12 Setembro 2014
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 3, 13-17 que corresponde à Festa da Exaltação da Santa Cruz, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto.
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A festa que hoje celebram os cristãos é incompreensível e até disparatada para quem desconhece o significado da fé cristã no Crucificado. Que sentido pode ter celebrar uma festa que se chama “Exaltação da Cruz” numa sociedade que procura apaixonadamente o conforto, a comodidade e o máximo bem-estar?
Mais de um perguntará como é possível continuar ainda hoje a exaltar a cruz. Não ficou já superada para sempre essa forma mórbida de viver exaltando a dor e procurando o sofrimento? Temos de continuar a alimentar um cristianismo centrado na agonia do Calvário e das chagas do Crucificado?
São sem dúvida perguntas muito razoáveis, que necessitam uma resposta clarificadora. Quando os cristãos olham o Crucificado, não exaltam a dor, a tortura e a morte, mas o amor, a proximidade e a solidariedade de Deus que quis partilhar a nossa vida e a nossa morte até ao extremo.
Não é o sofrimento que salva, mas o amor de Deus que se solidariza com a história dolorosa do ser humano. Não é o sangue que, na realidade, limpa o nosso pecado, mas o amor insondável de Deus que nos acolhe como filhos. A crucificação é o acontecimento em que melhor nos revela o Seu amor.
Descobrir a grandeza da Cruz não é atribuir não sei que misterioso poder ou virtude à dor, mas confessar a força salvadora do amor de Deus quando, encarnado em Jesus, sai a reconciliar o mundo consigo.
Nesses braços estendidos que já não podem abraçar as crianças e nessas mãos que já não podem acariciar os leprosos nem abençoar os doentes, os cristãos “contemplam” Deus com os Seus braços abertos para acolher, abraçar e sustentar as nossas pobres vidas, quebradas por tantos sofrimentos.
Nesse rosto apagado pela morte, nesses olhos que já não podem olhar com ternura as prostitutas, nessa boca que já não pode gritar a Sua indignação pelas vítimas de tantos abusos e injustiças, nesses lábios que não podem pronunciar o Seu perdão aos pecadores, Deus nos revela como em nenhum outro gesto o Seu amor insondável à Humanidade.
Por isso, ser fiel ao Crucificado não é procurar cruzes e sofrimentos, mas viver como Ele numa atitude de entrega e solidariedade, aceitando se necessário a crucificação e os males que nos podem ocorrer como consequência. Esta fidelidade ao Crucificado não é de dor, mas de esperança. A uma vida “crucificada”, vivida com o mesmo espírito de amor com que viveu Jesus, só lhe espera a ressurreição.
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Olhar com fé o crucificado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU