01 Dezembro 2012
“A existência jamais é pura existência; é uma co-existência sentida e afetada pela ocupação e pela pre-ocupação, pelo cuidado e pela responsabilidade no mundo com os outros, pela alegria ou pela tristeza, pela esperança ou pela angústia”. Esta é a temática básica da proposta de uma ética do cuidado, conforme Leonardo Boff, autor do texto “A busca de um ethos planetário”, publicado nos Cadernos IHU Ideias, nº 169.
A lógica da agressividade humana tem encontrado sua tradução em sinais de violência cotidiana por todos os cantos do Planeta. Como se supunha, não se trata do grau de “civilização” que a modernidade logrou construir, a baliza moderadora desta violência. Quanto mais “civilizados e modernos”, tornamo-nos mais destrutivos, assim também que, quanto mais rica a humanidade em seu poder de produção e consumo, nos mostramos mais impotentes em encurtar as distâncias indicadas pela desigualdade ou botar abaixo os tantos muros que nos dividem.
À violência dos humanos contra humanos soma-se a violência destes contra a terra e o ambiente, a nossa “casa comum”. Amedrontados frente à perda do controle dos riscos, nos colocamos diante de uma grande encruzilhada, cujo caminho escolhido define nosso futuro como um imperativo: “ou mudamos ou morremos”. Fato é que a Terra está doente, e como somos, enquanto humanos também Terra, nos sentimos todos, de certa forma, doentes, fragilizados.
Se, para os gregos, o ethos, fundamentalmente, significa a “morada humana”, nosso habitat, fundamental também se torna a questão a ser respondida: o que estamos fazendo com nossa morada? E mais, como construir um consenso mínimo de co-existência, uma vez que está claro que temos um destino e um futuro em comum?
Boff relembra, em seu texto, as contribuições, que possuem seu valor e influência para a construção de um ethos planetário: a religião, como base para um ethos mundial, na inspiração do teólogo suíço/alemão Hans Küng, a perspectiva de um ethos mundial a partir dos pobres, como um outro referencial epistemológico, na percepção do filósofo e historiador argentino, Enrique Dussel, e, a perspectiva de uma ética centrada na Terra e na Humanidade, na reflexão da “Carta da Terra” (2000) e seu eixo articulador da inter-retro-conectividade de tudo com tudo.
Chega-se assim à proposta da ética do cuidado, como princípio passivo (sentir o mundo, os outros e o eu como totalidade) e ativo (a forma de organizar nossa casa comum), fundamentos da responsabilidade para com os outros e para com o mundo. Esta proposta, portanto, desborda na ética da com-paixão para com todos os que sofrem, ativando a solidariedade e a cooperação, como princípios (re)fundantes da condição humana.
Por fim, a dimensão do cuidado, como responsabilidade universal, invoca duas outras virtudes: a autolimitação e a justa medida. A primeira, indicando as renúncias necessárias frente à voracidade produtivista, e a segunda, dimensionando a base de todas as virtudes: o equilíbrio entre o mais e o menos. Para Leonardo Boff, o futuro da vida e da Humanidade constrói-se seguindo este itinerário.
A versão completa dos Cadernos IHU Ideias, no. 169, encontra-se disponível neste sítio.
Afonso Maria das Chagas, mestrando no PPG em Direito da Unisinos.
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O princípio do cuidado como proposta de um ethos planetário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU