Por: André | 30 Abril 2013
A decisão do governo federal de suspender a demarcação de terras indígenas no Paraná acirrou o conflito agrário nas cidades de Guaíra e Terra Roxa, no Oeste do estado. A região vive um clima de hostilidade entre produtores rurais e índios Guaranis, que reivindicam terras que consideram ser de seus ancestrais. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), existem hoje oito áreas ocupadas em Guaíra e outras cinco em Terra Roxa. Duas áreas na primeira cidade já estavam sendo demarcadas, mas tiveram os processos paralisados por ordem da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, até que outros órgãos federais, como a Embrapa, se manifestem sobre as demarcações.
A reportagem é de Denise Paro e publicada no jornal Gazeta do Povo, 17-05-2013.
A população indígena na região aumentou quase dez vezes nos últimos quatro anos, passando de 140 indivíduos em 2008 para 1.342 atualmente, agrupados em 461 famílias. Muitos deles vieram do Mato Grosso do Sul, principalmente da cidade de Japorã. Os índios vivem em situação precária e sofrem discriminação da população local.
Os produtores rurais contestam os números da Funai e dizem que há mais três áreas invadidas, de acordo com o Sindicato Rural e a Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade (ONG DIP), criada recentemente para defender os agricultores. Algumas pertencem a pequenos produtores, têm de um a três alqueires, e passam longe de ser latifúndios, como alega o grupo que defende os indígenas. Para os ruralistas, nem todos que estão nas aldeias são indígenas. “Alguns são índios, outros são paraguaios”, diz a representante do Conselho Consultivo da ONG DIP, Luciana Possan Weber.
Eles alegam que há grupos comandando os indígenas, que não têm condições de se mobilizar e estariam chegando às cidades de ônibus e caminhões. Outra acusação é que o crescimento vertiginoso da população indígena na região nos últimos anos atende a interesses do que eles chamam de “ONGs do Mal”. “Nós não temos nada contra os índios. Mas quanto mais miseráveis, mais eles são manipulados”, diz Luciana.
Coordenador técnico da Funai em Guaíra, o indigenista Diogo de Oliveira afirma que os índios não ocupam áreas produtivas. “Os índios estão em áreas insignificantes da propriedade e não atrapalham a produção.” Ele também nega que haja índios paraguaios na região. “Tem um fluxo grande de paraguaios, mas não dentro das aldeias. Nas aldeias há índios que nasceram aqui. Alguns deles têm parentes no Paraguai, mas não existe um fluxo de índios paraguaios direcionados a Guaíra”, argumenta.
Indígenas são discriminados e intimidados, acusa Funai
O clima de tensão entre o setor ruralista e a comunidade indígena repercute em Guaíra. Boa parte da população se posiciona contra os funcionários da Funai, condição que prejudica os guaranis. Jovens indígenas que frequentam a escola são marginalizados e sofrem preconceito, segundo o indigenista Diogo de Oliveira, do escritório local da Funai. “Eles são taxados como ‘invasores’ e ‘bugrinhos’”, diz.
Outra preocupação é o crescente número de suicídios entre os jovens guaranis. Somente no ano passado foram seis casos. Na cidade, carros circulam com adesivos cuja frase expressa o rechaço à Funai: “Verdade, alimento e união, base de uma nação. Confisco não”. O nome da Funai aparece com um grifo de exclusão.
Os funcionários da Funai dizem que uma série de inverdades foram criadas para colocar a população de Guaíra contra o órgão e tomar partido contra os índios. Entre as informações, infundadas segundo Oliveira, estão a desapropriação de áreas urbanas e propriedades rurais de toda Costa Oeste do Paraná, de Guaíra a Foz do Iguaçu. “Atacar os índios tornou-se um palanque político”, diz.
Gestão de crise
A prefeitura de Guaíra criou, em janeiro deste ano, via decreto, um Gabinete de Gestão de Crise para tratar do problema. À frente do trabalho, o secretário de Planejamento, Josemar Ganho, afirma que o município já conversou com a comunidade indígena e representantes do setor rural. Segundo ele, a melhor solução para o problema é os governo federal, estadual e municipal adquirirem uma área no entorno de Guaíra e dar condições de moradia aos indígenas. “A expectativa dos índios é ter qualidade de vida e uma casa para morar. O sonho é igual ao nosso, a diferença é que eles preservam a cultura e a identidade deles.” A área seria destinada apenas aos índios de Guaíra, ou seja, cerca de 960, já cadastrados pela prefeitura.
Manifestação de apoio
A Regional do Sul do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, divulgou nota em seu site para manifestar apoio aos povos Guarani e Caingangue do Paraná e denunciar o que chama de “intensa campanha contra os direitos territoriais dos índios promovida por políticos, produtores rurais e o governo do Paraná”. Segundo a nota, alguns acampamentos surgiram na década de 1980, quando os índios foram expulsos de suas terras em razão da formação do lago da usina de Itaipu. O Cimi diz que o maior culpado pela tensão na região é o governo federal.
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Disputa por terra deixa Guaíra, no oeste do Paraná, em pé de guerra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU