Por: Jonas | 21 Julho 2014
As conversas do papa Francisco com o fundador do jornal italiano La Repubblica, Eugenio Scalfari (foto), um ateu fervoroso, geram debate dentro e fora do Vaticano por sua abertura a temas-tabu, como o celibato e a pedofilia dos padres.
Fonte: http://goo.gl/5HmR03 |
A reportagem é publicada por Religión Digital, 17-07-2014. A tradução é do Cepat.
Nesta quinta-feira, a repetida presença no portal do Vaticano da primeira “entrevista” a Scalfari, publicada em outubro passado e retirada um mês depois, é um sintoma dos problemas internos que essas conversas geraram.
Para o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, são textos que não podem ser tomados como referências oficiais, já que, acima de tudo, são conversas que não haviam sido gravadas. Por essa razão, as declarações do papa não podem ser reproduzidas entre aspas, já que se baseiam na memória de Scalfari, um brilhante intelectual de 90 anos.
Que o assunto volte a se apresentar após a segunda conversa, publicada no domingo passado, é interpretado de outra maneira por alguns especialistas em assuntos do Vaticano.
“O Papa usa essas conversas para movimentar as águas e gerar debate sobre temas-chave para a Igreja contemporânea”, sustentou o vaticanista Marco Politi, em uma entrevista.
“Scalfari, por decisão própria, não se apresenta com o gravador e o Papa, por decisão própria, não revisa. Na primeira vez parecia um incidente, na segunda resultou em algo voluntário: uma técnica”, comentou.
Em sua última conversa com Scalfari, Francisco afirma que está decidido a encontrar “soluções” para o problema do celibato sacerdotal e sustenta que “há bispos e cardeais” entre os 2% de religiosos pedófilos.
Declarações que foram recebidas como uma verdadeira bomba, já que abrem duas frentes de batalha: a do celibato e a da pedofilia dentro da hierarquia da Igreja.
Para o Papa, o problema do “celibato existe, mas não é enorme. É preciso levar o tempo necessário, encontrar soluções e as irei encontrar”, segundo disse a Scalfari.
“A mensagem é que o assunto do celibato existe, que há crise de sacerdotes, porque são cada vez menos”, comentou Politi, que recordou que em muitas igrejas da África, Estados Unidos e Europa não há padre para celebrar a missa de domingo.
Trata-se da segunda vez, em três meses, que o Papa aborda o tema do celibato, que não é um dogma, mas, sim, uma regra instituída há dez séculos.
A abertura do Pontífice alimenta as esperanças dos cerca de 100.000 padres casados que existem no mundo, segundo dados da Federação Europeia de Padres Católicos Casados.
Sabe-se que na América Latina há um bom número de sacerdotes casados, mas não existem estatísticas oficiais e muitos vivem “clandestinamente” com uma parceira, inclusive com filhos, razão pela qual estão fora da “norma”.
Para alguns especialistas, uma das soluções que está sendo estudada é a de autorizar a ordenação de pessoas adultas, de comprovada fé, em geral aposentados ainda casados, que provém de movimentos católicos e que poderiam se dedicar à comunidade cristã da qual fazem parte.
“Francisco lançou um sinal provocativo. Quer estimular o mundo católico, bispos, leigos, para que apresentem propostas, gerar debate a partir da base”, explica Politi.
O método do papa jesuíta choca com o do Vaticano, que à sua maneira esclarece que uma coisa são as decisões oficiais e outra os debates, as ideias, as análises que Francisco fomenta em total liberdade.
Muito mais delicado é o tema da pedofilia dos padres.
Ao mencionar porcentagens, 2%, e incluir bispos e cardeais, o papa adverte com firmeza que não pretende acobertar ninguém.
“Na Igreja não há filhinhos de papai, quer dizer, privilegiados”, explicou na entrevista, desta vez com gravadores, concedida no avião que o conduziu, em maio, de Israel a Roma.
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O objetivo das conversas do Papa com Scalfari: provocar o debate - Instituto Humanitas Unisinos - IHU