23 Abril 2014
Nesta segunda-feira, o primeiro ministro David Cameron foi acusado de semear sectarismo e divisão após enfatizar, numa mensagem de Páscoa, que a Inglaterra ainda era um “país cristão”.
A reportagem é publicada pela France-Presse, 21-04-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A crítica veio numa carta aberta assinada por 55 figuras públicas, incluindo os escritores Philip Pullman e Terry Pratchett, bem como John Sulston e Harold Kroto, cientistas ganhadores do Prêmio Nobel.
Cada vez mais Cameron, membro da Igreja Anglicana, tem falado sobre suas crenças, e num artigo publicado na semana passada pediu aos cristãos para serem “mais entusiastas” a respeito da fé que possuem.
Analistas sugerem que ele esteja tentando construir pontes com a Igreja, que se opôs aos planos do governo de introduzir o casamento gay, na sequência de duras críticas feitas pelo clero sobre o impacto das medidas de austeridade tomadas pelo governo.
“Algumas pessoas acham que nesta era cada vez mais secular nós não deveríamos falar sobre tais coisas. Eu discordo completamente”, escreveu o primeiro-ministro conservador no jornal anglicano The Church Times.
“Creio que deveríamos ser mais assertivos quanto ao nosso status de país cristão, mais ambiciosos em expandir o papel de nossas organizações que têm a fé por base e, francamente, acho que deveríamos ser mais evangélicos em relação à fé que nos compele a sair por aí e fazer a diferença na vida das pessoas”.
A carta aberta, organizada pela Associação Humanista Inglesa e publicada no jornal The Daily Telegraph, contesta a afirmação de Cameron segundo a qual a Inglaterra ainda é um país cristão.
“Ficar afirmando isso constantemente promove, pelo contrário, a alienação e divisão em nossa sociedade”, diz a carta.
Lê-se também que dar destaque à contribuição social dos cristãos a despeito das demais tradições – esta contribuição também foi tema presente nas observações do primeiro-ministro – “alimenta desnecessariamente debates sectários enervantes”.
O censo inglês de 2011 descobriu que 59,3% das pessoas na Inglaterra e no País de Gales se diziam cristãs, abaixo dos 71,7% de 10 anos antes.
O número dos que afirmavam não ter religião era 25,1%, acima dos 14,8% do censo de 2001.
Cameron sempre se mostrou aberto em relação à sua fé, porém nunca foi entusiasta, seguindo a tendência dos políticos ingleses de manter suas convicções religiosas para si.
O ex-primeiro-ministro trabalhista Tony Blair era cristão devoto, mas disse que teve o cuidado de não falar abertamente sobre sua fé enquanto estava no exercício de seu mandato, porque “sempre acabamos tendo problemas quando falamos sobre isso”. Tony Blair se converteu ao catolicismo em 2007 após deixar o cargo.
Uma porta-voz de Cameron disse que o primeiro-ministro tinha deixado clara, já em dezembro de 2011, a sua opinião de que a Inglaterra era um país cristão, embora reconhecesse a importância de diferentes grupos religiosos.
“Em várias ocasiões Cameron disse ter muito orgulho de que seu país é o lar de comunidades religiosas diferentes, as quais contribuem muito para fazer o Reino Unido um país mais forte”, afirmou a porta-voz.
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Primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, criticado por chamar o Reino Unido “um país cristão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU