18 Dezembro 2015
A opressão a se explicar com o conceito de "gênero" é, acima de tudo, a do homem sobre a mulher, a ser superada com a paridade dos direitos.
A opinião é de Silvano Bert, professor do Instituto Técnico Industrial "Buonarroti", de Trento, na Itália. O artigo foi publicado no jornal Trentino, 17-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Os estudos sobre "gênero" surgiram em uma sociedade desigual, como impulso à igualdade, como luta contra as discriminações. A opressão a se explicar era, acima de tudo, a do homem sobre a mulher, a ser superada com a paridade dos direitos.
Em relação a isso, eu concordo com Michela Marzano, filósofa e parlamentar do Partido Democrático italiano, protagonista da batalha política em favor das uniões civis, e com o Pe. Aristide Fumagalli, professor da Faculdade Teológica de Milão.
Mais uma vez: o "gender" não é uma verdade absoluta e compacta. Essas posições, ao contrário, são declaradas pela filósofa como "excessivamente provocativas", e não é o diabo a ser combatido, reconhece o teólogo, mas sim "um desafio antropológico" com o qual é preciso se defrontar no respeito das regras da democracia.
O acordo, porém, termina aqui. Em Trento, os dois relatores atraem – em assembleias separadas, organizadas pela Arcigay e pela diocese – uma multidão de homens e mulheres, de jovens e idosos. Revelam competência e paixão, às quais os participantes respondem com atenção e aplausos mirados.
Para Michela Marzano, chegou o momento de atribuir ao casal homossexual os direitos de todos. Essa é reivindicação que vem à Itália também por parte das instituições europeias. Para Aristide Fumagalli, essa decisão marcaria, ao contrário, o fim da identidade sexual, um preço muito alto que seria pago especialmente pelas crianças, privadas da única relação reconfortante, aquela com os pais biológicos.
Em continuidade com o fim da estabilidade do matrimônio, endossado pelo divórcio, ele provocaria a desintegração da família natural fundada sobre a união de um homem e de uma mulher. Um verdadeiro colapso do mundo.
Como sabemos, esse também é o resultado do Sínodo dos bispos sobre a família. Sobre o tema, o Papa Francisco se expressou assim: "Eu me pergunto se a teoria do gender não é também expressão de uma frustração e resignação que visa a apagar a diferença, porque não sabe se confrontar com ela".
Não é só mal-entendido. Sobre a sexualidade e sobre a família, é uma concepção diferente da história que divide Marzano e Fumagalli. Para a filósofa, a aspiração à igualdade, apesar das diferenças, continua se aprofundando através da conquista dos direitos individuais. Para o crente, está em jogo até mesmo o projeto inicial de Deus que "homem e mulher" nos criou. Eu me pergunto: será possível resolver a questão apenas com a força dos argumentos?
A partir do público, solicitado por Piergiorgio Franceschini que coordena a noite, chegam perguntas, problemáticas, aprofundamentos para Fumagalli no âmbito psicológico, sociológico, político, até mesmo estatístico. Apenas um, insatisfeito, como sentinela, pede para usar o capacete e ir para a guerra.
Para a filósofa, não é possível fazer perguntas, Paolo Zanella promete o debate, mas o momento nunca chega. Michela Marzano, porém, como cristã a seu modo, conta, na conclusão, o encontro em Jerusalém entre o irmão homossexual e o cardeal Martini. É um momento de alta tensão que redime até mesmo um pouco a Igreja Católica.
Eu confirmo isso por experiência pessoal: talvez, para entender, precisamos encontrar na nossa rua um rapaz gay ou uma moça lésbica. Que catástrofe está ameaçando Aristide Fumagalli? A Igreja Católica começou a temer a desintegração da família e da sociedade da qual ela é o eixo, quando, sobre a onda da Revolução Francesa, instituiu-se o casamento civil.
Sentimos a mesma previsão obscura na Itália sobre o divórcio. Hoje, são os padres que aconselham o casamento no cartório, como prova de maturidade, a quem não acredita no sacramento, e nenhum bispo, que eu saiba, pensa hoje em revogar o divórcio.
Se hoje a Igreja readmite os divorciados à comunhão é porque o nosso olhar mudou justamente com a aprovação daquela lei maltratada. O Papa Francisco reconhece que a história não é (sempre) corrupção e degradação.
Quando ele denunciou fortemente que a mulher recebe menos do que os homens no trabalho, ele estava consciente de que outro papa, Pio XI, em 1931, tinha definido o "trabalho extradoméstico da mulher como 'péssima desordem' que deve ser eliminado com todo esforço".
A modernidade também é ciência, mas a Igreja, em relação à contracepção e à inseminação artificial, só vê os riscos (reais, a serem manuseados com cuidado), e não a libertação do determinismo da natureza, às vezes madrasta.
Estamos a caminho, porém, se até mesmo o documento sinodal de Trento, ao qual os leigos deram uma mão, foi intitulado pela revista Vita Trentina como um "cisma submerso". E se, no recente congresso histórico de Trento "A 50 anos do Concílio Vaticano II", não só Luigi Sandri, o relator oficial, falou de sacerdócio feminino, mas também Giovanna Camertoni, em nome do ArciLesbica.
Na saída, um professor me parou: "Eu leciono religião católica nas escolas do Ensino Médio. Se eu confidenciasse aos meus estudantes que eu sou homossexual e, portanto, não um cidadão de pleno título, a minha credibilidade de professor estaria destruída. A minha Igreja não entende isso".
O meu desejo, embora atrasado em relação ao Sínodo, seria de ouvir Michela Marzano e Cristina Simonelli em debate. Se a iniciativa fosse promovida ao mesmo tempo pela diocese e pelo Arcigay, o Auditório S. Chiara não seria suficiente.
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Gênero: o debate evoluiu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU