23 Setembro 2015
"Estou contente que ele esteja passando tanto tempo com os nossos irmãos empobrecidos durante a sua estada neste país. Em Washington, ele vai visitar famílias sem-teto além de conferir uma iniciativa de refeições servidas por voluntários, que lançam mão de um caminhão para distribuir alimentos quentes a um grande número de trabalhadores, em sua maioria falantes de língua espanhola. Filadélfia, os presos recentemente talharam uma cadeira feita de nogueira para o papa, onde ele deverá se sentar durante o tempo em que estiver no local, uma instalação correcional. Cerca de 100 internos, familiares e funcionários da prisão e de outras da região irão se encontrar com o papa", escreve a irmã Christine Schenk, da Congregação de São José, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 17-09-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Embora particularmente eu não goste do alvoroço em torno das celebridades, eu venho seguindo com um elevado grau de interesse a visita do Papa Francisco aos Estados Unidos.
Estou contente que ele esteja passando tanto tempo com os nossos irmãos empobrecidos durante a sua estada neste país.
Em Washington, ele vai visitar famílias sem-teto além de conferir uma iniciativa de refeições servidas por voluntários, que lançam mão de um caminhão para distribuir alimentos quentes a um grande número de trabalhadores, em sua maioria falantes de língua espanhola.
Na Filadélfia, os presos recentemente talharam uma cadeira feita de nogueira para o papa, onde ele deverá se sentar durante o tempo em que estiver no local, uma instalação correcional. Cerca de 100 internos, familiares e funcionários da prisão e de outras da região irão se encontrar com o papa.
Julie Byrne, da Universidade de Hofstra, disse recentemente que Francisco está “liderando pelo exemplo”, observando a atualidade de sua visita à prisão, quando a preocupação pública sobre a superlotação e as regras estritas de condenação para infratores não violentos está ganhando espaço nos círculos políticos.
Mas o meu coração está particularmente voltado para os alunos e ex-paroquianos da escola Our Lady Queen of Angels e da paróquia (agora fechada), no bairro East Harlem, de maioria latina e negra. A maioria dos cerca de 300 alunos da escola são imigrantes cujos parcos rendimentos familiares os qualificam para receber auxílio financeira. O Papa Francisco vai se reunir com alguns alunos, bem como com imigrantes e refugiados, incluindo menores desacompanhados que vieram para os Estados Unidos.
East Harlem é uma vizinhança muito pouco afetada pela gentrificação que ocorre em outras áreas da cidade. É por este motivo que houve um enorme clamor em 2007, quando a arquidiocese de Nova York fechou a Paróquia de Our Lady Queen of Angels (Nossa Senhora Rainha dos Anjos).
“Esta região é muito pobre; há um número de crimes muito elevado”, explicou Patty Rodriguez ao The New York Times.
Rodriguez é um ex-paroquiano que ainda conduz celebrações mensais na calçada em frente à igreja oito anos depois de ter sido fechada.
“Isso era algo que precisávamos, como um farol. Outras igrejas continuam atuando aqui, mas elas não estão no meio das comunidades carentes. (...) Eu não entendo isso”.
Rodriguez e Lili Garcia – que se casou na igreja e trabalha em um salão de beleza logo em frente – esperam que a visita do papa chame a atenção para a situação da igreja local.
Espero que esta esperança se realize.
A Paróquia de Nossa Senhora Rainha dos Anjos é apenas uma das centenas de paróquias localizadas em vizinhanças empobrecidas que os bispos americanos estão optando por fechar em vez de empregar estratégias criativas para mantê-las abertas.
Situações semelhantes estão sendo vistas em outras paróquias em Nova York, assim como na Filadélfia e em Detroit.
Mas uma diocese da Pensilvânia mudou drasticamente a sua abordagem depois de fechar 69 paróquias quatro anos atrás. Na cidade de Scranton, Dom Joseph C. Bambera instalou a primeira coordenadora da vida paroquial na diocese, a Irmã Mary Ann Cody (do Imaculado Coração de Maria) na Paróquia de Our Lady of the Eucharist (Nossa Senhora da Eucaristia), em Pittston.
Educadora católica, Cody já havia trabalhado como colaboradora pastoral na paróquia. Ela irá garantir um trabalho pastoral diário na diocese. Cody é uma pessoa a quem o bispo descreve como “uma testemunha fiel, uma sábia pessoa, uma líder”. Um sacerdote irá realizar o ministério sacramental aos domingos.
Apesar das fusões que reduziram drasticamente a diocese de Scranton em um terço (hoje há 120 paróquias), o número de paróquias sem padres duplicou: de 5 em 2005 para 14 em 2015. A diocese projeta que, em 10 anos, vai haver menos de 100 sacerdotes em sua jurisdição – muito embora exista um ligeiro aumento no número de matrículas em seu seminário.
A irmã canonista Kate Kuenstler (da Congregação das Servas Pobres de Jesus Cristo) – que representou os paroquianos de Scranton em Roma quando estes protestaram contra o fechamento da igreja – aplaudiu a decisão do Bambera:
“Este bispo agora percebe que a fusão de paróquias não corrige a realidade crescente”, disse ela. “Agora, modelos alternativos de liderança estão sendo implementados. Chegou a hora de os bispos pensarem nesse sentido. (...) Infelizmente, esta sua mudança de 180 graus vem a partir da crise e não da criatividade”.
O projeto “Disciple in Mission” de Boston, também nascido num momento de crise, é outro exemplo de manter abertas as paróquias usando modelos pastorais criativos. Anunciado no final de 2012, o plano organiza as 288 paróquias de Boston em cerca de 135 “colaborativos” (collaboratives) servidos por uma equipe, que inclui um pastor, diáconos e ministros leigos. Cada paróquia mantém a sua própria integridade canônica e civil, com conselhos financeiros separados, contas bancárias, ativos e passivos. Este plano foi desenvolvido na sequência do encerramento desastroso de 65 paróquias viáveis de Boston em 2004, para pagar – pelo menos em parte – os honorários advocatícios decorrentes dos abusos sexuais clericais.
Não é coincidência o fato de o Cardeal Sean O’Malley, de Boston, fazer parte do círculo íntimo do Papa Francisco, o “Grupo dos Nove” cardeais. O’Malley é um homem de atitude pastoral que herdou a confusão Boston.
Uma notícia boa que podemos tirar desta crise agonizante de Boston pode ser a abordagem inovadora de O’Malley para, ao mesmo tempo, servir e capacitar o Povo de Deus.
“A Igreja nos convida para consistentemente convidar o nosso povo ao ministério e à missão na Igreja”, disse Bambera em entrevista recente. “Não apenas os sacerdotes, e não apenas nossos diáconos (...), mas todo o Povo de Deus”.
A minha esperança é que, quando o Papa Francisco estiver nos EUA, ele escute os fiéis de Nova York e da Filadélfia que lutam para salvar paróquias preciosas, paróquias que proporcionam esperança e estabilidade para bairros desfavorecidos.
Felizmente, Bambera e O’Malley estão finalmente lidando com a realidade.
Há também muitos outros prelados que ainda parecem ter suas cabeças enterradas na areia.
O Papa Francisco, todavia, pode mudar tudo isso. Uma nova petição em nível internacional pede a ele que diga aos bispos do mundo para que “encontrem formas criativas de manter abertas as nossas paróquias”.
Espero que ele ouça este pedido.
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“Encontrem formas criativas de manter abertas as nossas paróquias” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU