Por: Cesar Sanson | 13 Outubro 2014
"O fato de Dilma ter maioria de votos em estados como o Piauí merece, sim, muita reflexão, mas para perceber que o Brasil anterior aos governos Lula e Dilma não existe mais. Hoje temos mais dignidade. Pena, que quem traz tamanha carga de preconceito contra nossa região, seja justamente quem teve a oportunidade fazer diferente e preferiu apostar na velha política do combate à seca”. O texto integra Carta Pública da A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).
Eis a Carta.
A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) é uma rede de grupos de organizações da sociedade civil voltados à convivência e viabilização do Semiárido, e que reúne hoje cerca de três mil organizações localizadas em toda região. Quando a ASA foi criada, em 1999, o Semiárido se via em um contexto político e social de grande estiagem, uma questão de origem natural porém com consequências de ordem políticas e sociais relacionadas às ações focadas no “combate à seca”. Políticas que desconheciam o protagonismo dos agricultores e agricultoras, sua capacidade de produzir conhecimentos e de tomar a frente dos seus destinos.
Em decorrência das secas, a morte era comum na região, especialmente a morte de crianças. “Um genocídio praticado pelo Estado”, como afirmava o sociólogo Betinho.
As organizações da sociedade civil no Semiárido, organizadas na ASA, tiveram a coragem de lançar ao Brasil uma crítica severa e forte ao modelo de “combate à seca” montado no tripé “coronelismo, enxada e voto”, e propor ações simples, de baixos custos e eficientes para uma política pública na perspectiva da convivência com o Semiárido.
Todavia, foi nestes últimos 12 anos, nos governos Lula e Dilma, a partir dos programas “Fome Zero” e “Brasil sem Miséria”, que a ASA e suas organizações tiveram a oportunidade de propor várias ações que, assumidas hoje como políticas de governo e até mesmo como Políticas Públicas, transformam a realidade na região.
Até o final deste ano, o Semiárido chega a marca histórica de UM MILHÃO DE CISTERNAS construídas, ou seja, 16.000.000.000 (dezesseis bilhões de litros de água). Água disponível ao lado da casa de cada família. Água de qualidade para cerca de cinco milhões de pessoas.
É isso que explica o fato de - entre 2010 até o final de 2013 - o Semiárido ter atravessado a maior estiagem dos últimos 30 anos, e em alguns lugares, dos últimos 60 anos, e não ter tido nem uma só morte humana decorrente da seca, embora tenhamos nos deparado com morte de animais, dizimação de sementes e outros problemas.
Esse resultado, a ASA credita à sua própria ação e aos programas e políticas governamentais dirigidos ao Semiárido, entre os quais se pode enumerar: Bolsa Família, Bolsa Estiagem, Seguro Safra, Cisternas de Consumo Humano, Cisternas e Tecnologias Sociais para captação de água para produção, ações na perspectiva da agroecologia, assistência técnica, crédito adequado, início da política de sementes crioulas, eletrificação rural, Minha Casa Minha Vida Rural, aumento real no valor do salário mínimo, Programa de Aquisição de Alimentos - PAA, Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, abertura de escolas, Institutos Federais e campi de universidades públicas nos municípios rurais, entre muitos outros.
É justamente por constatar que a histórica realidade injusta, cruel, desumana e desrespeitosa começa a ser mudada no Semiárido, que o povo desta região se expressa majoritariamente e, por vez, maciçamente, pela continuidade do projeto político que aí está sendo construído.
Neste contexto, a ASA repudia as afirmações de todos aqueles e aquelas que caracterizam o Semiárido e o Nordeste como lugar de povo desinformado e incapaz, desmerecem o nosso voto e expressam nos meios de comunicação seus preconceitos e desconhecimento da realidade. O fato de Dilma ter maioria de votos em estados como o Piauí merece, sim, muita reflexão, mas para perceber que o Brasil anterior aos governos Lula e Dilma não existe mais. Hoje temos mais dignidade. Pena, que quem traz tamanha carga de preconceito contra nossa região, seja justamente quem teve a oportunidade fazer diferente e preferiu apostar na velha política do “combate à seca”.
Nós, que não aceitamos mais nenhum tipo de violência, física ou simbólica, explicitamos aqui que o voto do povo do Semiárido é um voto inteligente, que expressa sua vontade, sua história e seus processos de convivência com a região. Expressam nosso direito de ampliar e consolidar políticas como as em vigor de convivência com o Semiárido que estão em vigor.
Ampliar e consolidar significa também que o processo de convivência ainda exige muitas outras ações e políticas que precisam ser assumidas pela Presidenta Dilma, a exemplos da Reforma Agrária e do reconhecimento e legalização do direito ao território de povos e comunidades tradicionais; da democratização dos meios de comunicação; do enfrentamento da monocultura; do controle e diminuição do uso indiscriminado de agrotóxicos, e outras questões que estão diretamente relacionadas à vida no campo e na cidade.
Sabedora do significado de cada uma das candidaturas, a ASA vem manifestar seu apoio ao projeto representado pela Presidenta Dilma Rousseff, conclamando a mesma a incorporar em seu programa de governo os pontos acima descritos, pois isso significaria aprofundar e explicitar mais e mais a opção pelos mais pobres, pelos excluídos e pela convivência harmônica entre pessoas e natureza.
Neste contexto, a ASA conclama todas as organizações, famílias e pessoas que aqui vivem, e que tiveram suas trajetórias mudadas nos últimos anos, a ocupar as ruas e as urnas por mais vida e mais dignidade no Semiárido.
#PeloSemiaridoDilma
Recife, PE, 10 de outubro de 2014
Articulação Semiárido Brasileiro (ASA)
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"Pelas vidas e dignidade no Semiárido, apoiamos Dilma". Carta pública da ASA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU