Por: Jonas | 17 Março 2012
Num dia como ontem (14/03), há 129 anos, morria placidamente em Londres, aos 65 anos, Karl Marx. Ele sofreu o destino de todos os grandes gênios, sempre incompreendidos pela mediocridade reinante e o pensamento encadeado ao poder e às classes dominantes. Como Copérnico, Galileu, Servet, Darwin, Einstein e Freud, para mencionar apenas alguns, foi injuriado, perseguido, humilhado. Foi ridicularizado pela pequenez de intelectuais e burocratas acadêmicos, que não chegavam nem aos seus pés, e por políticos complacentes com os poderosos, que repugnavam suas concepções revolucionárias.
O artigo é de Atilio A. Boron, publicado no jornal Página/12, 15-03-2012. A tradução é do Cepat.
A academia cuidou muito bem de fechar suas portas, e nem ele, nem seu amigo e eminente colega, Friedrich Engels, jamais acederam aos claustros universitários. Mais ainda, Engels, de quem Marx dissera que era “o homem mais culto da Europa”, nem sequer estudou na universidade. No entanto, Marx e Engels produziram uma autêntica revolução copernicana nas humanidades e nas ciências sociais. Depois deles, ainda que seja difícil separar suas obras, podemos dizer que depois de Marx, nem as humanidades nem as ciências sociais voltaram a ser o que eram antes. A amplitude enciclopédica de seus conhecimentos, a profundidade de sua visão, sua empenhada busca por evidências que confirmavam suas teorias, fizeram com que Marx, que tantas vezes teve seu legado filosófico e suas teorias dadas como mortas, seja mais atual do que nunca.
O mundo de hoje se parece, surpreendentemente, ao que ele e seu jovem amigo Engels prognosticaram num texto admirável: “O Manifesto do Partido Comunista”. Este sórdido mundo de oligopólios predatórios, de guerras por conquista, de degradação da natureza e roubo de bens comuns, da desintegração social, das sociedades polarizadas e de nações separadas por abismos de riqueza, poder e tecnologia, das plutocracias travestidas para aparentar democráticas, de uniformização cultural pautada pelo “American way of life”, é o mundo que ele antecipou em todos os seus escritos. Por isso, são muitos que já, no capitalismo desenvolvido, se perguntam se o século XXI será o século de Marx. Respondo a essa pergunta com um sim, sem atenuantes, e já estamos vendo isso: as revoluções em marcha no mundo árabe, as mobilizações dos indignados na Europa, a força plebeia dos islandeses ao enfrentarem e derrotarem os banqueiros e as lutas dos gregos contra os sádicos burocratas da Comissão Europeia, FMI e Banco Central Europeu, a reação em cadeia dos movimentos Ocupe Wall Street, que envolveu mais de cem cidades estadunidenses, as grandes lutas que na América Latina derrotaram a ALCA e a sobrevivência dos governos de esquerda na região, começando pelo heróico exemplo cubano, são revelações de que o legado do grande mestre está mais vivo do que nunca.
O caráter decisivo da acumulação capitalista, estudada como ninguém mais em “O Capital”, era negado por todo o pensamento da burguesia e pelos governos dessa classe, que afirmava que a história era movida pela paixão dos grandes homens, pelas crenças religiosas, pelos resultados de batalhas heroicas ou imprevistas contingências da história. Marx tirou a economia das catacumbas e não somente destacou sua centralidade, mas demonstrou que toda a economia é política, que nenhuma decisão econômica está despojada de conotações políticas. E mais, que não existe saber mais político e politizado que o da economia, rematando os tecnocratas, de ontem e de hoje, que sustentam que seus planos de ajuste e suas absurdas elucubrações “econométricas” obedecem a meros cálculos técnicos e que são politicamente neutras. Hoje, ninguém mais acredita seriamente nessas mentiras, nem sequer as pessoas da direita (embora se abstenham de confessar). Poderia se dizer, provocando o sorriso irônico de Marx, do além, que hoje todos são marxistas, porém à moda do Senhor Jordan, esse personagem de “O burguês Gentil-Homem”, de Molière, que falava em prosa sem sabê-lo. Por isso, quando se instalou a nova crise geral do capitalismo todos correram para comprar “O Capital”, começando pelos governantes do capitalismo metropolitano. É que a coisa era, e continua, muito grave para perder tempo lendo as bobagens de Milton Friedman, Friedrich Von Hayek, ou as monumentais sandices dos economistas do FMI, do Banco Mundial ou Banco Central Europeu, tão ineptos quanto corruptos e que por causa de ambas as coisas não foram capazes de prognosticar a crise que, como um tsunami, está arrasando o capitalismo metropolitano. Por isso, por méritos próprios e por vícios alheios, Marx está mais vivo do que nunca. O farol do seu pensamento projeta uma luz cada vez mais esclarecedora sobre as tenebrosas realidades do mundo atual.
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Marx está mais vivo e atual do que nunca. Artigo de Atílio Boron - Instituto Humanitas Unisinos - IHU