23 Mai 2014
"Caros irmãos, já se passaram diversos anos desde a minha eleição como superior-geral da Companhia, e completei recentemente 78 anos. Considerando os anos que estão se aproximando, cheguei à convicção pessoal de que devo dar os passos necessários para apresentar a minha renúncia a uma Congregação Geral..."
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 22-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A carta do padre Adolfo Nicolás, desde 2008 o 29º sucessor do Santo Inácio de Loyola à frente da Societas Jesu, é endereçada aos 17 mil jesuítas espalhados em 112 nações do mundo. Ela anuncia o longo percurso ao término do qual, "nos últimos meses de 2016", o padre Nicolás apresentará sua renúncia à 36ª Congregação dos jesuítas, que será chamada a eleger um novo padre geral.
O evento é extraordinário, porque a Companhia de Jesus é a única ordem religiosa da Igreja em que o superior é eleito pela vida toda, como o pontífice. Por isso, o padre geral dos jesuítas era popularmente chamado de "papa negro", uma expressão que se tornou definitivamente obsoleta quando Jorge Mario Bergoglio, o primeiro jesuíta na história, tornou-se realmente bispo de Roma.
Desde que o fundador, Inácio de Loyola, em 1541, foi eleito como "prepósito geral" da recém-nascida Companhia de Jesus (a intuição do nome remonta à célebre "visão da Storta", em uma igrejinha na Via Cassia, nos arredores de Roma, em novembro de 1537), apenas duas vezes tinha acontecido que um sucessor deixasse antes da sua morte.
O primeiro caso foi quando o padre Pedro Arrupe, em 1980, em um momento de tensão com a Santa Sé, apresentou a sua renúncia a João Paulo II, que a rejeitou. Um ano depois, no entanto, Arrupe teve um derrame, e Wojtyla enviou um "delegado pessoal" seu, comissionando a Companhia de fato.
Mas o verdadeiro precedente é o do padre Peter-Hans Kolvenbach, eleito em 1983, que decidiu renunciar em 2008, aos 80 anos. A mesma escolha que foi anunciada pelo padre Nicolás, por muitos anos missionário no Japão e professor de teologia em Tóquio, eleito justamente à época.
Nos pisos superiores da Companhia, não se quer traçar paralelos com a Igreja universal, "são situações diferentes", mas, de fato, a renúncia do "papa negro" em 2008 antecipou as motivações que o papa propriamente dito, Bento XVI, usou no ano passado para a sua própria renúncia: a "ingravescente aetate", o avanço da senilidade e a consciência de que, para governar uma realidade complexa, é preciso ter as forças necessárias, mesmo que nomeado para a vida toda.
Assim, "considerando os anos que se aproximam", o padre Nicolás iniciou o percurso que levará à sua sucessão. Como jesuíta, ele fez um quarto voto (além da castidade, da pobreza e da obediência) de especial obediência ao pontífice e, portanto, informou o Papa Francisco e falou a respeito com os quatro "assistentes ad providentiam" que o ajudam no governo da Companhia (um deles é o padre Federico Lombardi), dos quais, escreve ele, "obteve a aprovação inicial".
Finalmente, ele também consultou os "provinciais", os padres que guiam as 83 províncias dos jesuítas no mundo. A renúncia do superior, de fato, deverá ser acolhida, ao menos formalmente, pela 36ª Congregação Geral. O padre Nicolás irá convocá-la no fim do ano para o fim de 2016. Os dois anos servirão para completar o "itinerário de discernimento" em vista da eleição do novo geral: em cada país, serão convocadas as "Congregações provinciais" para nomear os delegados e discutir os "postulados", as demandas em torno das questões a serem abordadas na Congregação Geral.
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A renúncia do ''papa negro'', como Bento XVI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU