04 Mai 2023
Francisco não falou ao acaso quando revelou aos jornalistas que o acompanhavam em sua viagem de volta da Hungria no domingo que "ainda agora está em andamento uma missão" para "buscar um caminho para a paz" na Ucrânia”, “ainda não é pública, veremos... Quando for pública, falarei a respeito". Os “não sabemos” que chegaram ontem de Kiev e Moscou, por sua vez, mostram toda a dificuldade de uma empreitada que quatorze meses de conflito tornaram cada vez mais difícil: uma solução diplomática para a guerra iniciada com a invasão russa.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 03-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quem devia saber, explicam do Vaticano, foi informado a tempo; as duas partes estavam cientes disso e certamente não foram informadas pelos jornais. Afinal, Francisco falou de "missão", não de um plano de paz já definido. E disse que está em curso “ainda agora”, porque é desde o início que a diplomacia vaticana repete que está pronta a favorecer de qualquer forma o diálogo, até hospedar conversações de paz. "Estou disposto a fazer o que for preciso fazer”, frisou Francisco. O Vaticano tem séculos de experiência a esse respeito, inclusive recentemente.
Às vezes não dá certo, como quando em 2003 João Paulo II enviou o cardeal Roger Etchegaray a Bagdá e o cardeal Pio Laghi a Washington em uma vã tentativa de deter a segunda Guerra do Golfo. Às vezes funciona, como no caso das cartas que o próprio Francisco entregou em 2014 a Barack Obama e Raúl Castro e propiciaram o degelo entre Estados Unidos e Cuba: em outubro as delegações se reuniram no Vaticano. Na véspera de sua partida para Budapeste, o Papa recebeu o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal.
Na Hungria, exortou a Europa a "reencontrar a sua alma” e a opor-se ao “infantilismo bélico” com a consciência de ter um “papel” autônomo na busca da paz: "Unir os distantes, não deixar ninguém para sempre inimigo". Ele se encontrou com Orban, o líder europeu mais próximo de Putin. Ele reabraçou o Metropolita Hilarion, antigo "ministro das Relações Exteriores" do Patriarcado de Moscou, depois "demitido" por sua oposição à guerra enquanto o Patriarca Kirill abençoava a invasão. Ele elogiou o embaixador de Moscou no Vaticano, "a relação com os russos é principalmente com ele". Trata-se de não fechar nenhum caminho: "A paz sempre se faz abrindo canais, nunca uma paz pode ser feita com fechamentos".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Papa e o que Moscou e Kiev (na realidade) sabiam - Instituto Humanitas Unisinos - IHU