25 Outubro 2013
A tuberculose resistente a medicamentos tornou-se uma crise de saúde pública, declarou a Organização Mundial de Saúde ontem, com o número de pessoas diagnosticadas com a doença subindo tão rapidamente que alguns países não têm medicamentos e pessoal médico suficientes para tratar de todos os doentes.
A reportagem é de Betsy McKay, publicada no The Wall Street Journal e reproduzida no jornal Valor, 24-10-2013.
E a grande maioria - em torno de 80% - dos casos de tuberculose resistente a medicamentos ainda não foi diagnosticada, alertou a agência de saúde pública da Organização das Nações Unidas (ONU), em seu relatório anual mais recente sobre a tuberculose, afirmando que as metas para diagnosticar e tratar a doença são muito tímidas.
No geral, cerca de um terço dos casos de todas as formas de tuberculose - cerca de 2,9 milhões de casos da doença - não foi diagnosticado nem declarado em 2012, informou a agência.
Novos testes moleculares rápidos estão ajudando os médicos e autoridades de saúde pública a diagnosticar a tuberculose resistente a medicamentos de forma mais ampla e eficaz, produzindo um aumento acentuado no número de casos em 2012, relatou a OMS. Mas o aumento está sobrecarregando alguns países que não estocaram volumes suficientes de medicamentos, informou o relatório, que pede que os países que utilizam os novos testes se certifiquem de que têm medicamentos suficientes e médicos treinados para gerenciar o tratamento, que é complexo, demorado e doloroso para pacientes com casos de tuberculose resistentes a medicamentos.
"Esta é uma crise de saúde pública", disse Mario Raviglione, diretor do programa global de tuberculose da OMS. "Você não pode se dar ao luxo de fazer um diagnóstico e não ser capaz de tratar os pacientes. Consideramos isso uma questão de ética."
A OMS estima que cerca de 450 mil pessoas contraíram a MDR -TB, um dos tipos de tuberculose resistente a drogas, em 2012, e outros acreditam que a epidemia da doença é ainda mais ampla, citando estudos regionais recentes que concluíram que os níveis de tuberculose, resistente ou não a medicamentos, estão muito acima do que as autoridades inicialmente acreditavam.
Apenas uma parte desse total foi diagnosticada: 94 mil novos casos de tuberculose resistente a medicamentos e multirresistente foram diagnosticados em 2012, acima dos 62 mil casos diagnosticados em 2011, segundo informou a OMS.
Desse novo total, 77 mil pacientes receberam tratamentos com antibióticos em 2012. Os outros cerca de 17 mil foram colocados em filas de espera, disse Raviglione. Essas filas de espera podem estar crescendo este ano, disseram outros especialistas em tuberculose, à medida que os testes de diagnóstico são mais usados.
Enquanto isso, o número de pessoas diagnosticadas com a XDR-B, uma forma altamente resistente a medicamentos da doença, com poucas opções de tratamento, também aumentou bastante, para 2.230 casos em 2012, comparado com os 1.464 registrados em 2011.
Cerca de 88 países compraram novos testes moleculares, como o Xpert MTB/RIF, que pode diagnosticar a tuberculose e uma forma comum de resistência em cem minutos, o primeiro grande avanço no diagnóstico da tuberculose em mais de um século.
De acordo com a OMS, cerca de 3,2 milhões de testes Xpert MTB/RIF, fabricados pela Cepheid, uma empresa americana, foram adquiridos por estes países desde junho de 2013. A África do Sul o adotou como seu principal teste de diagnóstico de tuberculose, informou a OMS.
As listas de espera para medicamentos persistem ou estão crescendo em vários países e, em 2012, a situação era particularmente grave na África do Sul, na China e no Paquistão, onde a proporção entre o número de pacientes diagnosticados com MDR-TB e o número de pessoas recebendo o tratamento aumentou em mais de 10%, informou a OMS. Em vários países africanos, apenas 51% dos casos detectados foram incluídos em programas de tratamento no ano passado, acrescentou a agência.
A falta de pessoal médico treinado para tratar os pacientes resistentes aos medicamentos agrava problema. Os doentes precisam tomar vários medicamentos diariamente por até dois anos, segundo Lucica Ditiu, secretária executiva da Stop TB Partnership, uma rede de organizações envolvidas no tratamento da tuberculose. "Não há pessoas suficientes para administrar os medicamentos", disse ela. "Quem vai fazer isso? Quem está disponível e treinado?"
Estima-se que 8,6 milhões de pessoas contraíram tuberculose e 1,3 milhão morreram em 2012, incluindo 320 mil pessoas que foram infectadas com o HIV, o vírus que causa a Aids e torna as pessoas mais suscetíveis a contrair a tuberculose.
Embora o número estimado de novos casos por ano venha caindo constantemente há uma década, a taxa anual de declínio, de cerca de 2% ao ano, é muita lenta, afirma a OMS. Milhões de casos deixam de ser diagnosticados a cada ano. Em 2012, 31% dos casos não diagnosticados foram na Índia, disse Raviglione.
"Essa deveria ser uma doença do passado", disse Ray Chambers, representante especial da ONU para o financiamento da saúde. "Temos que encontrar esses três milhões de pessoas para testá-las e tratá-las", disse em relação aos casos não detectados de tuberculose, pedindo mais agentes comunitários de saúde capacitados em áreas rurais.
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Alta da tuberculose resistente já é crise de saúde, diz OMS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU