21 Setembro 2023
O religioso comboniano, coordenador da rede brasileira de Igrejas e Minas, fala da segunda edição da iniciativa, em curso no mês de setembro: a terra não é um reservatório infinito de recursos a serem aproveitados sem limites, o uso da reciclagem que reduz o consumo de matérias-primas. “Deus sempre perdoa, a natureza nunca perdoa”
A reportagem é de Andrea De Angelis, publicada por Vatican News, 19-09-2023.
O Tempo da Criação, que se celebra em setembro, também se vive este ano na escuta do grito da Terra, da urgência de cuidar do planeta que acolhe toda a humanidade. Um apelo lançado diversas vezes pelo Papa, que nos convida a ouvir “o batimento cardíaco materno da Terra, harmonizando os ritmos da nossa existência com os da criação, que nos dá vida”.
Na mensagem dedicada em particular a este tempo, Francisco sublinha como “as políticas econômicas, que favorecem a riqueza escandalosa para alguns e condições degradantes para muitos, marcam o fim da paz e da justiça”. Seguindo as palavras do bispo de Roma, a rede Igrejas e Minas (Rim) promoveu a segunda Caravana da Ecologia Integral. De 12 a 30 de setembro, uma delegação de cinco jovens da Argentina, Brasil, Equador, Guatemala e Peru realiza seminários, eventos e encontros para convidar congregações religiosas, conferências episcopais, dioceses e universidades católicas à conversão ecológica integral e ao desinvestimento das minas.
Acompanham os jovens Dom Noel Londoño, da diocese de Jericó, na Colômbia, e o Padre Dario Bossi, missionário comboniano no Brasil, conselheiro da Conferência Episcopal Brasileira e coordenador da rede Igrejas e Minas. O grupo iniciou suas atividades em Madrid e Santiago de Compostela na Espanha, passando por Roma atualmente, depois estará em Bruxelas e finalmente em Tübingen, na Alemanha.
Padre Dario Bossi nos estúdios da Rádio Vaticano. (Foto: Reprodução | Vatican Media)
“As realidades apresentadas na segunda Caravana pela Ecologia Integral denunciam a exploração e a devastação da Terra, vítimas da injustiça ambiental causada pela mineração, que mais uma vez explora o Sul do mundo”, afirma Padre Dario Bossi, convidado dos estúdios da Rádio Vaticano - Vatican News. “O Papa – recorda – convida-nos, como Igreja, a estar ao lado das vítimas da injustiça ambiental e climática, pondo fim a esta guerra sem sentido contra a criação”.
“A questão da mineração está se agravando e os países do Sul do mundo são considerados como um depósito de onde se extrai o que é considerado necessário. Para nós é importante que essas vozes sejam ouvidas e tentamos fazer com que aqueles que estão prejudicados pelos protagonistas do extrativismo, ouvindo estas histórias de dor e resistência. Estas pessoas têm missionários, bispos próximos, a Igreja – sublinha – tornou-se próxima e o Samaritano, é o porta-voz destas realidades”. Uma posição portanto “profética”, que como muitas vezes acontece é criticada, mas é muito importante não ficar calado. O Papa na Laudato si’ pede-nos que chamemos estas situações pelo seu nome, isto é, injustiça e crime”.
“O Papa – continua Bossi – pede uma revisão global do sistema. Antes de tudo uma revisão do modelo de consumo, a Terra está nos dizendo que se não encontrarmos uma alternativa os limites surgirão com mais força, a extração não é infinito Infelizmente, o modelo de consumo não estabelece limites naturais, portanto existe apenas uma forma absurda de raciocínio.” O missionário cita então as teorias do “pós-extrativismo transacional”, que propõem extrações limitadas e essenciais, destacando “o enorme potencial da reciclagem e ao mesmo tempo da redução do consumo de matérias-primas”.
Finalmente, o Padre Bossi quer recordar, entre muitos, um apelo do Papa que é a inspiração para esta e outras iniciativas. “Deus sempre perdoa, a natureza nunca perdoa. Francisco nos lembra disso, acrescentando que esta economia mata. Não se trata, portanto, simplesmente de ajustar o sistema, mas - conclui - de repensar radicalmente e precisamos de o fazer urgentemente, construindo juntos um novo modelo econômico”.
“O apelo ao desinvestimento dos fundos de investimento, fundos de pensões ou bancos comerciais que financiam a atividade mineira é uma bandeira levada pelos jovens como pedido de coerência ética e evangélica por parte das Igrejas no encargo do Cuidado da Criação”, afirma Guilherme Cavalli, coordenador da iniciativa. “A indústria mineira está entre as principais causas desta guerra sem sentido contra a criação de que fala Francisco. Os critérios de exclusão para investimentos de congregações religiosas, dioceses e universidades devem levar em conta as indústrias extrativas, como a mineração e o petróleo. Comunidades, pela Mãe Terra e colocam em leilão a existência do futuro", lembra.
Em 2022, a iniciativa Caravana começou com o objetivo de aprofundar as relações entre as organizações da Europa e aquelas que trabalham pelo cuidado da Criação na América Latina. Uma delegação de dez líderes comunitários e religiosos viajou para a Alemanha, Áustria, Espanha, Itália, Bélgica e França para denunciar violações dos direitos humanos e ambientais causadas pelas actividades mineiras. Graças ao diálogo aprofundado e ao compromisso comum, a caravana do ano passado deu origem à segunda edição, que decorrerá até 30 de setembro. A iniciativa promovida pela Rede Igrejas e Minas, através da Campanha pelo Desinvestimento Mineiro, realiza-se com cerca de vinte organizações americanas e europeias.
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