17 Julho 2015
"Nesse registro, a democracia gerencial não está isenta de 'inimigos': seu anti-Cristo serão todos aqueles que desafiam um regime de imperialidade de corte governamental" afirma o filósofo.
Imagem: brasildefato247.com |
Para Karmy, é evidente a crise de legitimidade dessa democracia gerencial, que paradoxalmente é isenta da categoria de “povo”, que, segundo o projeto geo-eco-nômico, foi substituído por “população”. “Na minha perspectiva, as revoltas árabes, talvez, são o paradigma das lutas do presente: lutas descentradas da lógica pastoral e, portanto, lutas que restituem a materialidade da potência comum”. E completa: “a indizibilidade do nosso presente nos abre uma pergunta-chave: que tipo de poder ou poderes (que tipo de formas de vida) poderiam desafiar hoje a democracia gerencial e o seu projeto geo-eco-nômico?” Karmy acentua que Agamben “desafia o paradigma ‘produtivista’ através do qual a ação política no Ocidente foi compreendida. ‘Sua pergunta não foi ‘o que fazer?’, mas ‘o que significou o ‘fazer’ no Ocidente?’. E a sua resposta é que o ‘fazer’ (a práxis) foi concebido no Ocidente como ‘oikonomia’, ou seja, como aquilo que atualmente chamamos de ‘gestão’. Por isso, a sua aposta consiste em construir uma teoria política que desloque o problema da ‘ação’ para a questão do ‘uso’. Daí que o poder destituinte pode ser concebido como uma potência anárquica, tal como, na sua época, ele foi concebido em Walter Benjamin à luz do termo ‘violência divina’.
E destaca: “Sob essa luz, talvez, pensar uma profanação da democracia gerencial signifique abrir outros sentidos do termo ‘democracia’ e, assim, dar-lhe um novo uso possível. Nesse sentido, não se trataria tanto de uma ‘democratização’ da democracia, mas sim da sua politização. Mas uma politização não remeteria, aqui, a uma ‘ação’ específica, mas a usar de outro modo aquilo que havia sido enclausurado pelo pastorado”.
Rodrigo Karmy Bolton (foto abaixo) é doutor em Filosofia pela Universidade do Chile, onde leciona e é pesquisador do Centro de Estudos Árabes da Faculdade de Filosofia e Humanidades. Suas linhas de trabalho incluem a angelologia e governamentalidade no cristianismo e no islã, seguindo os trabalhos de Michel Foucault e Giorgio Agamben, entre outros.
É autor de Políticas de la interrupción. Ensayos sobre Giorgio Agamben (Santiago de Chile: Editorial Escaparate, 2011), complicação de textos do filósofo italiano.
Rodrigo esteve no Instituto Humanitas Unisinos – IHU em 23-10-2013, quando proferiu a conferência A potência do pensamento: Giorgio Agamben leitor de Averroes, parte integrante do evento O pensamento de Giorgio Agamben: técnicas biopolíticas de governo, soberania e exceção.
A entrevista foi publicada na revista IHU On-Line, cujo tema de capa é A financeirização da vida. Os processos de subjetivação e a reconfiguração da relação ‘economia e política’
Confira a entrevista.
IHU On-Line – A partir do cenário de resistências e insurgências contra o poder político e financeiro ocorridas desde a crise de 2008, quais são as potencialidades e as fraquezas da democracia representativa?
Foto: Susana Rocca / IHU
Rodrigo Karmy - Acima de tudo, eu problematizaria o termo “democracia” como um conceito que tem sido apropriado pela racionalidade econômica-gerencial contemporânea e que a situa como a forma última de todas as formas políticas, a forma das formas, a metaforma. Por isso, parece-me que o que hoje em dia é a “democracia” deve trazer consigo o sobrenome de “gerencial” [gestional], se não quisermos confundir as coisas. Como “forma última” de todas as formas, a “democracia gerencial” se articula como um dispositivo de matriz pastoral de corte escatológico: “Querer deter a democracia — escrevia Alexis de Tocqueville [1] em A democracia na América — parecerá, então, lutar contra Deus mesmo. Então, não resta às nações outra solução que se acomodar ao estado social que a Providência lhes impõe”. Penso que a observação tocquevilliana é fundamental para compreender o núcleo propriamente teológico da democracia gerencial contemporânea: “democracia” será o nome de um poder governamental cuja expansão incondicional será tal que, segundo Tocqueville, nenhuma nação não poderá mais do que se adaptar a ele sem reservas.
Assim, os democratas acreditam que estão do lado “bom”, isto é, à direita de Deus (sendo seu Filho), gerindo a Sua glória sobre o mundo, expandindo o Seu reino através de todos os rincões do planeta. E, quando interpelados, eles parecem se perguntar, surpresos: “Por que nos odeiam tanto?”. Tal pergunta deveria ser completada dizendo: “(...) se nós trabalharmos pela sua salvação?”. Nesse sentido, a pergunta de Bush Jr. [2] perante os atentados ao World Trade Center, ou as de Hollande [3] diante dos atentados do Charlie Hebdo [4] revelam a matriz teológico-política de uma escatologia própria da Democracy, no primeiro caso, e da Republique, no segundo.
Muros diversos
Nesse registro, a democracia gerencial não está isenta de “inimigos”: seu anti-Cristo serão todos aqueles que desafiam um regime de imperialidade de corte governamental. Frente a eles, a democracia gerencial produz uma cesura interna, abrindo um exterior no seu próprio interior, tal como ocorre na adoção do apartheid como dispositivo governamental de corte global, orientado à construção de muros que dividem países, cidades, bairros ou comunidades, em zonas especiais em razão da “segurança”. Como viu Wendy Brow [5], talvez o apartheid israelense contra a população palestina e o muro construído pelos EUA na fronteira mexicana sejam os casos paradigmáticos da situação contemporânea. E, quando dizemos “paradigmáticos”, dizemos que eles são a imagem singular que ilumina o plano mais geral com que opera o poder governamental contemporâneo. O apartheid não é uma exceção à democracia gerencial, mas uma das peças mais importantes da sua administração, seu dispositivo de corte global que pode se expressar na construção de muros de vários tipos: muros de mais de nove metros, como o da Palestina, mas também muros econômicos, urbanos, policiais, militares, etc. Mas, se o poder governamental característico da nossa democracia gerencial opera dessa forma, é porque ele se articula à luz de um conjunto muito particular entre a lógica estatal-nacional e a lógica econômico-gerencial, graças ao dispositivo teológico de corte pastoral que aparece como uma figura do passado, que atua como a figura do nosso presente.
Projeto geo-eco-nômico
Não há um “engano” aqui, não há um “atrás” ao qual se possa apelar, mas a consumação da própria racionalidade governamental que opera a partir das superfícies e que produzirá um fora interno, um “inimigo interno” (assim como a Escola das Américas acostumou o nosso continente) que já não luta contra o Estado-nação em particular, mas contra a “humanidade” em geral, com a qual a atual democracia se identificará. Por isso, o “inimigo” vai se converter em um “inimigo da humanidade” que, sendo a atualização da antiga figura do “bárbaro” da era greco-latina, a nomenclatura gerencial contemporânea denominará de “terrorista”: seu poder de morte, último reduto da soberania estatal-nacional, se monta agora sobre a lógica econômico-gerencial, exercendo o antigo poder de morte a partir do novo conjunto neoliberal.
Eu chamaria isso, provisoriamente, como aquilo que está em jogo no projeto geo-eco-nômico da democracia gerencial que pretende:
1) converter a potência do comum em “população” (como na era westefaliana [6] se transformou a “multidão” na figura unívoca do “povo”); e
2) articular-se como o novo nómos [7] do planeta (terra, água e ar, de uma só vez), traçando fronteiras espaciais flexíveis e porosas, a fim de coincidir com a própria dinâmica da economia global.
Geo-eco-nomia significará, pois, não só a pretensão do domínio de populações e recursos econômicos, mas também a configuração de espacialidades orientadas a articular uma ordem global (não “mundial” nem “interestatal”) baseada no paradigma da economia capitalista.
Profanação da democracia
A situação atual do mundo árabe assim o confirma: destruição do nómos operado em Sykes-Picot [8] pelo colonialismo franco-britânico (que consolida os Estados árabes da região) e, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, articulação do novo nómos “Obama” [9] que reconfigura as fronteiras, desmantela os Estados em favor de um poder governamental global e produz uma nova espacialidade com base nos novos critérios do discurso econômico: a geo-eco-nomia é o nome da nova cristandade capitalista. Nesse contexto, o que se pôs em jogo nos diversos plexos de resistências — ou, se quisermos, de desistências — foi, sobretudo, uma profanação da democracia orientada para lhe dar um novo uso e restituir a potência comum que lhe foi expropriada.
IHU On-Line – Como podemos compreender o surgimento de movimentos políticos sem líderes e apartidários?
Rodrigo Karmy - Creio que, talvez, o que está em crise é a forma pastoral que tem sido a matriz da democracia gerencial contemporânea. Os diversos plexos de resistências que se ligam globalmente puseram em xeque essa própria forma pastoral. As formas de resistência global não têm a ver com a invenção das famosas “redes sociais”. Tal tese, proliferada por um jornalismo servil às grandes transnacionais informáticas, fetichiza as “redes sociais” e, com isso, oblitera o fato de que estas não apenas existiram sempre em cada processo emancipatório, com materialidades diferentes (o papel, a pintura, os cassetes nos anos 1970-1980 e a internet hoje), mas também constituíram apenas um suporte dentre muitos outros da imaginação comum. Ao contrário do discurso “fetichista” do espetáculo midiático que propõe que “se rebelam graças a nós, que lhes oferecemos as redes sociais para fazer isso”, eu acho que cada época tem a sua “rede social”, uma vez que estas começam a trabalhar em função da imaginação comum como seu “motor”.
Os falasifa (filósofos árabes e islâmicos medievais como Al-Farabi [10] ou Averróis [11]), na sua permanente crítica à teologia da época, descobrem que a imaginação (que é a substância própria do povo) é sempre comum e tentam deslocar a teologia para conciliar a filosofia com a religião (é o caso de Averróis, que dizia que a filosofia e a religião estavam destinadas a “se amar mutuamente”). Mas o que acabou acontecendo é que, uma vez que o Ocidente se “arabizou” com a penetração da filosofia peripatética e, por sua vez, condenou teologicamente certos aspectos da filosofia acusada de “averroísta”, a modernidade consumou o movimento contrário: excluiu a religião (o campo da imaginação comum) e incluiu a teologia (o dispositivo que reduz a imagem na forma-signo), perpetuando, assim, o reino teológico nas diversas formas entre as quais a sociedade do espetáculo constitui uma das suas expressões mais decisivas. Assim, a época moderna poderia ser concebida como a destruição da imaginação comum em favor da sobrecodificação do signo.
Potência do pensamento
Por isso, os diferentes plexos de resistências se ligam pela imaginação comum, que, longe de ser uma faculdade, se explicita como uma forma de fazer da experiência da política uma política da experiência, que dança na medialidade da potência comum e que vai encontrar o seu suporte nos diferentes tipos de “redes sociais” produzidas historicamente.
Pois bem, para todos já é evidente a enorme crise de legitimidade da democracia gerencial. Uma democracia paradoxalmente isenta da categoria de “povo”, que, segundo o projeto geo-eco-nômico, foi substituído pela “população” (pouco se fala do “povo palestino” como sujeito de resistência, por exemplo, e muito da “população palestina”, objeto de ajuda humanitária).
Nesse panorama, parece-me preciso restituir a função fantológica da filosofia, seguindo o rastro da falsafa [12], a fim de deslocar a sobrecodificação do signo imposta pelos novos “teólogos” em favor da imaginação que se projetava na medialidade de uma potência do pensamento que era comum e separada a todos os homens. Derivada da “vida contemplativa” proposta pela ética aristotélica, a falsafa inventou a bem-aventurança como uma forma de vida que encontra a felicidade na terra. De fato, o rumor que se transmitia entre os frágeis círculos filosóficos da época do Islã clássico era de que Al-Farabi, contra os teólogos, afirmara que a ideia da vida após a morte não era nada mais do que um “conto de fadas”. Por que, então, nós, postos no “trânsito histórico” (Allende [13]) que nos é proposto pela democracia gerencial, não poderíamos inventar outra forma de vida que desafie as formas atuais do seu legado pastoral?
"O apartheid não é uma exceção à democracia gerencial, mas uma das peças mais importantes da sua administração" |
IHU On-Line – O que esses movimentos expressam sobre a política e a resistência em nosso tempo?
Rodrigo Karmy - Na minha perspectiva, as revoltas árabes [14], talvez, são o paradigma das lutas do presente: lutas descentradas da lógica pastoral e, portanto, lutas que restituem a materialidade da potência comum. Por exemplo, veja o que aconteceu no mundo árabe: as revoltas fizeram com que diversos setores atomizados pela divisão social do trabalho convergissem na Praça Tahrir. Trabalhadores, islamistas, comunistas, estudantes, feministas, idosos, jovens, etc. todos convergiram na praça Tahrir.
No entanto, desde o primeiro minuto, reagiram os dispositivos pastorais da democracia gerencial, que enfrentaram a situação, e, então, aparece a ditadura de Sisi no Egito ou do Isis no Iraque, que inverte inteiramente a lógica: a restituição do comum característico das revoltas se volta para a restauração da lógica pastoral com toda a sua violência sectária. Isso não significa que as revoltas levaram ao cenário da reação como uma “necessidade” histórica. Ao contrário, as revoltas abriram um terreno indizível em que, de uma hora para a outra, podem ser capturadas. Estamos nesse terreno indizível: entre a restituição do comum por parte de um poder revocatório e a permanente renovação e restauração dos dispositivos pastorais em nível global. Hoje, o poder pastoral exibe toda a sua violência na permanente configuração de conflitos de “baixa intensidade” em escala global, fazendo da “guerra civil” não uma exceção na qual os Estados podem cair, mas a situação “normal” em que vivemos. No entanto, a indizibilidade do nosso presente nos abre uma pergunta-chave: que tipo de poder ou poderes (que tipo de formas de vida) poderiam desafiar hoje a democracia gerencial e o seu projeto geo-eco-nômico?
IHU On-Line – A partir da filosofia política de Agamben [15], em que medida esses movimentos sem líderes e apartidários representariam uma “política que vem” e mesmo uma expressão da “potência do não”?
Rodrigo Karmy - Giorgio Agamben, sem dúvida, foi um pensador que tentou traçar uma arqueologia da potência (nem da “biopolítica” nem da “soberania”, como alguns se apressaram a dizer). A sua reflexão em torno dela remonta aos seus primeiros trabalhos, mas encontrou na publicação do último livro correspondente à saga Homo sacer, intitulado O uso dos corpos, uma proposta sugestiva que nos convida a imaginar essa outra vida possível com base no conceito do poder destituinte.
Assim como foi a tônica ao longo do seu trabalho (inclusive muito além da saga Homo sacer), Agamben desafia o paradigma “produtivista” através do qual a ação política no Ocidente foi compreendida. Sua pergunta não foi “o que fazer?”, mas “o que significou o ‘fazer’ no Ocidente?”. E a sua resposta é que o “fazer” (a práxis) foi concebido no Ocidente como “oikonomia”, ou seja, como aquilo que atualmente chamamos de “gestão”. Por isso, a sua aposta consiste em construir uma teoria política que desloque o problema da “ação” para a questão do “uso”. Daí que o poder destituinte pode ser concebido como uma potência anárquica, tal como, na sua época, ele foi concebido em Walter Benjamin à luz do termo “violência divina”.
O poder destituinte como “interruptivo”
Agamben segue Benjamin de perto nessa consideração, situando tal “violência” (gewalt) sob a noção de um meio puro que não pode ser concebido nem como um meio para um fim, nem como um fim em si mesmo, mas como uma potência comum, tal como o antigo diáfano proposto pela noesis averroísta. Tal potência opera como um irredutível a um interior e a um exterior, a uma subjetividade e a uma objetividade, propondo-se como um terceiro lugar cuja afirmação implica uma revogação. Assim, o “poder destituinte” aqui não é um poder simplesmente “negativo”, mas “interruptivo”, não é um poder que se inscreve na dialética da fundação e da conservação da ordem, mas no da sua mais aberta deposição.
Nesse sentido, frente a uma vida formatada pelos dispositivos pastorais da democracia gerencial, o poder destituinte restitui a sua potência para abri-la a outros usos possíveis. Como em Marx [16], o termo “uso” não designa uma “propriedade”, mas precisamente o que não está sujeito a ela, a sua despossessão. O “uso” desafia a democracia gerencial desindividualizando as relações e restituindo-as ao comum, isto é, unificando aquilo que a democracia gerencial insiste em separar (a potência).
IHU On-Line – Quais são os limites e possibilidades da democracia representativa num tempo em que os dispositivos do capitalismo globalizado, do direito e da financeirização da vida parecem ter subjugado a política?
Rodrigo Karmy - Se tomarmos a democracia de acordo com aquilo que eu assinalei até aqui, é claro que esta não se apresenta como uma contenção ou alternativa ao capitalismo globalizado, mas como a sua forma política mais fiel na época contemporânea. E, efetivamente, foi no palco da democracia gerencial onde se desnudou o próprio núcleo do capitalismo: a produção incondicional da dívida. Nós vivemos o pesadelo benjaminiano: indivíduos endividados, famílias endividadas, povos endividados, Estados endividados. E um mundo endividado não pode deixar de ser um mundo capturado.
Lembremos que Walter Benjamin [17], em O capitalismo como religião, definia o capitalismo com base em três características: em primeiro lugar, o capitalismo é uma religião de culto isento de qualquer dogmática precisa; em segundo lugar, a celebração da sua liturgia não cessa jamais, não tem “nem trégua nem piedade”; e, em terceiro lugar, o capitalismo seria o primeiro caso de uma religião não expiante, mas culpabilizante. Se aquilo que aqui chamamos de democracia gerencial nada mais é do que a versão contemporânea do capitalismo, será preciso pensar a sua revogação como revogação da máquina de produção de dívida.
Profanação da democracia gerencial
Sob essa luz, talvez, pensar uma profanação da democracia gerencial signifique abrir outros sentidos do termo “democracia” e, assim, dar-lhe um novo uso possível. Nesse sentido, não se trataria tanto de uma “democratização” da democracia, mas sim da sua politização. Mas uma politização não remeteria, aqui, a uma “ação” específica, mas a usar de outro modo aquilo que havia sido enclausurado pelo pastorado.
Politizar — a partir de uma concepção agambeniana — não significaria simplesmente “atuar” (com toda a sua trilha de interpretação “produtivista”), mas “usar” os nossos corpos de outro modo. Assim, aquilo de que precisamos é politizar a nossa dívida e interromper o processo do capital. Politizar a nossa dívida (no sentido de “usá-la”) não significa necessariamente advogar por um controle estatal da economia, mas interromper os diversos mecanismos envolvidos na sua produção, restituindo, assim, a vida comum. Dessa maneira, politizar a nossa dívida e profanar a democracia são uma mesma fórmula, cuja única ênfase é traçar as condições para uma verdadeira política anticapitalista.
IHU On-Line – O que explica que o Estado, por meio do aparato jurídico, opte por salvar o sistema financeiro e condene os desalojados das hipotecas na Espanha? Qual a lógica que existe por trás disso?
Rodrigo Karmy - Eu penso que não existe nenhuma lógica “por trás” (é necessário prescindir das teorias da conspiração ou paranoicas, porque estas nada mais são do que um “louvor” encoberto ao poder). Em vez disso, a própria dinâmica da democracia gerencial impõe que o Estado se configure como um servidor dos poderes financeiros globais. Esse é um assunto-chave, especialmente para aqueles que ainda estão na ideia social-democrata de que o Estado é algo diferente do mercado: ao contrário, a época neoliberal mostrou a todo o mundo o que os economistas sempre souberam: que o capitalismo não pode existir sem Estado, porque este último é um agente decisivo na sua expansão. Por isso, parece-me, é preciso que a crítica contemple a transformação sofrida pela lógica estatal-nacional no seu conjunto serviçal, litúrgico, para com a lógica econômico-gerencial como duas facetas do mesmo problema, ingressando de frente na questão da soberania como a engenhoca teológico-política da própria acumulação capitalista que define o atual projeto geo-eco-nômico.
"A própria dinâmica da democracia gerencial impõe que o Estado se configure como um servidor dos poderes financeiros globais" |
IHU On-Line – Em que medida podemos falar de uma financeirização que atinge todos os setores de nossa vida, desde a zoé até a bios? Quais são as implicações fundamentais desse domínio econômico?
Rodrigo Karmy - Sim, penso que efetivamente se possa falar de uma financeirização da vida contemporânea. Como se, através de tal processo, o capitalismo consumasse a sua deriva pastoral ao se estender a partir de uma lógica do poder que opera a partir da imanência e que Michel Foucault [18] identificou sob o termo “governamentalidade”. Como se, através de tal processo, o pastorado alcançasse a sua maximização política ao tentar se identificar plenamente com as multiplicidades da vida.
No entanto, penso que, embora tal processo tenha uma vocação totalizante, ele jamais consegue totalizar a potência comum que define a vida. É preciso ressaltar a fissura, o ponto em que os corpos e as línguas se afastam, tornam-se opacos, estranhos uns aos outros. Se o “averroísmo” introduziu um problema pelo qual foi conjurado no século XIII latino foi precisamente o fato de ter situado a difração radical entre o vivente e o humano, entre corpos e línguas, em cujo medium dança, irredutível, a imaginação. Se a geo-eco-nomia da democracia gerencial contemporânea tenta suturar essa difração na forma da pessoa, o averroísmo insiste no irredutível da sua abertura.
Financeirização da vida
No meu trabalho Políticas de la excarnación (Buenos Aires: Unipe, 2014), propus-me a traçar uma genealogia do modo em que a lógica pastoral cristã teria encontrado no dogma da Encarnação uma solução orientada a suturar tal difração, graças à introdução do conceito de “pessoa”, que transforma a potência comum da “carne” na individualidade do “corpo”. Só em virtude do nosso ser pessoal é que podemos gerenciar o nosso corpo e fazer dele uma “força produtiva”.
Mas tal processo nunca é “total”. Nem ontem, nem hoje. Todo processo sempre envolve limites, problemas, fissuras que não pode alcançar. Não podemos, nesse sentido, “fetichizar”, em prol de uma crítica do presente, as formas com que opera a geo-eco-nomia contemporânea. E, para isso, propus a possibilidade de políticas da ex-carnação como aquelas que abrem a potência da carne. Carne é o termo que eu uso ali para designar essa “medialidade” na qual se joga uma potência comum. Ex-carnar seria se abrir à materialidade da carne que nos atravessa e que impede que nos tornemos a unidade sintética da “pessoa”. Para voltar à pergunta, eu diria que a financeirização da vida é hoje um processo permanente, mas nunca “total”, sempre limitado à fissura, à difração que ex-carna a vida em relação à forma equivalente do “dinheiro”.
IHU On-Line – Em que sentido é possível falarmos em uma outra economia num contexto marcado pela hegemonia do dinheiro e do mercado financeirizado?
Rodrigo Karmy - Quando eu dizia que a época moderna inverteu a aposta dos falasifa substituindo a religião (campo da imaginação comum) pela teologia (campo que subsume a imaginação ao signo), eu queria dar o marco sobre o qual se ergueu a forma de acumulação capitalista em geral, e o dinheiro em particular: no cenário capitalista, o dinheiro é a grande invenção teológica que só pode ocorrer graças à substituição da imaginação comum pela sobrecodificação do signo: “O dinheiro — escrevia Marx nos seus Manuscritos de 1844 —, como meio e poder gerais (...) converte as forças essenciais reais do homem e da natureza em representação puramente abstrata (...)”. Assim, a captura da potência comum em que habita a imaginação na forma-signo teria sido a condição para fazer dessas “forças essenciais reais do homem e da natureza” uma representação “puramente abstrata”.
Essa transformação teria sido o triunfo da teologia sobre a religião. Um triunfo que, tal como Marx deixa entrever, estaria possibilitado graças à transformação do dinheiro em “meio” e “poder” como a própria inversão dos termos “medium” e “potência” com que a falsafa definia a sua noesis [19].
Assim, a expulsão do “averroísmo” da Universidade de Paris em 1277, talvez, foi uma das condições históricas de possibilidade para expandir o reino do capital e consumar-se, hoje em dia, na democracia gerencial e no seu projeto geo-eco-nômico. O dinheiro capitalista, primeiro, e o caráter espectral que a cadeia sígnica da especulação financeira tem hoje em dia mostram a força do processo de abstração com que a modernidade substituiu a religião pela teologia, a imaginação comum pela razão cogitante do sujeito moderno.
Politização da dívida
A sobrecodificação do signo teve, na época capitalista, duas estratégias que atuam em paralelo: a monetização e a financeirização. Como viu Marx no Capital [20], o primeiro deixa intacta a relação fé e obra, razão pela qual ele ainda responde a um dispositivo “católico”; o segundo livra a fé da obra e responde à implementação de um dispositivo “protestante”. Essas diferenças são importantes, porque constituem duas gradações com que opera a sobrecodificação sígnica moderna, em que a importância da monetização ficou em parte subsumida à da financeirização (exatamente como se divide o mundo ocidental hoje: os países protestantes mandam, os católicos são servis aos seus interesses). Assim, o capitalismo financeiro se desdobra como uma chuva permanente de números que sobem ou baixam, que crescem ou decrescem e que brilham ameaçadores perante qualquer passo em falso que possamos dar.
Mas, nesse sentido, penso que seria possível pensar outra economia. Nisso consistiria o “passo em falso” que os drones da geo-eco-nomia farão o possível para conjurar (já fizeram isso no mundo árabe ao transformar as suas revoltas em “guerra civil”). Acima de tudo, se trataria de pensar uma economia que deixe de lado a dimensão sígnica da mudança e se conduza à dimensão imaginal do uso. A politização da dívida como aposta por um uso comum necessariamente deve envolver a transformação da economia capitalista em outra, que não passe pelo indivíduo, mas pelo comum. Talvez, isso já não deveria continuar se chamando “economia”, mas constituiria uma aneconomia. É o que Marx tentou sob a figura do comunismo e, sem dúvida, será aquilo a que nós também deveremos apontar.
Economia humana, demasiado humana
Para isso, parece-me, é necessário retomar a reflexão althusseriana em função de pensar uma economia não humanista. Ao contrário do que sempre ouvimos de que a economia capitalista é “inumana”, o problema, para mim, é que a economia capitalista é “humana, demasiadamente humana” e, precisamente por causa disso, catastrófica. A sua catástrofe está dada pelo seu humanismo. Por isso, parece-me decisivo pensar uma política e uma economia descentradas da abstração do “homem” a partir da qual percebemos a relação com as demais criaturas como modalidades de uma mesma potência comum. Sem dúvida, eu vejo aqui um “averroísta” como Spinoza [21], cuja força filosófica é chave para introduzir um desvio imanente ao projeto geo-eco-nômico da democracia gerencial contemporânea.
"A politização da dívida como aposta por um uso comum necessariamente deve envolver a transformação da economia capitalista em outra, que não passe pelo indivíduo, mas pelo comum" |
IHU On-Line – Nesse cenário de financeirização e cooptação política, qual é o impacto da biopolítica financeirista nas democracias representativas?
Rodrigo Karmy - Essa pergunta me permite elaborar um ponto que eu não desenvolvi anteriormente: aquilo que você chama de “biopolítica financeira” transforma a “democracia representativa” (que tinha no seu centro a soberania do Estado) em uma verdadeira “democracia gerencial” (que mantém sub-rogado o Estado em favor da geo-eco-nomia global). Nisso consistiria o seu impacto.
IHU On-Line – Há um nexo entre financeirização e despolitização? Caso sim, qual seria essa relação?
Rodrigo Karmy - Em termos gerais, poderíamos dizer assim: toda financeirização é uma despolitização, mas nem toda despolitização passa necessariamente por um processo de financeirização. Mas eu não estaria tão certo sobre até que ponto experimentamos uma “despolitização”: trata-se de uma “despolitização” ou de uma repolitização no novo registro de uma economia politizada? Explico-me: no cenário geo-eco-nômico em que nos encontramos, que consiste em fazer da economia o paradigma da política (de instituir um nómos econômico, por mais aporética que essa fórmula possa ser), não se trataria apenas de “despolitizar”, mas sim de deslocar o lócus clássico do político a partir da cena estatal-nacional para a econômico-gerencial: para dizê-lo brutalmente — como o próprio Salvador Allende denunciou nas Nações Unidas em 1972 —, trata-se de fazer passar a decisão soberana a partir da figura dos Estados para a nova figura das transnacionais articuladas em instituições financeiras supranacionais como o Fundo Monetário Internacional - FMI.
Dimensão política da economia
Embora Keynes [22] tenha pensado o FMI como um antídoto frente às crises, em rigor, o papel que ele desempenhou é exatamente o contrário: o FMI aceitou o núcleo endividante constitutivo da acumulação capitalista (especialmente a partir do fim dos anos 1970, em que ele foi tomado pela nova intelectualidade neoliberal). Mas, por sua vez, no marco das relações cotidianas, a versão geo-eco-nômica mais proeminente é a neoliberal, que, como se vê no meu país, substituiu o clássico laço político definido pelo direito pelo novo laço político fincado na economia: os processos de subjetivação não só ocorrem no âmbito econômico, mas também se referem a ele a cada momento.
É o que costumávamos chamar de “ideologia”, por exemplo, em seu sentido althusseriano, que designa a performance em que o indivíduo é “interpelado como sujeito”. Se pudéssemos substituir a figura do policial com a qual Althusser [23] exemplifica o processo ideológico (no início dos anos 1970), diríamos que poderíamos substituí-lo por um “promotor”: a oferta do produto se apresenta como a interpelação fundamental e, nesse sentido, como um dos mecanismos centrais de subjetivação.
A radicalidade do assunto pode ser ilustrada assim: hoje, é possível ser consumidor sem necessariamente exercer direitos cidadãos mínimos (é o caso da história chilena dos últimos 40 anos). Daí a dimensão abertamente política da economia, tanto no impacto que ela tem na mutação da soberania ao âmbito das grandes estruturas supranacionais (o FMI, a Organização Mundial do Comércio – OMC, etc.), assim como naquele que se exerce nas pequenas relações da cotidianidade.
Captura da política pela economia
Dessa forma, parece-me que uma crítica ao capitalismo contemporâneo deve ir além de denunciar o caráter “despolitizante” da democracia gerencial e mostrar como o político foi capturado pelo econômico, a ponto de se produzir um verdadeiro processo de politização da economia e de economização da política. A primeira só se dá com a segunda, porque ambos os lados pertencem ao mesmo movimento da geo-eco-nomia. Só em virtude de tal processo podemos saber que o neoliberalismo não foi uma simples doutrina econômica, mas um projeto de classe orientado a converter a economia no relevo da política, assim como os povos em populações. Como se a fórmula leninista que descrevia o capitalismo do início do século XX como o “imperialismo como fase superior do capitalismo” agora se transformasse nesta outra: “o neoliberalismo, a fase superior da política”. Só em virtude dessa fórmula se configurará a economia capitalista como um projeto geo-eco-nômico global do qual a democracia gerencial constituirá o seu enclave fundamental.
Por Márcia Junges e Leslie Chaves| Tradução: Moisés Sbardelotto
Notas:
[1] Alexis Carlis Clerel de Tocqueville (1805-1859): pensador político e historiador francês, autor do clássico A democracia na América (São Paulo: Martins Fontes, 1998-2000). (Nota da IHU On-Line)
[2] George W. Bush (1946): foi o 43º presidente dos Estados Unidos, sucedendo Bill Clinton em 2001. Em 2009, foi sucedido por Barack Obama. Foi governador do Texas entre 1995 e 2000. (Nota da IHU On-Line)
[3] François Gérard Georges Nicolas Hollande (1954): político francês, atualmente o 24º Presidente da França. Ele também se tornou o 67º Copríncipe de Andorra. Foi primeiro secretário do Partido Socialista de 1997 a 2008 e prefeito da comuna francesa de Tulle entre 2001 e 2008. Foi também presidente do conselho geral do departamento de Corrèze e deputado pelo 1º distrito. Venceu o primeiro turno e liderou as pesquisas de intenção de voto para o pleito em segundo turno da eleição presidencial da França em 2012. Confirmou seu favoritismo no segundo turno, em 6 de maio de 2012, ao obter 52% dos votos, derrotando Nicolas Sarkozy, candidato à reeleição. Ele tomou posse como presidente em 15 de maio de 2012. (Nota da IHU On-Line)
[4] Charlie Hebdo: jornal semanal satírico francês. Ricamente ilustrado, ele publica crônicas e relatórios sobre a política, a economia e a sociedade francesas, mas também ocasionalmente jornalismo investigativo com a publicação de reportagens sobre o estrangeiro ou em áreas como as seitas, a extrema-direita, o Catolicismo, o Islamismo, o Judaísmo, a cultura, etc. Em 7 de janeiro de 2015 o jornal foi alvo de um atentado terrorista que resultou em doze pessoas mortas, incluindo uma parte da equipe do Charlie Hebdo e dois agentes da polícia nacional francesa, e ferindo durante o tiroteio outras 11 pessoas que estavam próximas ao local. O ataque foi perpetrado pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi na sede do semanário no 11º arrondissement de Paris, supostamente como forma de protesto contra a edição Charlie Hebdo que publicou uma charge do profeta Maomé e ocasionou polêmica no mundo islâmico, sendo recebida como um insulto aos muçulmanos. (Nota da IHU On-Line)
[5] Wendy L. Brown (1955): primeira professora de Ciência Política na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde ela também é filiada ao Departamento de Retórica, e membro do corpo docente do núcleo de Teoria Crítica. Ela tem feito grandes e profundas contribuições para a teoria política moderna, elaborando com base na obra de Marx e Foucault uma importante reflexão teórica sobre o poder moderno e a formação do sujeito político. Seu trabalho sobre as racionalidades divergentes do neoliberalismo e neoconservadorismo, bem como sua análise do neoliberalismo em relação às ameaças contemporâneas à educação pública estabeleceram-na como uma intelectual significativa em seu campo de estudos. (Nota da IHU On-Line)
[6] Sistema Westfaliano: criado a partir de uma série de tratados resultantes de guerras envolvendo Espanha, Holanda, França, Inglaterra, Alemanha e Suécia, tendo a dinastia dos Habsburgo como centro, o qual serviu de referência para guiar as relações internacionais europeias, sobretudo durante o período compreendido entre 1648 e 1789. (Nota da IHU On-Line)
[7] Nómos (em grego, Νομος): é, na mitologia grega, o daemon das leis, estatutos e normas. (Nota da IHU On-Line)
[8] Acordo Sykes-Picot: assinado em 16 de maio de 1916, foi um ajuste secreto entre os governos do Reino Unido e da França que definiu as suas respectivas esferas de influência no Oriente Médio após a Primeira Guerra Mundial. Os limites estabelecidos pelo acordo ainda permanecem na maior parte da fronteira comum entre a Síria e o Iraque. O acordo foi negociado em novembro de 1915 pelo diplomata francês François Georges-Picot e pelo britânico Mark Sykes. (Nota da IHU On-Line)
[9] Barack Obama [Barack Hussein Obama II] (1961): advogado e político estadunidense. É o 44º presidente dos Estados Unidos, desde 2009. Sua candidatura foi formalizada pela Convenção do Partido Democrata, em 2008. (Nota da IHU On-Line)
[10] Al-Farabi (872-950): nascido no Turquistão, foi um filósofo turco muçulmano que inaugurou a grande linha de filósofos muçulmanos da Idade Média. Interessou-se tanto por química, ciências naturais, física quanto por ética, ciência política e filosofia da religião. Foi também músico e está entre os principais teóricos do assunto. A palavra portuguesa alfarrábio (que significa livro antigo) é uma simples alteração do seu nome. Na filosofia ele dizia-se ao mesmo tempo influenciado por Platão e Aristóteles e considerava que as doutrinas dos dois mestres da Antiguidade se complementavam. Al-Farabi formulou, com uma clareza até então desconhecida, a distinção entre a existência e a essência. Retomou a teoria aristotélica sobre a eternidade do mundo, o que lhe causou dificuldades com os círculos islâmicos ortodoxos. Mas o próprio Al-Farabi não separava a religião da filosofia e se servia de termos do Alcorão para traduzir os conceitos de filosofia grega. Grande parte de sua obra é dedicada à política e à economia. (Nota da IHU On-Line)
[11] Averroes (1126-1198): filósofo e físico árabe, também conhecido pelo nome de Averróis, um dos maiores conhecedores e comentaristas de Aristóteles. Aliás, o próprio Aristóteles foi redescoberto na Europa graças aos árabes e os comentários de Averróis muito contribuíram para a recepção do pensamento aristotélico. Averróis também se ocupou com astronomia, medicina e direito canônico muçulmano. (Nota da IHU On-Line)
[12] Falsafa: é um termo árabe que significa “filosofia”, mais especificamente se refere ao período clássico da filosofia entre os árabes, a partir do movimento de recepção e desenvolvimento da filosofia grega nas terras dominadas pelo Islã, entre os séc. VIII e XIII d.C. Com um segmento histórico da filosofia, a Falsafa é um movimento que tem papel relevante no cenário histórico da filosofia do Oriente e do Ocidente. (Nota da IHU On-Line)
[13] Salvador Allende (1908-1973): médico e político marxista chileno. Em 1970, foi eleito presidente do Chile pela Unidade Popular, um agrupamento político formado por socialistas, comunistas e por setores católicos e liberais do Partido Radical e do Partido Social Democrata que contava com grande apoio dos trabalhadores urbanos e camponeses. Governou o país até 11 de setembro de 1973, quando foi deposto por um golpe de estado liderado pelo chefe das Forças Armadas, Augusto Pinochet. (Nota da IHU On-Line)
[14] Primavera Árabe: os protestos no mundo árabe ocorridos de 2010 a 2012 foram uma onda revolucionária de manifestações e protestos, compreendendo o Oriente Médio e o Norte da África. Houve revoluções na Tunísia e no Egito, uma guerra civil na Líbia e na Síria; grandes protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Omã e Iémen e protestos menores no Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental. Os protestos têm compartilhado técnicas de resistência civil em campanhas sustentadas envolvendo greves, manifestações, passeatas e comícios, bem como o uso das mídias sociais, como Facebook, Twitter e Youtube, para organizar, comunicar e sensibilizar a população e a comunidade internacional em face de tentativas de repressão e censura na Internet por partes dos Estados. (Nota da IHU On-Line)
[15] Giorgio Agamben (1942): filósofo italiano. É professor da Facolta di Design e arti della IUAV (Veneza), onde ensina Estética, e do College International de Philosophie de Paris. Formado em Direito, foi professor da Universitá di Macerata, Universitá di Verona e da New York University, cargo ao qual renunciou em protesto à política do governo estadunidense. Sua produção centra-se nas relações entre filosofia, literatura, poesia e, fundamentalmente, política. Entre suas principais obras, estão Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002), A linguagem e a morte (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005), Infância e história: destruição da experiência e origem da história (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006), Estado de exceção (São Paulo: Boitempo Editorial, 2007), Estâncias – A palavra e o fantasma na cultura ocidental (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007) e Profanações (São Paulo: Boitempo Editorial, 2007). Em 04-09-2007, o sítio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU publicou a entrevista Estado de exceção e biopolítica segundo Giorgio Agamben, com o filósofo Jasson da Silva Martins, disponível aqui. A edição 236 da IHU On-Line, de 17-09-2007, publicou a entrevista Agamben e Heidegger: o âmbito originário de uma nova experiência, ética, política e direito, com o filósofo Fabrício Carlos Zanin, disponível aqui. A edição 81 da publicação, de 27-10-2003, teve como tema de capa O Estado de exceção e a vida nua: a lei política moderna, disponível para acesso aqui. (Nota da IHU On-Line)
[16] Karl Marx (Karl Heinrich Marx, 1818-1883): filósofo, cientista social, economista, historiador e revolucionário alemão, um dos pensadores que exerceram maior influência sobre o pensamento social e sobre os destinos da humanidade no século XX. Leia a edição número 41 dos Cadernos IHU ideias, de autoria de Leda Maria Paulani, que tem como título A (anti)filosofia de Karl Marx, disponível aqui. Também sobre o autor, confira a edição número 278 da IHU On-Line, de 20-10-2008, intitulada A financeirização do mundo e sua crise. Uma leitura a partir de Marx, disponível aqui. Leia, igualmente, a entrevista Marx: os homens não são o que pensam e desejam, mas o que fazem, concedida por Pedro de Alcântara Figueira à edição 327 da IHU On-Line, de 03-05-2010, disponível aqui. A IHU On-Line preparou uma edição especial sobre desigualdade inspirada no livro de Thomas Piketty O Capital no Século XXI, que retoma o argumento central da obra de Marx O Capital, disponível aqui. (Nota da IHU On-Line)
[17] Walter Benjamin (1892-1940): filósofo alemão. Foi refugiado judeu e, diante da perspectiva de ser capturado pelos nazistas, preferiu o suicídio. Um dos principais pensadores da Escola de Frankfurt. Sobre Benjamin, confira a entrevista Walter Benjamin e o império do instante, concedida pelo filósofo espanhol José Antonio Zamora à IHU On-Line nº 313, disponível aqui. (Nota da IHU On-Line)
[18] Michel Foucault (1926-1984): filósofo francês. Suas obras, desde a História da Loucura até a História da sexualidade (a qual não pôde completar devido a sua morte) situam-se dentro de uma filosofia do conhecimento. Foucault trata principalmente do tema do poder, rompendo com as concepções clássicas do termo. Em várias edições, a IHU On-Line dedicou matéria de capa a Foucault: edição 119, de 18-10-2004, disponível aqui; edição 203, de 06-11-2006, disponível aqui; edição 364, de 06-06-2011, intitulada 'História da loucura' e o discurso racional em debate, disponível aqui, edição 343, O (des)governo biopolítico da vida humana, de 13-09-2010, disponível aqui, e edição 344, Biopolítica, estado de exceção e vida nua. Um debate, disponível aqui, Confira ainda a edição nº 13 dos Cadernos IHU em formação, disponível aqui, Michel Foucault. (Nota da IHU On-Line)
[19] Noesis: termo em grego significando insight, intelecção ou inteligência. Em filosofia, noesis significa compreensão imediata, habilidade de sentir ou perceber ou saber algo imediatamente. Em fenomenologia, noesis é o ato de tomar consciência. (Nota da IHU On-Line)
[20] O Capital (em alemão, Das Kapital): é um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx que constituem uma análise do capitalismo (crítica da economia política). A obra é considerada o marco do pensamento socialista marxista. Nela existem muitos conceitos econômicos complexos, como mais valia, capital constante e capital variável, uma análise sobre o salário; ou sobre a acumulação primitiva. Em resumo, trata sobre todos os aspectos do modo de produção capitalista, incluindo também uma crítica sobre a teoria do valor-trabalho de Adam Smith e de outros assuntos dos economistas clássicos. (Nota da IHU On-Line)
[21] Baruch Spinoza (ou Espinosa, 1632–1677): filósofo holandês. Sua filosofia é considerada uma resposta ao dualismo da filosofia de Descartes. Foi considerado um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da Filosofia Moderna e o fundador do criticismo bíblico moderno. Confira a edição 397 da IHU On-Line, de 06-08-2012, intitulada Baruch Spinoza. Um convite à alegria do pensamento, disponível aqui. (Nota da IHU On-Line)
[22] John Maynard Keynes (1883-1946): economista e financista britânico. Sua Teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro (1936) é uma das obras mais importantes da economia. Esse livro transformou a teoria e a política econômicas, e ainda hoje serve de base à política econômica da maioria dos países não comunistas. Confira o Cadernos IHU ideias nº 37, As concepções teórico-analíticas e as proposições de política econômica de Keynes, de Fernando Ferrari Filho, disponível aqui. Leia, também, a edição 276 da Revista IHU On-Line, de 06-10-2008, intitulada A crise financeira internacional. O retorno de Keynes, disponível para download aqui. (Nota da IHU On-Line)
[23] Louis Althusser (1918-1990): filósofo marxista francês. Seu envolvimento com a ideologia marxista pode ser devido ao tempo gasto nos campos de concentração nazista, durante a segunda guerra mundial, depois da qual começou sua carreira acadêmica. (Nota do IHU On-Line)
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A democracia gerencial em crise e a potência anárquica do poder destituinte. Entrevista especial com Rodrigo Karmy - Instituto Humanitas Unisinos - IHU