03 Agosto 2015
O protagonista do fato que estou prestes a contar se chama Mario Rossi. É um nome fantasia, e os motivos ficarão evidentes ao longo da leitura. Mario deseja que os nomes e os lugares do caso permaneçam anônimos, mas se dirige para mim, porque quer que as pessoas saibam o que lhe aconteceu.
O relato é do padre e escritor italiano Mauro Leonardi, publicado no sítio L'HuffingtonPost.it, 30-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Sr. Mario é um católico que ajuda na sua paróquia nos vários serviços de catequese. Poucos dias depois do Family Day "no gender" do dia 20 de junho, na Piazza di San Giovanni, em Roma, chegou na paróquia uma senhora que pediu o batismo da sua filha.
Até aqui, nada de mal, ao contrário, é uma festa. Mario, junto com outros agentes paroquiais, trabalhou muito na acolhida. Eles sabem que o Papa Francisco disse em meados de abril aos novos sacerdotes que o batismo nunca deve ser negado, que a Igreja não é uma alfândega, e que ele mesmo, para dar o exemplo, no início do ano, batizou filhos de casais não casados na Igreja. Mario, portanto, sabe que a senhora deve ser acolhida, e ele a acolhe.
Os sorrisos, a atenção, as perguntas e a troca de informações que se seguem são sinceros, são serenos. Mario explica que o batismo não é sobretudo um sacramento que requer uma pequena biografia-cruzada com muitas casinhas para se marcar. É um encontro com Deus, e ele sabe que esses dados – dados pessoais, endereço, telefone, e-mail – são sensíveis e ele coloca muita sensibilidade nisso.
Graças a Mario, a senhora, com muita delicadeza, entende que a menina a ser batizada é filha dela e da sua companheira. Para Mario, esse encontro se tornou uma dupla festa. Mas, quando informa os outros agentes de pastoral, esse batismo se transforma de festa da acolhida em "o caso da paróquia". "O caso" chega à mesa dos catequistas e como tal é tratado. Um caso "delicado, espinhoso".
O Sr. Mario não acredita no que está acontecendo. Ele realmente deu crédito ao papa, e agora não se explica tanta dificuldade, tanto fechamento. Mario diz para si mesmo que é preciso compreender, que cada um tem as suas próprias labutas, e, por isso, oferece-se para continuar a levar adiante a relação. "Com a Paola – nome fictício –, eu me dou bem: se vocês quiserem, eu contínuo a preparação para o batismo."
Mas ele recebe um "não" como resposta. Mario é viúvo, foi-lhe explicado, e ele não pode ir sozinho. Casos como esses, "é preciso acompanhar absolutamente como casal". Por quê?, pergunta Mario. "É preciso dar testemunho de normalidade conjugal", respondem. É preciso o homem e a mulher contra a mulher e a mulher.
O Sr. Mario não acredita nos seus ouvidos. Ele responde que pedir o batismo para a filha não significa receber uma contraproposta de normalidade conjugal, mas significa pedir um batismo: Paola não pediu um casamento, pediu um batismo.
Mario insiste: iria lá não para ser exemplar, mas para ser amigo, daquela forma particular de amizade que é o cristianismo: amar o próximo, dar a vida. Substantivos sem atributos ou distinções: vida e próximo. Toda a vida, todo próximo. Nada de adjetivos que distinguam.
Mas, de acordo com os catequistas, ele está errado. Eles se tornam mais explícitos e explicam a Mario que, a pessoas como Paola e a companheira, "é preciso dar exemplos fortes". Por exemplo, quando Paola diz que a sua filha é "sua" porque nasceu com a inseminação artificial, Mario fez mal em escrever no formulário as suas palavras exatas: de fato, eles, os catequistas, corrigiram para "pai desconhecido".
E depois acrescentam que ele não é apto, porque é um ingênuo, e com essas pessoas homossexuais é preciso ter cuidado sobre como se fala: é preciso usar frases precisas e curtas, "porque elas gravam e mudam as suas palavras".
O Sr. Mario, ao telefone, se detém e se certifica de que eu ainda quero escrever, mesmo sendo padre. Ele diz que é importante, porque, segundo ele, "isso não é catequese, não é falar de Jesus, porque Jesus não falaria assim". Não, Mario, Jesus não falou assim.
O Sr. Mario me diz que queria ter ido, como sempre, com um pequeno pensamento para a criança a ser batizada. E, depois, com um pouco de tempo para dar. Para bater papo e se conhecer, como sempre. Para contar um pouco a vida mutuamente, como sempre. Falar do batismo dos filhos de Deus, como sempre. Tomar alguma coisa juntos, como sempre. Como sempre, como com todos, como fizeram com Mario e como Mario faz com qualquer um. Também com Paola.
Eu asseguro a Mario Rossi eu escreveria este post e lhe digo que talvez ele teve pouca sorte, que talvez coisas como as que aconteceram com ele nunca acontecem. Mas ele responde que talvez eu esteja errado, porque justamente hoje a Aleteia – um site católico, católico – coloca como primeira notícia o pedido do Papa Francisco de batizar a todos. Segundo ele, é que, depois do dia 20 de junho, para as pessoas homossexuais, batizar os filhos tornou-se ainda mais um problema, diz.
"Eu não sei", eu respondo, e, no entanto, o humor de Mario não melhora. Mario está muito triste, porque, depois que lhe tiraram esse possível batismo, ele não sabe mais nada de Paola e da sua filha. E ele teme que também elas – ela e a sua companheira – tenham mudado de ideia sobre o batismo da filha.
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Como negar o batismo da filha de uma pessoa gay, fingindo dizer que sim - Instituto Humanitas Unisinos - IHU