Por: Jonas | 31 Julho 2015
Enquanto mais de 1.500 imigrantes – alguns meios de comunicação franceses falam de 2.200 –, na terça-feira à noite, adentraram o túnel do canal da Mancha, entre a França e a Inglaterra, e no dia anterior outros tantos haviam tentado atravessar, resultando em 200 presos e um morto, a chegada de desesperados a Europa, provenientes do Oriente Médio e África, não cessa, pelo menos durante o verão europeu. E especialmente a chegada à Itália, primeiro destino de uma grande maioria deles, segundo os acordos internacionais, enquanto se decide sua condição ou não de refugiado. Na Itália, ontem, 453 migrantes chegaram salvos por um navio irlandês, que depois os conduziu a Messina, na Sicília. O barco salvo contava com 70 mulheres, 9 delas grávidas, e 60 crianças, além de 14 pessoas mortas, muito possivelmente por desidratação por causa das altíssimas temperaturas que a Europa atravessa neste momento.
A reportagem é de Elena Llorente, publicada por Página/12, 30-07-2015. A tradução é do Cepat.
Há dois dias, 1.810 pessoas haviam sido resgatadas no mar por navios de socorro da Guarda Costeira italiana e pela operação europeia chamada Tritón. Poucos dias antes, 400 refugiados haviam desembarcado em Taranto, 800 em Palermo, 468 em Pozzallo, todos locais da Sicília e sul da Itália. E os números não param por aí. Segundo a agência para os Refugiados da ONU, 137.000 pessoas – 75.000 no mesmo período do ano passado – atravessaram o Mediterrâneo nos primeiros seis meses de 2015, a maior parte deles sírios, seguidos de afegãos e eritreus. Principalmente, nos barcos que partiram da Líbia. No entanto, há quem já fale em 200.000, e em razão das condições de pobreza e de conflitos existentes no Oriente Médio e África, tudo faz acreditar que continuarão chegando.
Nesta semana, pelo menos três possíveis traficantes de seres humanos foram presos pela polícia, em meio a toda esta multidão de chegadas. Entre eles, um tunisiano de 21 anos, com quem foi encontrado um bolso secreto na roupa, disse a polícia, no qual escondia certa quantidade de dólares. Geralmente, não são os verdadeiros traficantes, mas, sim, jovens imigrantes que aceitam colaborar com os traficantes, conduzindo os barcos, com a finalidade de que tenham o preço da “passagem” diminuído, e que depois procuram passar como um imigrante a mais. Porém, muitas vezes, são denunciados por seus próprios companheiros de viagem.
As reações da direita italiana, como a Liga Norte, mas também da extrema-direita de Casa Pound, não demoraram. Não só fizeram agressivas manifestações, nestas últimas semanas, em lugares designados para o alojamento provisório dos migrantes, atirando-lhes pedras e insultando-os, mas também, ontem, por exemplo, o chefe do grupo da Liga Norte da Câmara de Deputados, Massino Fedriga, disse convencido que os imigrantes que rejeitaram a comida (sendo muitos deles muçulmanos, talvez rejeitem tudo o que contém porco), “devem ficar em jejum e ser repatriados imediatamente com chutes no traseiro”. Ao contrário, as reações das pessoas são variadas. E talvez sirvam como exemplos o de um vendedor ambulante africano, em uma praia de Bari (sul da Itália), golpeado e assaltado por um bando de italianos diante das pessoas que tomavam sol e que não fizeram nada para defendê-lo, e o de outro africano, que vendia guloseimas em uma rua de outra cidade do sul, que ao ser agredido por alguns valentões, foi defendido pelas pessoas que passavam.
Curiosamente, os próprios imigrantes estão começando a reagir. Uns 15 refugiados do Afeganistão e do Paquistão, no centro de Udine (norte da Itália), protestaram contra a Cruz Vermelha italiana que, disseram em um cartaz, “trata-nos como animais”. Em Nápoles, outro grupo de imigrantes da Nigéria, Gâmbia e Zâmbia, bloquearam algumas ruas em protesto pela falta de distribuição de alguns insumos imprescindíveis, previstos nos alojamentos para imigrantes.
Paralelamente a tudo isto, organizações de solidariedade como Tudo Muda e Novos Desaparecidos, cumpriram, assim como toda quinta-feira, uma manifestação de protesto no centro de Milão, para que “a migração seja um direito”. E a organização católica Caritas estabeleceu o lema “em agosto a solidariedade não sai de férias” (agosto na Itália é como janeiro na Argentina), convidando os italianos a acrescentar um lugar à mesa, no dia 15 de agosto, em uma celebração muito respeitada em todo o país, que comemora a Assunção da Virgem Maria, chamando um migrante para comer com a própria família.
Sobre o tema imigração, o governo do primeiro-ministro Matteo Renzi, que considera que a Europa poderia fazer muito mais, começou a fazer contato direto com governos africanos. Em sua recente visita a Moçambique, Angola, República do Congo e Eritreia, Renzi não só falou de questões econômicas de mútuo interesse, como também de migrações, procurando entender o que se pode fazer, em cada caso, para evitar movimentos massivos de gente para Europa. Os especialistas falam de dois pontos fundamentais neste sentido: acabar com as guerras e conflitos internos e ajudar esses países para que se desenvolvam economicamente. Dois objetivos que os próprios especialistas consideram não ser possível conseguir – no caso de que seja possível – imediatamente.
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Sobreviventes do Mediterrâneo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU