10 Junho 2013
Às 11h45 da manhã do dia 7 de junho, na Sala Paulo VI, o Santo Padre Francisco recebeu em audiência os estudantes das escolas geridas pelos jesuítas na Itália e na Albânia, com os seus professores e pais. Também estiveram presentes no encontro inúmeros ex-alunos, representantes dos movimentos juvenis inacianos e de paróquias ligadas aos jesuítas.
A nota é do sítio da Santa Sé, 07-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois dos discursos de alguns professores e alunos, o papa tomou a palavra e, no início da sua intervenção, disse que dava por lido o seu discurso por ele preparado e que o entregaria para publicação. De sua parte, faria espontaneamente uma breve síntese dele e depois ouviria as perguntas dos jovens, a fim de tecer um diálogo com eles.
Publicamos o texto do discurso que havia sido preparado pelo Santo Padre.
Eis o texto.
Queridos filhos, queridos jovens!
Estou contente por receber vocês com as suas famílias, os educadores e os amigos da grande família das Escolas dos Jesuítas italianos e da Albânia. A todos vocês a minha afetuosa saudação: bem-vindos! Com todos vocês eu me sinto verdadeiramente "em família". E é motivo de particular alegria a coincidência deste nosso encontro com a solenidade do Sagrado Coração de Jesus
Gostaria de lhes dizer, acima de tudo, algo que se refere a Santo Inácio de Loyola, o nosso fundador. No outono de 1537, indo a Roma com o grupo dos seus primeiros companheiros, ele se perguntou: se nos perguntarem quem somos, o que responderemos? Foi espontânea a resposta: "Diremos que somos a 'Companhia de Jesus'!" (Fontes Narrativi Societatis Iesu, vol. 1, pp. 320-322). Um nome comprometedor, que queria indicar uma relação de amizade muito estreita, de afeto total por Jesus do qual queriam seguir os passos. Por que eu lhes conto esse fato? Porque Santo Inácio e os seus companheiros haviam entendido que Jesus lhes ensinava a como viver bem, como realizar uma existência que tem um sentido profundo, que doe entusiasmo, alegria e esperança; eles haviam entendido que Jesus foi um grande mestre de vida e um modelo de vida, e que não apenas ensinava a eles, mas também os convidava a segui-lo nesse caminho.
Queridos jovens, se agora eu lhes fizesse a pergunta: por que vocês vão para a escola, o que vocês me responderiam? Provavelmente, haveria muitas respostas, dependendo da sensibilidade de cada um. Mas eu penso que tudo poderia se resumir dizendo que a escola é um dos ambientes educativos em que se cresce para aprender a viver, para se tornar homens e mulheres adultos e maduros, capazes de caminhar, de percorrer a estrada da vida. Como a escola ajuda vocês a crescer? Ela lhes ajuda não apenas desenvolvendo a inteligência de vocês, mas também por meio de uma formação integral de todos os componentes da personalidade de vocês.
Seguindo o que Santo Inácio nos ensina, na escola, o elemento principal é aprender a ser magnânimos. A magnanimidade: essa virtude do grande e do pequeno (Non coerceri maximo contineri minimo, divinum est), que nos faz olhar sempre para o horizonte. O que quer dizer ser magnânimos? Quer dizer ter o coração grande, ter grandeza de alma, quer dizer ter grandes ideais, o desejo de realizar grandes coisas para responder ao que Deus nos pede, e justamente por isso fazer bem as coisas de todos os dias, todas as ações cotidianas, os compromissos, os encontros com as pessoas, fazer as pequenas coisas de cada dia com um coração grande aberto a Deus e aos outros. É importante, então, cuidar da formação humana destinada à magnanimidade. A escola não amplia somente a dimensão intelectual de vocês, mas também humana. E eu penso que, de particularmente, as escolas dos jesuítas estão atentas a desenvolver as virtudes humanas: a lealdade, o respeito, a fidelidade, o compromisso.
Eu gostaria de me deter sobre dois valores fundamentais: a liberdade e o serviço. Acima de tudo: sejam pessoas livres! O que eu quero dizer? Talvez se pense que a liberdade é fazer tudo o que se quer, ou se aventurar em experiências-limite para sentir a embriaguez e vencer o tédio. Essa não é liberdade. Liberdade significa saber refletir sobre o que fazemos, saber avaliar o que é bom e o que é ruim, aqueles que são os comportamentos que fazem crescer, o que significa escolher sempre o bem. Nós somos livres para o bem. E nisso não tenham medo de ir contra a corrente, mesmo que não seja fácil! Ser livres para escolher sempre o bem é comprometedor, mas lhes tornará pessoas que têm a espinha dorsal, que sabem enfrentar a vida, pessoas com coragem e paciência (parresia e ypomoné).
A segunda palavra é serviço. Nas suas escolas, vocês participam de várias atividades que lhes acostumam a não se fechar em si mesmos ou no seu próprio pequeno mundo, mas a se abrir aos outros, especialmente aos mais pobres e necessitados, a trabalhar para melhorar o mundo em que vivemos. Sejam homens e mulheres com os outros e para os outros, verdadeiros modelos no serviço aos outros.
Para ser magnânimos com liberdade interior e espírito de serviço é necessária a formação espiritual. Queridos jovens, amem sempre mais a Jesus Cristo! A nossa vida é uma resposta ao seu chamado, e vocês serão feliz e construirão bem a sua vida se souberem responder a esse chamado. Sintam a presença do Senhor na sua vida. Ele está perto de cada um de vocês como companheiro, como amigo, que sabe ajudar e compreender vocês, que os encoraja nos momentos difíceis e nunca os abandona. Na oração, no diálogo com Ele, na leitura da Bíblia, vocês descobrirão que Ele está realmente próximo de vocês. E também aprendam a ler os sinais de Deus nas suas vidas. Ele sempre nos fala, mesmo através dos fatos do nosso tempo e da nossa existência de cada dia; cabe a nós escutá-lo.
Não quero ser muito longo, mas gostaria de dirigir uma palavra específica também aos educadores: aos jesuítas, aos professores, aos operadores das suas escolas e aos pais. Não se desencorajem diante das dificuldades que o desafio educativo apresenta! Educar não é uma profissão, mas sim uma atitude, um modo de ser; para educar é preciso sair de si mesmo e estar no meio dos jovens, acompanhá-los nas etapas do seu crescimento, colocando ao lado deles. Deem-lhes esperança, otimismo para o seu caminho no mundo. Ensinem a ver a beleza e a bondade da criação e do ser humano, que sempre conserva a marca do Criador.
Mas, acima de tudo, sejam testemunhas com a sua vida daquilo que vocês comunicam. Um educador – jesuíta, professor, operador, pai – transmite conhecimentos, valores com as suas palavras, mas será incisivo sobre os jovens se acompanhar as palavras com o seu testemunho, com a sua coerência de vida. Sem coerência não é possível educar! Sejam todos educadores; não há transferência de competências nesse campo. A colaboração, então, em espírito de unidade e de comunidade entre os diversos componentes educativos é essencial e deve ser favorecida e alimentada. O colégio pode e deve servir de catalisador, ser lugar de encontro e de convergência da comunidade educante inteira, com o único objetivo de formar, ajudar a crescer como pessoas maduras, simples, competentes e honestas, que saibam amar com fidelidade, que saibam viver a vida como resposta à vocação de Deus, e a futura profissão como serviço à sociedade.
Aos jesuítas, depois, gostaria de dizer que é importante alimentar o seu compromisso no campo educativo. As escolas são um instrumento precioso para dar uma contribuição para o caminho da Igreja e da sociedade inteira. O campo educativo, além disso, não se limita à escola convencional. Encorajem-se a buscar novas formas de educação não convencionais segundo "as necessidades dos lugares, dos tempos e das pessoas".
Finalmente, uma saudação a todos os ex-alunos presentes, aos representantes das escolas italianas da Rede de Fe y Alegria, que eu conheço bem pelo grande trabalho que realiza na América do Sul, especialmente entre as camadas mais pobres. E uma saudação particular à delegação do colégio albanense de Shkodra, que, depois dos longos anos de repressão das instituições religiosas, a partir de 1994 retomou a sua atividade, acolhendo e educando jovens católicos, ortodoxos, muçulmanos e até mesmo alguns alunos nascidos em contextos familiares agnósticos. Assim, a escola se torna um lugar de diálogo e de sereno confronto, para promover atitudes de respeito, escuta, amizade e espírito de colaboração.
Queridos amigos, agradeço a todos vocês por este encontro. Confio-vos à materna intercessão de Maria e os acompanho com a minha bênção: o Senhor está sempre perto de vocês, os levanta das quedas e os leva a crescer e a fazer escolhas cada vez mais altas "con grande ánimo y liberalidad", com magnanimidade. Ad Maiorem Dei Gloriam.
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''Sejam pessoas livres'': a audiência do papa aos estudantes das escolas jesuítas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU