03 Novembro 2015
A suspeita, fundamentada, é de que, do outro lado do Tibre, os corvos voltaram a se agitar, como nos tempos do Vatileaks e do mordomo de Ratzinger. O fato é que foi descoberta a violação informática de um computador muito delicado: o de Libero Milone, 67 anos, auditor geral da Santa Sé, nomeado em junho pelo Papa Francisco.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 31-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Sala de Imprensa vaticana, na sexta-feira, não fez comentários sobre o boato antecipado na TV por Luigi Bisignani e publicado pelo jornal Il Tempo. "Neste momento, não temos nada a dizer." Mas, do outro lado do Tibre, revelam que a Gendarmeria Vaticana abriu uma investigação para descobrir quem, nas últimas semanas, tentou e, em parte, conseguiu ler os arquivos confidenciais do computador.
A denúncia
Libero Milone logo fez a denúncia à Gendarmeria. Francisco confiou a ele a tarefa de trabalhar "em plena autonomia e independência" e liderar o novo escritório que coroou a reforma das finanças e das entidades econômicas em nome da transparência e do controle.
Com base no estatuto, o escritório do auditor é a entidade incumbida da tarefa de auditar os dicastérios da Cúria Romana, as instituições a ela ligadas e as administrações que fazem parte do Governatorato da Cidade do Vaticano.
Milone trabalhou por 32 anos na empresa de auditoria e consultoria Deloitte, até se tornar diretor-executivo para a Itália. Uma tarefa muito delicada: o auditor pode controlar aquilo que considerado como oportuno e responde ao papa.
Francisco está determinado desde o primeiro dia do pontificado. Além disso, as congregações gerais que antecederam o conclave de 2013 haviam discutido sobre isso como uma espécie de mandato para o novo papa: chega de escândalos financeiros, chega de desperdício de recursos.
Computador violado
Quem violou o computador do auditor, no entanto, deixou rastros. Durante as investigações, poderiam ser apreendidos outros computadores. Teriam sido roubados textos sobre as auditorias contáveis, documentos sobre a reorganização em andamento nos dicastérios. Tudo em um momento particular, dado que, na próxima semana, anuncia-se a publicação de dois livros que prometem "documentos" inéditos, "gravações" e "cartas" diversas sobre as finanças vaticanas: Via Crucis, de Gianluigi Nuzzi, e Avarizia, de Emiliano Fittipaldi.
Tensões crescentes
Nos últimos meses, falou-se de tensões internas crescentes: a Secretaria para a Economia, liderada pelo cardeal australiano George Pell – um dos purpurados conservadores que, no início do Sínodo, escreveu ao papa uma carta na qual temia uma assembleia manipulada –, viu os seus poderes redimensionados.
Poucos dias atrás, o papa escreveu uma carta ao secretário de Estado, Pietro Parolin, na qual se dizia que "as contratações e as transferências de pessoal deverão ser efetuadas dentro dos limites das tabelas orgânicas, com a autorização da Secretaria de Estado". Se somarmos a isso as "ações de perturbação" que marcaram as três semanas do Sínodo – da carta dos cardeais ao papa até a notícia de uma doença de Francisco – entende-se o temor de que alguns queiram recriar um clima venenoso.
Do outro lado do Tibre, no entanto, expressa-se uma "grande tranquilidade". O papa e os seus colaboradores "estão determinados a fazer ordem, se necessário limpeza". E se reconhece que existem reações: "Nem todos estão contentes com essa inversão de tendência que começou com Bento XVI. Mas ela vai continuar em frente".
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Arquivos confidenciais de um computador vaticano são violados: os novos "corvos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU