24 Setembro 2015
Ainda hoje a figura de Thomas Merton pode ter um fascínio e uma atração importante para todos aqueles que estão em busca de uma unidade espiritual, fugindo da fragmentação do cotidiano.
A opinião é do sacerdote italiano Mario Zaninelli, especialista em espiritualidade e vida cristã pela Faculdade da Itália Meridional, de Nápoles. É fundador da Associação Thomas Merton Itália, reconhecida oficialmente como parte da Associação Internacional.
O artigo é uma síntese da conferência de Zaninelli no evento Torino Spiritualità, dedicada ao monge trapista estadunidense, e foi publicado no jornal Avvenire, 23-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Thomas Merton (1915-1968) é um dos mais famosos escritores de espiritualidade do século XX. Ele nasceu no dia 31 de janeiro de 1915, na França, em Prades, de um pai neozeolandês e de uma mãe norte-americana.
Este ano marca o centenário do nascimento, e a International Thomas Merton Society quis recordar e enfatizar a sua grandeza de homem espiritual, escritor, poeta e sacerdote, organizado em junho, na Bellarmine University, Kentucky, nos EUA, um congresso em que foram destacados os diversos lados do caráter e da humanidade do monge trapista.
Na verdade, não é possível encerrar em uma única perspectiva a orba enorme de volumes, cartas, diários, poesias que o padre Louis (assim ele era conhecido e chamado na Ordem Trapista) nos deixou. Aproximar-se dos escritos de Merton significa aproximar-se de uma pessoa com uma personalidade poliédrica, um "curioso buscador" da imagem Deus escondida em cada homem.
As etapas da sua vida podem ser resumidas substancialmente em três momentos fundamentais: a formação cultural primeiro em colégios franceses (Saint Antonin e Montauban), depois na Inglaterra e Oakham, e, por fim, na Columbia University, em Nova York, onde, aos 23 anos, ele recebeu o batismo, em 1938 a crisma e, em 1941, no dia 10 de dezembro, entrou na Abadia do Gethsemani, Kentucky, junto à Ordem Cisterciense da Estrita Observância, os trapistas, tornando-se sacerdote em 1949.
Não devemos esquecer que, durante o período anterior à entrada na Abadia do Gethsemani, Merton soube se distinguir também como professor de literatura inglesa na Universidade St. Bonaventure, perto de Buffalo, no Estado de Nova York.
A pertença monástica, segunda etapa fundamental da sua vida, desenvolveu-se de 1941 a 1965, onde, para além da publicação da autobiografia A montanha dos sete patamares (1948), que o tornou famoso, ele publicou livros de poesias e outros ensaios inerentes a assuntos especialmente de espiritualidade monástica.
É um período muito importante, porque Merton começou a tomar cada vez mais consciência do seu papel de monge em uma sociedade que não entende o monaquismo e a sua função: "Infelizmente, muitos acreditam que a vida contemplativa é pura e simplesmente 'clausura' e imaginam os monges como plantas de estufa cultivadas em uma vida de oração zelosamente protegida e aquecida espiritualmente. No entanto, é preciso lembrar que a vida contemplativa é, acima de tudo, vida, e que a vida implica abertura, crescimento, desenvolvimento. Encerrar o monge contemplativo em um círculo de horizontes restritos e de interesses esotéricos significa condená-lo a uma esterilidade espiritual e intelectual" (em Diário de uma testemunha culpada, 1965).
Esse é o período em que Merton lida com assuntos muito importantes como a paz, a não violência, a justiça social e a busca do diálogo inter-religioso. São os anos em que amadureceu o desejo de viver como eremita dentro dos muros do Gethsemani. Desejo que se tornou realidade em agosto de 1965. Anos decididos, densos de tomadas de posições até mesmo em relação aos seus superiores e de grandes evoluções espirituais, afetivas e sociais.
Mas a vontade de permanecer como monge até a morte caracterizaria a busca espiritual e intelectual na última etapa da vida. Em novembro de 1965, pouco antes do encerramento do Concílio Vaticano II, Merton escreveu assim: "Se a Igreja Católica dirige o olhar para o mundo moderno e para as outras Igrejas cristãs, e se talvez pela primeira vez leva seriamente em consideração as religiões não cristãs, assim como elas são, é necessário que ao menos algum teólogo contemplativo e monástico leve uma contribuição própria para a discussão. É justamente o que eu quero tentar... apresentando os problemas contemporâneos na visão pessoal de um monge. A singularidade, a existencialidade e a poeticidade da sua configuração se enquadram perfeitamente na visão monástica da vida" (Diário de uma testemunha culpada).
Nessa perspectiva coloca-se a coleção de apontamentos que Merton não teve tempo de reordenar, por causa da morte prematura em dezembro de 1968, em Bangkok, durante a viagem para o Oriente. Assim nasceu Diario Asiatico. Dagli appunti originali [Diário Asiáticos. Dos apontamentos originais], publicado recentemente pela editora Gabrielli com a corajosa decisão de deixar apenas o material inerente à viagem.
A simplificação da edição italiana de Diário Asiático nasce do desejo dos editores de evidenciarem a experiência de Merton peregrino no Oriente em busca de um maior conhecimento das religiões não cristãs e, por reflexo, para o mundo ocidental, como profeta de uma renovação monástica e da vida espiritual de cada cristão.
Parece-nos que ainda hoje a figura de Thomas Merton pode ter um fascínio e uma atração importante para todos aqueles que estão em busca de uma unidade espiritual, fugindo da fragmentação do cotidiano.
Merton tem a capacidade, com os seus escritos, de capturar a dinâmica da vida. Através da reflexão sobre algumas polaridades, como por exemplo sacro e secular, diálogo inter-religioso e cristandade, guerra e paz..., ele tem a grandeza de pô-las em "dialética", quase levando-as a uma solução existencial.
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Merton, o "curioso buscador" de Deus. Artigo de Mario Zaninelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU