27 Junho 2013
Publicamos aqui a poesia de Thomas Merton, presente no livro Brucia, invisibile fiamma (Ed. Qiqajon), 140 poesias para cada festa e tempo litúrgico dos maiores poetas do nosso século para acompanhar a meditação cristã com a beleza.
O texto foi publicado no blog Sperare per Tutti, 24-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a poesia.
Agora onde as colinas de Languedoc estão azuis com vinhedos
Nadando para as margens dos baixos cumes castanhos como conchas,
Um milhar de vilarejos começam a nomear a tua noite com fogueiras.
As chamas que acordam tão grandes como a fé,
Abrindo seus olhos ferozes e inocentes de colina em colina
No anoitecer de meados do verão,
Ardem nas eternas encruzilhadas
Estas suas fogueiras pagãs e convertidas.
E os feixes escuros da formosa colheita de verão
Levantam-se nos campos profundos
Onde há dois mil anos, São João,
Tuas fogueiras são jovens entre nós;
Elas gritam, lá, como o teu testemunho no deserto,
Pelos olivais cinzas,
Pelas encruzilhadas das estradas dos vinhedos
Onde uma vez os feixes de trigo choraram sangue
Alertando para as foices dos maniqueístas.
E nos nossos corações, aqui, em outra nação
Está pronta a tua profunda noite de meados do verão.
É uma noite de outras fogueiras,
Em que todos os pensamentos, todos os destroços do mundo barulhento
Nadam para fora do conhecimento como folhas vivas ou como fumaça sobre as piscinas de vento.
Oh, ouve essa escuridão, ouve essa escuridão profunda,
Ouve esses mares de escuridão em cujas margens nós estamos e morremos.
Agora podemos ter a ti, paz, agora podemos dormir em tua vontade, doce Deus da paz?
Agora podemos ter a Tua Palavra e nela repousar?
Profeta e eremita, grande João Batista,
Tu que nos trouxeste para a soleira do teu deserto,
Tu que conquistaste para nós
O primeiro tênue sabor do abandono do mundo:
Quando poderemos comer as coisas que mal provamos?
Quando poderemos ter o santo favo de mel da tua própria vasta solidão?
Tu tens em tuas duas mãos, ah!, mais do que o Batismo:
Os frutos e as três virtudes e os sete dons.
Esperamos a tua intercessão:
Ou devemos morrer sem a misericórdia à beira dessas margens impossíveis?
Acenda, acenda neste deserto
Os rastros dessas fogueiras maravilhosas:
Purifica-nos e guia-nos na nova noite, com o poder de Elias
E encontra para nós os cumes do amor e da oração
Que a Sabedoria quer de nós, oh amigo do Noivo!
E leva-nos para as tendas secretas,
Os sagrados, inimagináveis tabernáculos
Que ardem sobre as colinas do nosso desejo!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A noite de São João. Poesia de Thomas Merton - Instituto Humanitas Unisinos - IHU