13 Fevereiro 2015
Uma longa procissão de carros fúnebres no cais carregando corpos sem nome dirigidos ao Porto Empedocle, na Itália, enquanto os sobreviventes, enrolados em mantas e cobertores coloridos apontam os olhos incrédulos para fora da janela daquele ônibus que finalmente vai levá-los a um porto seguro.
A reportagem é de Alessandra Turrisi, publicada no jornal Avvenire, 12-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
São a morte e a vida, que se entrelaçam mais uma vez na costa de Lampedusa, tornando visível apenas uma pequena parte da última e terrível tragédia que se consumou, segundo os muitos testemunhos dos náufragos no Canal da Sicília.
Mais de 300 corpos de africanos teriam sido engolidos pelas ondas do Mediterrâneo a mais de 110 milhas de Lampedusa, praticamente na frente da Líbia. Homens, mulheres, crianças que pagaram um "bilhete" de 650-800 de euros para os mercadores de seres humanos para ir ao encontro da morte.
As organizações humanitárias presentes em Lampedusa, engajadas dia e noite para ajudar os sobreviventes, recolhem as dramáticas histórias de quem conseguiu finalizar a travessia. Seriam quatro, no total, os botes que partiram da Líbia e que naufragaram, cada um com mais de uma centena de pessoas a bordo.
Assim, de um total de 420 pessoas que partiram – incluindo os 29 mortos congelados –, as vítimas seriam cerca de 330. É o balanço de Flavio Di Giacomo, porta-voz na Itália da OIM, a Organização Internacional das Migrações, que tem uma equipe na ilha.
"Desses quatro botes – explica Di Giacomo –, um é o que foi socorrido pela Guarda Costeira na segunda-feira, com 105 pessoas a bordo e que viu a morte por hipotermia de 29 migrantes. Outros dois botes, com 105 e 107 pessoas, naufragaram, e os nove sobreviventes no mar foram socorridos por um navio mercante, depois transferidos para um rebocador e levados para Lampedusa. O quarto bote nunca teria sido avistado, mas os sobreviventes afirmam que haveria a bordo outras 100-105 pessoas, todas desaparecidas".
Os nove jovens de Mali e do Senegal que chegaram a salvo na manhã dessa quarta-feira foram transportados para o centro de Imbriacola, onde se encontram os 76 sobreviventes salvos na segunda-feira. Um encontro comovente, de quem se conheceu nas praias perto de Trípoli, compartilhando a ansiedade e a esperança da viagem, mas que também viu a morte de perto.
"Os migrantes são todos homens jovens. A idade média é de cerca de 25 anos, provenientes de países subsaarianos, em particular Mali, Costa do Marfim, Senegal, Níger. Para alguns, a Líbia era um país de trânsito, enquanto outros trabalhavam lá há algum tempo. Na verdade, também falam um pouco de árabe. Eles contaram que foram obrigados a subir nos botes à força, ameaços com paus e armas, e despojados dos seus bens por parte dos traficantes."
"Fomos mandados embora do acampamento – contaram eles aos operadores da Save the Children, incluindo Giovanna Di Benedetto – e não podíamos voltar. Os traficantes de armas nos ameaçavam e nos disseram que as condições meteorológicas eram boas, que podíamos embarcar."
Ao contrário, na sua rota, encontraram ondas de sete e oito metros, que puseram em dificuldade até mesmo as equipes de resgate, como contam os homens da Guarda Costeira. "Os botes – conta Carlotta Sami, porta-voz do Acnur, o Alto Comissariado das Nações Unidas –, com toda a probabilidade, partiram juntos no domingo da Líbia, com um mar de força sete, sem comida nem água, navegando em condições difíceis por mais de um dia."
"O primeiro bote – contam dois sobreviventes – furou e começou a engolir água antes de ser derrubado pelas ondas do mar. O outro esvaziou e depois afundou. Nós acabamos na água e nos agarramos aos topos, enquanto os nossos companheiros tateavam."
Entre as vítimas, também crianças, segundo o relato das testemunhas: apenas três teriam se salvado. Uma delas é um menino de 12 anos não acompanhado, originário da Costa do Marfim, que desembarcou na segunda-feira em Lampedusa, junto com outros dois menores. Outros três estavam em um dos dois barcos que naufragaram: "No meu bote – conta um jovem do Mali –, havia ao menos três rapazes da Costa do Marfim, eles podiam ter não mais do que 13-14 anos. Eles também desapareceram entre as ondas".
"Estou atônito com esta nova tragédia. Não se pode morrer assim, por congelamento", diz, entristecido o padre Mimmo Zambito, pároco de Lampedusa. "O preço que Lampedusa chora mais uma vez é muito alto."
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"Embarquem, é uma ordem." Depois, o horror - Instituto Humanitas Unisinos - IHU