09 Janeiro 2015
Já não é segredo que a América Latina é uma prioridade para a China. Depois de uma década em que as visitas de Estado se sucederam de forma ininterrupta em ambos os lados do Pacífico e o comércio bilateral disparou, o gigante asiático quer agora firmar sua presença no subcontinente e tornar-se um ator decisivo em seu desenvolvimento, não só econômico, mas também também político.
A reportagem é de Xavier Fontdeglòria, publicada pelo jornal El País, 07-01-2015.
O próximo passo em seu processo de aproximação da região é o fórum ministerial entre a China e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que acontece em Pequim na quinta-feira e na sexta-feira. Essa nova plataforma multilateral foi criada em julho passado durante a última visita do presidente Xi Jinping à região e representa, para a China, uma via de diálogo com 33 países sem a presença dos Estados Unidos.
“O fórum fortalece e amplia nossa interlocução com a China como potência global e segunda economia mundial. Compartilhamos a vontade de impulsionar iniciativas em campos como o diálogo político, a atração de investimentos e a promoção do comércio e do turismo em benefício da região em seu conjunto”, explica Julián Ventura, embaixador do México na China.
Da reunião sairá o plano de cooperação entre a China e a Celac para o período 2015-2019, pelo qual a China aportará até 35 bilhões de dólares (97 bilhões de reais) por meio de vários fundos para o financiamento de projetos de infra-estrutura e desenvolvimento na região. As condições para a concessão desses empréstimos e seu destino também serão temas a debater no encontro. “Queremos que o investimento não se dirija somente à exploração de recursos naturais, mas se oriente também para âmbitos como o desenvolvimento industrial ou do conhecimento”, explica Juan Miguel Miranda, chefe de chancelaria da embaixada do Peru na China.
A plataforma representa, para a China, uma via de diálogo com 33 países sem a presença dos Estados Unidos
Embora o comércio bilateral entre a China e os membros da Celac tenha praticamente multiplicado por dez em uma década (Pequim é o segundo parceiro comercial da região depois dos Estados Unidos, com um volume de 260 bilhões de dólares), o padrão continua o mesmo: a América Latina vende matérias primas e recursos energéticos e o gigante asiático envia produtos manufaturados. A China pretende dobrar a cifra para 500 bilhões na próxima década. “Serão necessários muitos esforços para alcançar essa meta, já que o comércio já não cresce tanto como em anos anteriores devido à crise econômica”, considera Xu Shicheng, pesquisador do Instituto da América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS). Equador, Venezuela, Chile e Peru são alguns dos países com forte dependência comercial da China, que se evidenciou depois da desaceleração da segunda economia, a queda dos preços das matérias primas, especialmente do petróleo.
Apesar do desequilíbrio comercial, a China se vangloria de manter com a região relações “baseadas na igualdade, no benefício mútuo e na inclusão”, conforme explicou em entrevista coletiva o diretor geral do departamento para a América Latina e o Caribe do ministério de Relações Exteriores chinês, Zhu Qingqiao. Também encorajou os países da Celac a “usar ativamente” os 35 bilhões de dólares que o gigante asiático porá sobre a mesa, incluídas aquelas nações – 12 ao todo, a maioria centro-americanas – que participarão do fórum, mas não têm relações diplomáticas com Pequim, e sim com Taipé: “Todos os membros da Celac podem solicitar o uso desses recursos”, ressaltou.
Xi Jinping será o encarregado de pronunciar o discurso inaugural das jornadas, lideradas pelo ministro chinês de Relações Exteriores, Wang Yi, do Comércio, Gao Hucheng, e o presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Xu Shaoshi. Os presidentes da Costa Rica, Luis Guillermo Solís, e Equador, Rafael Correa, estarão acompanhados de uma vintena de chanceleres de toda a região. Soma-se ainda a visita – anunciada de última hora – do líder venezuelano Nicolás Maduro, cuja chegada a Pequim é interpretada como uma tentativa de conseguir outra linha de crédito para socorrer uma economia que sofre com o desabamento dos preços do petróleo.
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China reforça sua presença econômica nos países da América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU