16 Dezembro 2022
Um importante padre jesuíta, o artista Marko Rupnik, cujos mosaicos decoram capelas no Vaticano e em outros lugares, foi excomungado após ser considerado culpado de “uma das piores formas de abuso espiritual” apenas dois anos depois de o Vaticano decidir não tomar nenhuma ação em relação a outras acusações de abuso.
A reportagem é de Ruth Gledhill, publicada por The Tablet, 15-12-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Associated Press confirmou uma acusação relatada primeiro pelo blog Messa in Latino de que Rupnik havia sido condenado por denúncia de absolver em confissão uma mulher com quem se envolveu sexualmente em 2019, e por isso fora sancionado .
Mas alegações históricas separadas feitas apenas dois anos depois não foram processadas porque o Vaticano decidiu que elas eram velhas demais para agir.
O jesuíta James Martin, editor-geral da revista jesuíta America, que publicou a reportagem da AP, tuítou: “Na Igreja Católica, além dos crimes de abuso físico e sexual, há abuso espiritual e um padre absolver alguém no confessionário de um pecado que cometeram juntos é considerado uma das piores formas de abuso espiritual”.
Ele acrescentou: “Imediatamente incorre no que é chamado latae sententiae ou excomunhão automática da Igreja. Ou seja, além das penalidades civis para os crimes cometidos, a absolvição é tão hedionda que o padre automaticamente se excomunga a partir desse momento... cortando-se de qualquer participação nos sacramentos da Igreja. Como jesuíta, padre, católico e cristão, os pecados e crimes de abuso, sejam físicos ou espirituais, me enojam”.
O padre Arturo Sosa, superior-geral da Companhia de Jesus, disse ontem em discurso aos jornalistas em Roma que o compromisso com uma “cultura de salvaguarda” abraçada pelos jesuítas em 2016 foi uma “mudança cultural” que exigiu um longo e bem planejado processo.
“Os protocolos de proteção de menores estão bem desenvolvidos em todos os lugares. No que diz respeito aos adultos vulneráveis, ainda há muito trabalho a ser feito, tanto da nossa parte quanto da Igreja Católica e da sociedade civil em geral”, admitiu.
“O caso do padre Marko Rupnik, que se tornou público na semana passada, é um bom exemplo de quanto ainda temos que aprender, especialmente sobre o sofrimento das pessoas. Este caso, como outros, nos causa choque e tristeza; obriga-nos a compreender e ter empatia com o sofrimento de todos os envolvidos de uma forma ou de outra. Confronta-nos com o desafio de respeitar esta dor ao mesmo tempo que iniciamos escrupulosamente os procedimentos exigidos pelas leis civis ou canônicas”, afirmou Sosa.
“Procuramos comunicar isso de uma forma que não esconda os fatos, enquanto também nós, iluminados pelo Evangelho e por outras experiências humanas, procuramos abrir caminhos para a cura das feridas produzidas”, concluiu o superior-geral.
Casos como o de Rupnik são de exclusiva responsabilidade do Dicastério para a Doutrina da Fé, que solicita aos superiores religiosos tanto as investigações preliminares como os eventuais processos administrativos-penais, cabendo sempre a decisão final a esse dicastério, disse ele.
No caso Rupnik, a Doutrina da Fé recebeu diretamente uma denúncia de que os limites permitidos foram ultrapassados nas relações entre ele e pessoas adultas consagradas na Comunidade de Loyola da Eslovênia, enquanto ele exercia atividades pastorais relacionadas ao ministério sacramental. Esses eventos ocorreram no início dos anos 1990.
A Doutrina da Fé pediu à Companhia de Jesus que prosseguisse imediatamente com a investigação inicial. “Ao receber a informação e a designação, a Companhia tomou as medidas cautelares proporcionais ao caso. A investigação inicial foi realizada por pessoas competentes fora da Companhia, e os resultados foram entregues ao Dicastério. Após o Dicastério ter estudado o expediente e informado que as denúncias recebidas eram legalmente prescritas, procuramos passar do nível processual para a tarefa de cuidar do sofrimento causado e tentar curar as feridas abertas. A manutenção das medidas restritivas sobre o ministério de Rupnik constitui um elemento de um processo complexo, que sabemos que leva tempo e para o qual não existem fórmulas pré-definidas. Faz parte do aprendizado que estamos fazendo, tentando não errar”.
Surgiu na semana passada que Rupnik havia sido impedido de ouvir confissões ou oferecer direção espiritual. Os meios de comunicação italianos relataram que as queixas eram acusações de abuso espiritual e sexual de membros adultos de uma ordem religiosa de mulheres na Eslovênia.
No entanto, no início de outubro, o Dicastério para a Doutrina da Fé encerrou o processo porque o prazo de prescrição havia expirado, disse uma nota da sede dos jesuítas em 2 de dezembro.
As restrições ao ministério do padre Rupnik “permanecem em vigor como medidas administrativas mesmo após a resposta do Dicastério para a Doutrina da Fé”, afirma em comunicado a Companhia de Jesus em Roma.
Rupnik vive e trabalha no Centro Aletti, uma comunidade internacional de artistas e teólogos, mulheres e homens, em Roma.
O Dicastério para a Doutrina da Fé recebeu uma denúncia sobre Rupnik em 2021 e pediu aos jesuítas que realizassem uma investigação preliminar, que confiaram a um religioso de outra ordem. Várias pessoas foram convidadas a depor e um relatório foi apresentado ao Vaticano. Vários meios de comunicação italianos relataram que as acusações envolviam alegações de abuso psicológico e sexual contra mulheres pertencentes à Skupnosti Loyola ou Comunidade Loyola, uma nova comunidade religiosa em Liubliana, Eslovênia, no início dos anos 1990, quando Rupnik servia como conselheiro espiritual.
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O jesuíta Marko Rupnik ‘absolveu os pecados’ de uma mulher com quem se envolveu sexualmente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU