06 Janeiro 2012
"Agora cabe a nós, consumidores, aos ativistas, aos pesquisadores. Cabe a nós vigiar para que o comércio justo não se torne apenas um outro meio para melhorar a imagem das grandes corporações". Sarah Lyon é professora de antropologia da Kentucky University e uma das mais importantes estudiosas (Fair Trade & Social Justice é o trabalho mais completo sobre o assunto, 2010) desse comércio justo que, nos EUA, também foi abençoado pelo Nobel Joseph Stiglitz (Fair Trade for All, 2007).
A reportagem é de Angelo Aquaro, publicada no jornal La Repubblica, 02-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis aentrevista.
Então é verdade que os norte-americanos se divorciam da Fair Trade International só para poder fazer mais negócios com as multinacionais?
Neste momento, ainda estou esperando para ver os desdobramentos. De um lado, espero que a divisão possa servir para revigorar o movimento por meio de um debate finalmente salutar: não há só a Fair Trade, e aqui nos EUA, por exemplo, centenas atuam fora desse circuito. A diversidade é bem-vinda. De outro, tenho medo de que a medida se deva justamente ao crescente poder das multinacionais no ramo do comércio justo.
Mas a Trade Fair USA defende que só abrindo às multinacionais e rotulando como justa também a produção das grandes plantações podem ser protegidos "os últimos da Terra". Duplicando a fatia de mercado.
Eu não tenho bola de cristal e não sei se a promessa do presidente Paul Rice poderá realmente se tornar realidade. Mas sabemos que hoje o comércio justo, em muitas regiões do mundo, ainda não consegue chegar às famílias mais pobres. E por uma variedade de razões: produtos que não satisfazem os padrões para a exportação, cooperativas que não funcionam, falta de recursos para os investimentos necessários para uma produção justa e sustentável.
Portanto, a expansão do mercado poderia ser um fator positivo.
Não é suficiente. A produção atual e potencial, ou seja, a oferta, já excede muito a demanda. Em suma, não basta ampliar o mercado: é preciso, ao contrário, construir mais consciência entre os consumidores – essa é a chave para expandir os benefícios do comércio justo para uma série de produtos e, portanto, de produtores cada vez mais ampla.
E, por isso, você fala de função "guardiã" dos movimentos de opinião. E de nós, consumidores.
Exatamente. Cabe vigiar para que não se torne apenas um outro meio de marketing para o grande negócio. É preciso, ao contrário, que o movimento continue tendo como prioridade a justiça social e a redução da pobreza, em vez de simplesmente visar à qualidade e à quantidade da produção. E, sem a atenção contínua dos consumidores dos EUA, temo que a Fair Trade USA pode se concentrar cada vez mais no desenvolvimento da sua marca, em vez do crescimento do movimento.
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''Pode se tornar marketing. Os consumidores devem vigiar'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU