Por: Jonas | 05 Agosto 2014
Uma equipe multidisciplinar formada por antropólogos, fotógrafos forenses e arqueólogos do Serviço Médico Legal (SML), e o pessoal da Brigada de Direitos Humanos e do Laboratório de Criminalística da Polícia de Investigadores (PDI) estão trabalhando em cinco fossas – de uns dois metros de profundidade –, após a descoberta de diversos restos humanos em um terreno localizado nas proximidades do Regimento Tejas Verdes, na comuna de Santo Domingo, Região de Valparaíso, a uns 120 quilômetros de Santiago.
A reportagem é de Christian Palma, publicada por Página/12, 02-08-2014. A tradução é do Cepat.
Os especialistas também procuram cápsulas de balas ou outros objetos que possam servir para determinar a data de morte dos corpos encontrados, ao mesmo tempo em que se espera a confirmação científica, que será realizada nos laboratórios dos Estados Unidos.
“Não sabemos ainda se são restos arqueológicos ou se são vítimas da ditadura civil-militar, mas é uma demonstração de que este não é um assunto do passado, é um assunto do presente e que tem a ver com a busca da verdade e a justiça”, declarou à imprensa local o diretor do SML, Patricio Bustos, após confirmar a descoberta.
“São restos humanos, ainda não se precisou a data”, acrescentou Bustos pela rádio Cooperativa, afirmando que os ossos “correspondem a várias pessoas”.
Segundo fontes judiciais, as escavações começaram na última segunda-feira, a uns dez quilômetros ao sul da localidade de Santo Domingo, por ordem da juíza especial Marianela Cifuentes, que tem sob a sua responsabilidade a investigação do caso conhecido como Tejas Verdes, nome de um recinto militar que abrigava a Escola de Engenheiros do Exército. As ossadas apareceram durante alguns trabalhos na rede de água potável urbana, em Las Brisas, local que antigamente correspondia a uma propriedade com o mesmo nome.
Agências de notícias apontaram que a escola era dirigida, em 1973, pelo então coronel Manuel Contreras, que utilizou suas instalações para conceber e criar a Direção de Inteligência Nacional (DINA), a polícia secreta do ditador Augusto Pinochet. Além de formar os agentes, a escola foi utilizada como centro de torturas a prisioneiros políticos.
Conhecida a notícia, a presidente do Agrupamento de Familiares de Detidos-Desaparecidos (AFDD), Lorena Pizarro, instou à calma. Recordou que em diferentes ocasiões foram anunciadas descobertas similares e que, ao final das análises, não foram conseguidos resultados positivos para os familiares. “Foi uma tortura permanente”, disse a dirigente em rádios locais.
Durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), cerca de 3.200 chilenos morreram nas mãos de agentes do Estado, dos quais 1.192 aparecem como detidos-desaparecidos, segundo números oficiais.
Manuel Contreras, o fundador e chefe da DINA, está preso, convicto das penas que somam quase 400 anos de prisão, após ser condenado em dezenas de casos de violações dos direitos humanos, junto com outros que fizeram parte da direção do organismo repressivo.
Neste cenário, o comandante em chefe do exército, Humberto Oviedo, assegurou que conheceu a notícia pela imprensa, ao mesmo tempo em que descartou que se trate de terrenos que permaneceram com o exército. Além disso, afirmou que, como instituição, estão dispostos a colaborar nas investigações da Justiça.
Por outro lado, o máximo chefe militar apontou que não tem conhecimento de nenhum pacto de silêncio no interior do exército, o que consideraria lamentável, caso assim fosse. Também destacou que o exército não participa na defesa de ex-uniformizados aposentados que sejam culpados por crimes que atentem contra os direitos humanos.
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Chile. Restos humanos ao lado de um quartel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU