“O Papa obriga-nos a olhar para o Mediterrâneo”, afirma Dom Aveline, arcebispo de Marselha

O Mar Mediterrâneo visto da cidade litorânea de Marselha. (Foto: Flori Braunhofer | Unsplash)

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19 Setembro 2023

Enquanto espera pelo Papa neste fim de semana em Marselha, Dom Jean-Marc Aveline lança os Encontros do Mediterrâneo em torno da questão candente dos migrantes. “A França não pode desviar o olhar”, diz ele.

A entrevista é de Christophe Van Veen, publicada por ICI – France Bleu e France 3, 17-09-2023.

Eis a entrevista.

"O Papa que visita a Bonne mère, que vai acender a sua vela entre os outros, isso não é nada. Já se passaram vários séculos desde que isso aconteceu conosco!", ri Jean-Marc Aveline, com sotaque de Marselha. E o que dizer da missa no templo do futebol! “Se ele vai ao estádio, é como se ele fosse à casa das pessoas, é como se ele as visitasse.” D. Aveline fica impressionado com “a alegria nos olhos dos marselheseses como crianças oito dias antes do Natal”.

Mensagem da cidade de Marselha

“O que sinto é que Marselha é mais do que uma cidade, é uma mensagem. Em qualquer identidade existe sempre um elemento de alteridade. E é graças a isso que podemos acolher os outros” defende o fervoroso defensor do sua cidade. Estes Encontros estão em sintonia com a vocação de Marselha. “Se puder mostrar ao mundo que, além dos clichês, ela tem uma mensagem e que a vive, bem, isso é uma vitória!”

No meio da crise migratória de Lampedusa

Depois de Bari em 2020, depois de Florença, Marselha é um ponto de viragem no que foi originalmente o encontro de cerca de cinquenta bispos das cinco margens do Mediterrâneo. “Marselha deve dar um novo impulso”. E isto envolve o trabalho de 70 jovens de 25 países que trabalharão nos quatro desafios desta bacia: pobreza, ambiente, migração e tensões geopolíticas.

Um dos pontos altos da chegada do Papa foi esta meditação diante da estela dos marinheiros e migrantes falecidos no mar, junto a Notre-Dame-de-la-Garde. “O contexto político ficou muito agitado nas últimas semanas. Mas afinal não é ruim! Isso permite à Igreja não dar aulas, mas estar a serviço da voz daqueles que não costumamos ouvir”.

O arcebispo insiste na complexidade da questão migratória. “Não resolvemos os problemas da imigração simplesmente dizendo que devemos acolher. Claro que devemos acolher, devemos acolher com vista ao bem comum. É o bem comum dos migrantes, mas também o bem de todos".

Não olhe apenas para o Papa!

Francisco está “impaciente para ir a Marselha”, diz-nos o seu amigo próximo do Sudeste. E toda Marselha está igualmente impaciente. Mas estes encontros não se limitam à vinda do Santo Padre. Um festival com nada menos que uma centena de eventos pretende “colocar a cidade a bordo”, “o maior número de pessoas possível”. Marselha é “etapa de uma longa peregrinação que começou há dez anos em Lampedusa. A importância do respeito pela dignidade humana é intangível na fé cristã. Ele vem para que possamos olhar com ele o Mediterrâneo, para que possamos ver os dramas que ali acontecem.

Mensagem religiosa ou política?

Definitivamente um pouco dos dois. O Presidente da República, presente na missa do Vélodrome, poderá ouvir? "O desafio é que a França compreenda a sua própria responsabilidade. Temos uma importante fachada mediterrânica. Ela não pode desviar o olhar."

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