10 Outubro 2013
O cardeal Óscar Maradiaga, coordenador do Conselho do Papa, além de presidente da Caritas Internationalis, para explicar a "sacudida" de Francisco na Igreja, lembra que, quando se viram com Bergoglio na reunião dos bispos latino-americanos há seis anos no Brasil, "um bispo tinha trazido como contribuição desenhos de crianças chilenas do segundo ano do Ensino Fundamental: quando retratavam uma igreja, eles faziam a cruz ou o campanário, mas as portas estavam sempre fechadas, e não havia padre, ou, se havia, estava atrás", sorri.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 08-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a sacudida: "Saiam para as periferias!", que, em Lampedusa, se mostra agora na imagem do elemosineiro do papa, o arcebispo Konrad Krajewski, enviado imediatamente por Francisco para a ilha "para levar a cada sobrevivente uma ajuda consistente, para que possa prover as exigências mais imediatas", como relata o L'Osservatore Romano.
A ajuda "concreta" em dinheiro – evangelicamente, no Vaticano, não indicam as cifras – não vem de longe. Nunca se tinha visto o elemosineiro pontifício, um alto cargo na Cúria, se deslocar pessoalmente. Quando ele o nomeou em agosto, Francisco lhe disse: "Você não será um bispo de escrivaninha. Eu quero você entre as pessoas, o prolongamento da minha mão para levar uma carícia aos pobres, aos deserdados, aos últimos".
No dia 7 de outubro de manhã, Krajewski embarcou em um barco de patrulha da Capitania italiana que está recuperando os corpos do pesqueiro afundado – no mesmo dia, encontraram outros 37 corpos, fazendo as vítimas subirem para 231 [nesta quarta-feira, o número tinha subido para 302] – e confiou a cada mergulhador um rosário abençoado pelo papa.
Depois, para reconhecer a situação e as "necessidades materiais" de cada um, "começando pelas crianças e mulheres", ele foi visitar os sobreviventes no centro de acolhimento "onde os leitos seriam 250, e agora os refugiados são mais de 900", explicam na diocese de Agrigento.
O papa havia convidado a abrir mosteiros e palácios para os refugiados e, na diocese, fariam isso, se não fosse a lei: "Os sobreviventes estão sendo investigados, sob custódia na prefeitura como clandestinos. Não os deixam sair do centro".
O bispo Francesco Montenegro resumiu a posição da Igreja: "A lei não funciona, a solução pode não ser a rejeição, porque é um êxodo bíblico: não se detém a história assim como não se detém o vento".
Além disso, o próprio presidente italiano, Giorgio Napolitano, disse que essas pessoas "não são migrantes, legais ou ilegais", mas sim "refugiados", o que é "outra coisa". Diante dessa "verdadeira onda de refugiados", afirmou, é preciso enfrentar "o nó do asilo político".
O governo italiano está pensando em modificar o direito de asilo. No dia 7 de outubro, uma "mesa técnica" reuniu-se no Palácio Chigi. O chefe de Estado fez referência ao Conselho de Ministros do Interior da União Europeia, que se reuniu no dia 8, em Luxemburgo, e do qual participaria o ministro Angelino Alfano para apresentar o problema à União Europeia.
Nessa quarta-feira, em Lampedusa, esteve o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso. Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, disse que é "uma pena que a União Europeia tenha deixado a Itália sozinha por tanto tempo". Nessa segunda-feira, ele participou de uma vigília em memória das vítimas em Estrasburgo, e, na sexta-feira, será recebido em audiência pelo papa: na Alemanha, o católico Die Tagespost anuncia que convidará Francisco convidar para proferir um discurso ao Parlamento europeu.
"Vergonha", disse o papa depois da hecatombe. Quando ele decidiu fazer a sua primeira viagem para aquela ilha na fronteira da Europa, no dia 8 de julho, ele denunciou "a globalização da indiferença" e exortou a Europa a não deixar os lampedusanos sozinhos.
No Ângelus, no último domingo, ele pediu uma oração silenciosa "por esses irmãos e irmãs nossos: mulheres, homens, crianças". O elemosineiro o mantém "constantemente" atualizado. Ao bispo de Agrigento, ele disse: "Estamos próximos de vocês, com as orações e também fisicamente".
Nessa segunda-feira, Francisco enviou uma mensagem via Twitter: "A misericórdia é a verdadeira força que pode salvar o homem e o mundo do pecado e do mal".
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Uma ajuda do papa em dinheiro aos migrantes sobreviventes de Lampedusa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU