Por: André | 06 Novembro 2015
“Por isso, do que realmente temos necessidade não é que Francisco naufrague ou seja bem sucedido. É preciso que levemos a sério o Evangelho, que é o que Francisco quer. E os que sobram são os padres, que hoje assim como os sacerdotes daquela época, que querem ganhar e viver ao seu gosto.”
A análise é do teólogo espanhol José María Castillo e publicada por Religión Digital, 03-11-2015. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
O último escândalo, que explodiu no Vaticano, sacode aqueles que confiam no Papa. Da mesma maneira e na mesma medida em que faz desfrutar aqueles que não querem ver o Papa Francisco nem pintado. E para que não falte nenhum matiz de interesse a esta macabra história, existem aqueles que afirmam que os mesmos que levaram Bento XVI à renúncia de seu cargo, acabarão mandando o Papa Bergoglio para a Patagônia.
Eu não sei se o atual Bispo de Roma está sendo bem sucedido ou não na nomeação dos cargos de confiança para o bom governo da Igreja. O que sei com certeza é que, na longa história do cristianismo, o primeiro desorientado, no ato de nomear cargos de confiança para cuidar do dinheiro, foi Jesus de Nazaré. Ou seja, a origem dos erros – no espinhoso assunto da economia – começou no início da Igreja.
A coisa começou no dia em que Jesus escolheu os doze apóstolos. E sabemos que entre eles havia um traidor. Era Judas. Sobre este homem pensou-se, durante muito tempo, que entregou Jesus porque não estava de acordo com a bondade e o perdão que o Nazareno pregava. Judas, já se disse mil vezes, pertencia aos “zelotes”, os revolucionários daquele tempo, que queriam, a todo custo, expulsar os romanos da Palestina e ser os libertadores da opressão suportada pelo sofrido povo. Estas ideias estavam na moda nos anos 1960. Por isso, Paris ficou pasma no dia em que, em 1969, Oscar Cullmann pronunciou na Sorbonne sua famosa conferência “Jesus e os revolucionários de seu tempo”.
Hoje sabemos que tudo não passou de um alarde de imaginação. No tempo de Jesus não havia “zelotes”. Nem a história de “Iscariotes” tem nada a ver com “sicário”. Nem Judas foi o primeiro revolucionário político da histórica do cristianismo. A questão é mais simples. E tem mais a ver com o que acontece agora em todas as partes. Judas “era um ladrão” (Jo 12, 6). Um ladrão que dava umas de “socialista”, que se escandalizou quando uma boa mulher, Maria, “tomando uma libra de perfume de nardo autêntico de muito valor, ungiu os pés de Jesus” (Jo 12, 3).
Judas pôs-se, então, a defender os pobres. Como se importasse com os pobres. Na realidade, o que lhe importava era o dinheiro que, como encarregado da bolsa, tirava dela para o seu próprio proveito. Por isso, quando chegou o momento oportuno, foi direto aos sumos sacerdotes e fez-lhes uma proposta: “Quanto vocês estão dispostos a me pagar se eu o entregar a vocês?” (Mt 26, 15). Judas preparou o negócio. Mas queria “a mordida”. Como se segue fazendo até hoje. E tudo terminou do jeito que sabemos: injustiça, morte e suicídio.
E agora levamos as mãos à cabeça e aplaudimos o traidor ou pensamos que o Papa que temos vai naufragar? Nem um traidor naufraga o Papa, nem quatro fanáticos do templo que não imaginamos. Por isso, do que realmente temos necessidade não é que Francisco naufrague ou seja bem sucedido. É preciso que levemos a sério o Evangelho, que é o que Francisco quer. E os que sobram são os padres, que hoje assim como os sacerdotes daquela época, que querem ganhar e viver ao seu gosto.
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Jesus confiou em Judas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU