04 Fevereiro 2015
Mattarella, novo presidente italiano, contado por quem o conhece bem, o padre Bartolomeo Sorge: "Ele será muito eficaz, terá uma forte capacidade de exercer a persuasão moral, que é típica do papel do presidente. Depois, acho que ele irá mostrar uma grande atenção às necessidades concretas das pessoas".
A reportagem é de Roberto Zichittella, publicada no sítio da revista Famiglia Cristiana, 02-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Ter Sergio Mattarella como presidente da República é um grande presente que é feito para a Itália." Palavra do padre Bartolomeo Sorge, o jesuíta, teólogo e cientista político que, de 1985 a 1996, dirigiu, em Palermo, o Instituto de Formação Política Pedro Arrupe.
Sorge foi um dos inspiradores da "Primavera de Palermo", aquele período que, em meados dos anos 1980, levou à capital siciliana uma fermentação de iniciativas sociais, culturais e políticas para promover a legalidade em contraste com a máfia.
No sábado, 31 de janeiro, o dia em que Mattarella foi eleito presidente, o padre Sorge, que hoje vive em Milão, onde é diretor emérito da revista Aggiornamenti Sociali, encontrava-se justamente em Palermo para um congresso.
Eis a entrevista.
Padre Sorge, quando o senhor conheceu Sergio Mattarella?
Eu o conheci em Palermo, quando cheguei à capital siciliana, em meados dos anos 1980. Frequentávamo-nos muitas vezes, e eu me lembro dele como um homem totalmente íntegro, honesto, de ideias muito abertas, equilibrado. Não é um homem que se deixa arrastar pelas paixões. Nisso, Mattarella é muito diferente de Leoluca Orlando, prefeito de Palermo naqueles anos e até hoje.
Que papel Mattarella teve na "Primavera de Palermo"?
Mattarella não está entre os personagens mais nomeados daquele período, mas foi ele que traçou o caminho. Mattarella aparece pouco, é uma figura discreta. Na época, ele se manteve nos bastidores, no entanto, graças a um senso muito fino da política e a uma coragem notável também, ele conseguiu fazer mudanças importantes e levar adiante novas experiências.
Mattarella encontrou muitas resistências no partido?
Eu posso contar um episódio que remonta a 1987. Eu estava presente quando Mattarella telefonou para Ciriaco De Mita, então secretário nacional da Democracia Cristã, para ter a permissão para fazer em Palermo aquela que foi chamada de a "junta anômala", que depois preparou a Primavera de Palermo.
Por que anômala?
Porque se tratava de percorrer um caminho novo, não seguindo a solução política que se propunha de Roma um pouco em todas as cidades. Basicamente, tratava-se de manter de fora os socialistas da junta comunal para abrir a outras forças, como a Esquerda Independente, os Verdes, a lista civil da Città per l’Uomo. Era uma solução particular e audaz, que permitiria um compromisso muito sério contra a máfia.
Como foi aquele telefonema?
De Mita estava preocupado. "Você me colocam em apuros com Craxi", dizia ele, mas Mattarella, com tranquilidade, muito sereno, expunha as suas razões. O tempo acabava. Faltavam poucos minutos para o prazo de apresentação das candidaturas, e, no fim, De Mita se convenceu. "Você estão aí", disse, "façam o que acharem justo, mas tenham cuidado." E Mattarella respondeu com tranquilidade que assumiríamos as nossas responsabilidades.
Que presidente da República ele será?
Mattarella não gosta de aparecer e de falar, mas de fazer. Vai ser muito eficaz, terá uma forte capacidade de exercer a persuasão moral, que é típica do papel do presidente. Depois, acho que ele irá mostrar uma grande atenção às necessidades concretas das pessoas. De fato, ele expressou essa preocupação desde a sua primeira declaração.
Que tipo de católico é o novo presidente?
Um homem de grande coerência, que não gosta de exibir a sua fé profunda. Mattarella é um tipo à la De Gasperi, crente, mas laico na ação política. Acho que está muito alinhado com o Concílio e com os ensinamentos do Papa Francisco. Portanto, um homem com raízes profundas e apto para o tempo presente.
Mattarella é o primeiro siciliano no Quirinal. O que isso representa para a Sicília?
Para o Estado, é uma coisa enorme ter como presidente o irmão de uma vítima da máfia. Depois, o fato de que a Itália tenha dois sicilianos nos mais altos cargos do Estado, Sergio Mattarella e Pietro Grasso [presidente do Senado italiano], é um reconhecimento de que a ilha estava à espera e pode ser um estímulo para tantos bons sicilianos que, talvez, se sentiram um pouco postos de lado. A Sicília é uma terra generosa, que sabe nos dar homens de grande qualidade.
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Mattarella, um presidente ''muito alinhado com o Concílio e com os ensinamentos de Francisco''. Entrevista com Bartolomeo Sorge - Instituto Humanitas Unisinos - IHU