22 Novembro 2012
"Os cristãos de Gaza pagam duas vezes por esse conflito absurdo: porque vivem nesse assédio, assim como os outros, e depois porque são cristãos em um pequeno pedaço de terra dominado pelo Islã, onde agora se enfrentam novos grupos intolerantes e violentos. Em uma guerra, não há vencidos e vencedores, mas apenas vítimas, de um lado e do outro. E, nesta terra, que é a terra da paz, ninguém ainda entendeu isso".
A reportagem é de Fabio Scuto, publicada no jornal La Repubblica, 21-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Padre Jorge Hernandez, o jovem pároco da pequena mas ativa comunidade católica de Gaza, recém-participou do rito fúnebre de um dos seus fiéis que morreu de infarto após um bombardeio. Argentino, árabe fluente, padre Jorge realiza seu ministério no coração da velha Gaza. Dois mísseis disparados contra o posto de polícia próximo do Hamas fazem tremer a mesa e derramam o café.
Eis a entrevista.
Como está a situação, padre?
Grave, como em 2009. As pessoas estão aterrorizadas. Depois de uma semana estamos exaustos.
Os danos são notáveis, e inúmeras são as vítimas, metade das quais são mulheres e crianças...
São perdas imensas para as famílias, mas, atenção, porque os bombardeios também lançam o seu veneno no tempo, marcam as pessoas para sempre, especialmente as crianças. Na nossa pequena comunidade de 200 almas – com os ortodoxos, os cristãos em Gaza 1.200 –, já temos de sete a oito casos de crianças com sérios distúrbios de comportamento. Tentamos ajudá-los com um conselho, uma palavra, mas já sabemos que não vai ser suficiente.
Por que as crianças de Gaza são diferentes das outras?
Estou chocado com o ódio e a raiva que essas crianças trazem consigo. Experimentamos isso na escola todos os dias. A semente da violência tem raízes. Roubaram a infância delas. As crianças de 10 anos já conheceram três guerras, e não acaba aqui, porque essas são as gerações futuras.
Depois de tantas tragédias, há espaço para o perdão recíproco?
O judaísmo e Islã não têm o conceito de perdão, que pertence ao cristianismo. "Olho por olho" é o seu mandamento. Antes ou depois, estoura a vingança. Talvez não hoje, nem amanhã, mas um dia será assim.
Na Faixa de Gaza, além do Hamas, estão presentes grupos islâmicos salafistas, extremistas e violentos. É uma vida difícil para os cristãos?
Os idosos me conta sobre quando andavam de ônibus de Gaza a Jerusalém com as famílias muçulmanas. Depois, cada um ia rezar ao seu Deus, e à noite voltavam juntos. Agora, aqui, a palavra "cristão" tornou-se um insulto.
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''Nós, cristãos da Faixa de Gaza, pagamos duas vezes'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU