10 Agosto 2013
"Oi, Michele, é o Papa Francisco". Na quarta-feira passada, o papa pegou o telefone e ligou para Pesaro, na Itália, para falar diretamente com Michele Ferri, 51 anos, irmão de Andrea, o empresário dono de alguns postos de gasolina morto de forma cruel na rua há dois meses, na noite do dia 3 de junho.
A reportagem é de Franco Elisei, publicada no jornal Il Messaggero, 09-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um crime que marcou a família e o próprio irmão, uma ferida que não cicatriza: Michele, de 40 anos, está em uma cadeira de rodas há anos, e Andrea era um ponto de referência importante. Michele escolheu o silêncio, mas o sofrimento ainda é presente, a ponto de deixar um traço no seu perfil no Facebook: "Quanto mais o tempo passa, mais a dor aumenta", escreveu ele no dia 22 de junho e, novamente, no dia 17 de julho, ele acentuou o seu drama: "Eu sempre te perdoei tudo. Desta vez não, Deus, desta vez eu não te perdoo".
E foi provavelmente nesse momento que ele decidiu escrever uma carta em um instante, confiá-la à esperança e endereçá-la ao Papa Francisco. Depois, esperou.
Na quarta-feira, o telefonema, impossível de acreditar. Ou, melhor, ele pensou em um trote, em um engano. Mas não, não é possível ser tão cruel. E, assim, a incredulidade se transformou em emoção, comoção. Extraordinária, assim como foi extraordinário o telefonema.
O diálogo com o Papa Francisco permanece guardado em silêncio. Ferri não quis acrescentar nenhum outro comentário. Sabe-se apenas que o papa, depois, quis falar também com a mãe. "É um fato pessoal, que preferimos mantê-lo assim", limitou-se a informar a mulher, Loretta, pelo interfone da casa.
Silêncio sobre os conteúdos, mas não sobre a característica extraordinária do evento, contida em apenas duas linhas que, mais uma vez, Michele Ferri confia às redes sociais digitais, como que buscando compartilhar com os outros essa alegria inesperada, mas sem revelar os seus segredos mais íntimos: "Hoje recebi um telefonema inesperado... Ao meu 'Alô?', respondeu-me uma voz dizendo-me: 'Oi, Michele, é o Papa Francisco...', uma emoção única".
E ainda: "Ele me disse que chorou quando leu a carta que eu lhe escrevi". E aos amigos surpresos, ele acrescentou, quase querendo se defender: "Eu me esqueci de perguntar se ele queria dar um pulo em Pesaro".
O pároco
"Eu não sabia nada sobre a carta ao pontífice", explicou o padre Mario Amadeo, pároco da igreja de Soria, um bairro de Pesaro, que conhece bem toda a família Ferri e que, no dia 8 de junho passado, celebrou o funeral de Andrea com uma homilia tocante.
"Rosi, a mãe de Michele – continua – apenas me informou do telefonema na mesma noite". Depois, preferiu não dizer mais nada, exceto ressaltar a natureza extraordinária e a profundidade do gesto: "Um ato muito bonito que testemunha a bondade e a grandeza desse pontífice".
Um pontífice que, no Vaticano, deu instruções precisas para a sua secretaria: pediu para ver todas as cartas particularmente significativas para responder pessoalmente. Escrevendo de próprio punho ou telefonando diretamente.
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Um telefonema inesperado: ''Oi, Michele, é o papa'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU