23 Fevereiro 2024
Já passaram mais de quatro meses de massacre, deslocamentos forçados e violência contra dois milhões de pessoas que vivem no enclave costeiro de 365 quilômetros quadrados.
A reportagem é de Haneen Harara, publicada por El Diario, 22-02-2024. A tradução é do Cepat.
A população em toda a Faixa de Gaza está sofrendo a violência direta dos ataques israelenses vindos do céu e do mar, e também a violência indireta da fome e das doenças que podem ser ainda mais mortíferas do que os bombardeios devido à falta de água e alimentos, às más condições de higiene e à superlotação dos abrigos. Os 154 edifícios da Agência das Nações Unidas para a População Refugiada da Palestina (UNRWA), estão lotados e abrigam cerca de 1,7 milhão de homens e mulheres deslocados, dentro deles e em suas imediações. Isto causa a proliferação de doenças.
Nessa violência que impacta por tantos aspectos, os habitantes de Gaza estão submetidos a uma situação humanitária catastrófica sem precedentes, com as restrições de entrada de mantimentos, o que coloca toda a população em risco de fome, especialmente quem está no norte.
De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, desde o início de 2024 as autoridades israelenses negaram o acesso a 51% das missões planejadas pela UNRWA e seus parceiros humanitários para a entrega de ajuda e a realização de avaliações em regiões ao norte de Wadi Gaza. Segundo o Grupo de Segurança Alimentar, a insegurança alimentar no norte atingiu uma condição extremamente crítica, dadas as impactantes restrições à entrega.
La testimonianza del reporter da Gaza: 'Nessuno riesce a mettere insieme un singolo pasto da giorni' https://t.co/1wqmIIjXkM via @repubblica
— IHU (@_ihu) February 21, 2024
“Alimento meus filhos com pedaços de pão seco. Não conseguimos qualquer ajuda humanitária, exceto farinha da UNRWA. Nossa situação é humilhante”, explica Khadeeja Matar, entre um mar de tendas de campanha. Khadeeja, de 33 anos, vem de um bairro do norte de Gaza e continua deslocada com os seus filhos pequenos em Rafah. As pessoas que ainda residem no norte precisam triturar alimentos secos para animais para sobreviver por causa da escassez de ajuda humanitária. Agora, mesmo isto está se esgotando.
“Quando vou ao mercado para comprar alimentos, retorno com apenas um pouco. Os preços dos legumes são muito caros. Antes do dia 7 de outubro, comprávamos 10 tipos de legumes que custavam no máximo 100 ILS (30 dólares), agora não se faz nada com isso”, lamenta Raeed Badah, palestino de 50 anos, deslocado do bairro de Sheikh Redwan, ao sul da Faixa. “Não podemos suportar esses preços. Dado que não há ajuda humanitária suficiente, só podemos ter acesso a água e alimentos através de sua compra. “Tudo custa o dobro do dobro!”, explica.
A situação é dramática para toda a população e fundamentalmente para quem sofre problemas de saúde. Aseel Dahdouh, palestina de 18 anos, vive com a sua doença celíaca que a obriga a manter uma dieta que, lamentavelmente, já não está disponível. Ela sofre todos os dias com a falta de alimentos sem glúten. Só conta com opções limitadas disponíveis que não pode rejeitar, pois lhe permitem sobreviver. “Sou celíaca desde os 2 anos, é algo com o qual cresci. Recebia a ajuda da Associação Ard El Insan, uma clínica de saúde que me fornecia todos os alimentos que eu precisava”.
As mulheres grávidas e os recém-nascidos são um dos grupos que mais sofrem as consequências do cerco.
In north Gaza, 1 in 6 children under 2 years old is acutely malnourished.
— António Guterres (@antonioguterres) February 21, 2024
An immediate humanitarian ceasefire is the only way to scale up the delivery of aid to those who need it most.https://t.co/rjX0NoKwSK pic.twitter.com/z4eVdMlfb8
A Organização das Nações Unidas estima que, atualmente, cerca de 50.000 mulheres grávidas vivem em Gaza e que há mais de 180 nascimentos todos os dias, em meio à destruição do sistema de saúde.
Supõe-se que estas mães e pais deveriam prestar cuidados especiais em termos de alimentação, medicamentos, artigos de higiene e água potável, mas a escassez de todos estes produtos torna a situação muito mais difícil também para os recém-nascidos. Os problemas físicos e psicológicos que as mães enfrentam provocam dificuldades para amamentar que não podem ser superadas com o limitado leite disponível no mercado.
Além da fome, da miséria, do medo e da violência, a população convive com imagens aterrorizantes que não consegue tirar da cabeça: “Não consigo esquecer dois irmãos que foram baleados por um atirador especial israelense, enquanto um deles tentava chegar ao ponto de distribuição humanitária, no sul da Faixa. Ambos foram assassinados quando tentavam conseguir comida”, conta Dina Elhelou, uma mulher deslocada de 30 anos, enquanto olha para os seus gêmeos recém-nascidos.
Todos os dias, a população espera por auxílio humanitário que a ajude a sobreviver, mas Israel está utilizando a fome dos civis como arma de guerra na ocupada Faixa de Gaza. Uma arma que mata lentamente e que impõe o sofrimento adicional de ver os seus filhos passarem fome e não ter nada para alimentá-los.
Israel ataca comboio humanitário em Gaza após rota ter sido autorizada pelo Exército, revelam documentos da ONU https://t.co/GKeI2G3xyX .
— Jornal O Globo (@JornalOGlobo) February 21, 2024
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Fome em Gaza: “Alimento meus filhos com pedaços de pão seco, a nossa situação é humilhante” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU