20 Fevereiro 2023
"Pela primeira vez na história do país, os brasileiros dialogam ou discutem a postura do Banco Central, apoiam, protestam, pedem mais informações", escreve Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Comunicação, articulista no jornal A Crítica de Manaus, cofundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).
Eis o artigo.
O ‘empate’, estratégia utilizada no século XX por seringueiros e extrativistas do Acre para impedir o desmatamento naquele Estado, vem à mente neste início de 2023 no embate entre o governo Lula e a presidência do Banco Central.
Inaugurada nos anos de 1970 em pleno governo ditatorial com sobrevida até 1990, o ‘empate’ organizado pelo Sindicato dos Seringueiros e colocado em prática numa ampla participação de homens, mulheres, idosos e crianças. O grupo se postava diante de pecuaristas, policiais militares, peões pagos para derrubar a floresta e atear fogo e, pedagogicamente, explicava a importância da manutenção da floresta.
A história desses encontros/confrontos no interior do Acre é feita em caminhos de vitórias e derrotas. Vale muito conhecer mais sobre o manejo do recurso e das atualizações feitas pelos novos líderes. A ideia de recorrer ao empate acreano na relação Governo Federal X Banco Central possibilita refletir sobre alguns pontos importantes nessa área. Está inaugurada a sessão ampliada de debates sobre a função do BC, o que é saudável porque aproxima a instituição da sociedade brasileira, estimula conhecer e ou ampliar conhecimentos sobre a agência e coloca segmentos da população em processo de aprendizado numa área da qual a maioria de nós foi mantida afastada. Portanto, é pedagógica.
O Bacen, criado em 1964 passou a funcionar no ano seguinte. É uma autarquia federal autônoma integrante do Sistema Financeiro Nacional sem vinculação a ministério. É possível verificar e merece questionamento o escopo de autonomia acionado por setores empresariais e da mídia ao se referirem a agência. Em nome da autonomia – discutível – a atuação do Banco Central não pode se sobrepor como governo paralelo na condução da política de regular o volume de dinheiro e de crédito da economia. Não pode também ser instância acachapada na estrutura de governo.
A campanha pela redução dos juros no Brasil, lançada na terça-feira (14), os posicionamentos – tendenciosos, técnicos, esclarecedores de parcela da mídia, de especialistas, parlamentares – compõem um quadro de indicadores interessante para o consumo pela sociedade. Não o desejado, aquele que tem a marca do esclarecimento. Ainda assim, pela primeira vez na história do país, os brasileiros dialogam ou discutem a postura do Banco Central, apoiam, protestam, pedem mais informações.
O ‘empate’ do governo Lula e Banco Central afetará profundamente todos os brasileiros. Aqueles que ganham muito dinheiro e aumentam suas fortunas com um determinado modelo de gestão do Bacen e da economia nacional, os que estão em dificuldades agudas para pagar suas contas, a fatura do cartão de crédito, manter algum nível de poder aquisitivo, os que vivem na miséria. Por que o Brasil tem a segunda maior taxa de juros do mundo?
A atuação do Banco Central e a ideia de autonomia precisam ser conhecidas a partir de parâmetros mais transparentes e responsáveis. O governo não pode asfixiar o banco e o banco não pode tornar refém o governo. É hora de agir para empatar em favor do povo do Brasil.
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‘Empatar’ em favor do povo brasileiro. Artigo de Ivânia Vieira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU