. San Pablo) e José Antonio Pagola (Jesús. Una aproximación histórica, Ed. PPC).
Certamente, permanece sempre viva aquela pergunta que Cristo havia deixado pairando sobre o seu auditório e que Mario Pomilio havia posto no centro do seu Quinto Evangelio (1975): "Cristo nos colocou diante do mistério, nos colocou definitivamente na situação dos seus discípulos diante da pergunta: Mas vocês, quem dizem que eu sou?".
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Cardeal Ravasi "abençoa" Pagola e seu livro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU