29 Outubro 2025
Clima de medo esvazia bares e ruas em diferentes regiões da cidade; comerciantes relatam movimento quase nulo e moradores evitam sair de casa
A reportagem é de Gustavo Kaye, publicada pro Agenda do Poder, 28-10-2025.
A noite desta terça-feira (28) foi marcada pelo silêncio e pelas portas fechadas em diversos bairros do Rio de Janeiro. O medo tomou conta da cidade após a megaoperação das polícias Civil e Militar nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte, que deixou 64 mortos, incluindo quatro policiais. Em resposta, criminosos realizaram retaliações e usaram ônibus para bloquear vias, o que espalhou a sensação de insegurança por toda a capital.
Bairros boêmios ficam vazios e comércio encerra atividades mais cedo
Tradicionais pontos de encontro da vida noturna carioca, como o Buxixo, na Tijuca, e o Baixo Botafogo, ficaram praticamente desertos. Estabelecimentos que normalmente estariam cheios encerraram o expediente antecipadamente, temendo novos episódios de violência. “Hoje está bem difícil. As ruas estão vazias e os clientes que aparecem ficam pouco tempo”, contou o garçom Luis Felipe, que trabalha em um restaurante no Largo do Machado.
Medo afasta moradores das ruas da Zona Sul
Na Praça São Salvador, em Laranjeiras, conhecida por seu agito noturno, a movimentação foi quase inexistente. Moradores relatam apreensão e preferem não permanecer nas ruas. “Só saí para comprar algo urgente e voltei correndo. Hoje é dia de ficar em casa”, disse um morador que pediu para não ser identificado. Em Botafogo, a Rua Voluntários da Pátria e a Arnaldo Quintela — considerada pela revista Time Out uma das dez regiões mais “cool” do mundo — também ficaram desertas. Até farmácias 24 horas encerraram o atendimento por precaução.
Megaoperação deixou 64 mortos e mais de 80 presos
A operação policial nos complexos da Penha e do Alemão mobilizou cerca de 2,5 mil agentes e contou com o apoio do Ministério Público do Rio (Gaeco/MPRJ). O objetivo era prender integrantes do Comando Vermelho (CV) que estariam escondidos nas comunidades. Segundo a Polícia Civil, entre os mortos estão 60 suspeitos — dois deles da Bahia — e quatro policiais. Quatro moradores também foram atingidos. Ao longo do dia, 81 pessoas foram presas e 93 fuzis foram apreendidos.
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