10 Novembro 2022
As nove grandes empresas do setor vão multiplicar seus lucros por cinco graças à escalada dos preços provocada pela guerra na Ucrânia, ao mesmo tempo que os grupos ambientalistas denunciam o impacto ambiental de seus produtos.
A reportagem é de María G. Zornoza, publicada por Público, 09-11-2022. A tradução é do Cepat.
O coquetel molotov da guerra na Ucrânia e as mudanças climáticas criaram as condições para aprofundar a crise alimentar. As restrições à exportação de grãos e fertilizantes ou seu bloqueio em território ucraniano estão exacerbando o drama humanitário em países da África ou do Oriente Médio, onde a escassez de alimentos e o aumento dos preços já eram um problema de primeira grandeza antes mesmo do início da guerra na Ucrânia. Por outro lado, no entanto, os nove grandes oligopólios aumentarão seus lucros este ano em cerca de 57 bilhões de euros, cinco vezes mais do que antes da guerra, de acordo com o relatório A armadilha dos fertilizantes, publicado pela Fundação Europeia do Clima.
“Enquanto muitas das pessoas que se dedicam à agricultura lutam para enfrentar o aumento dos preços, as maiores companhias de fertilizantes do mundo atingem lucros recordes”, reza o documento, que sublinha que tudo isto está se traduzindo numa grande pressão sobre os agricultores e sobre os orçamentos nacionais. Os preços exorbitantes dessas substâncias estão colocando em xeque a produção global de alimentos. A própria ONU alertou no mês passado que é crucial reduzir o custo de materiais como potássio ou fertilizantes nitrogenados para evitar uma catástrofe humanitária ainda maior.
Nos últimos 70 anos, o uso global de fertilizantes químicos aumentou dez vezes. De acordo com a indústria, isso ajudou a promover a segurança alimentar e a ter maior acesso aos alimentos para milhões de pessoas em todo o mundo. Por outro lado, os fertilizantes químicos são uma das principais causas das mudanças climáticas, provocando degradação do solo e poluição da água e do ar. De acordo com o citado relatório, eles representam 1 de cada 40 toneladas de emissões globais de gases de efeito estufa.
“A era dos fertilizantes químicos baratos acabou. Para reduzir os preços e proteger a produção de alimentos, os governos devem acabar com a especulação corporativa, parar o uso excessivo de fertilizantes químicos, aumentar a produção de alternativas orgânicas e redirecionar os gastos públicos para práticas agrícolas agroecológicas que causam menos danos do que os fertilizantes químicos”, afirma na pesquisa Sophie Murphy, diretora executiva do Instituto de Política Agrícola e Comercial (IATP).
A falta de transparência no setor e os altos custos do gás e os bloqueios na Ucrânia e na Rússia, dois dos maiores produtores mundiais, resultaram em um preço exorbitante desses materiais que os mais vulneráveis enfrentam. Quatro empresas, Nutrien, Yara, CF Industries e Mosaic, controlam um terço de todos os fertilizantes nitrogenados e dominam um império que ultrapassa os 200 bilhões de euros, diz o documento.
O custo histórico dos alimentos é inacessível para milhões de pessoas em risco de pobreza, muitas delas dependentes de uma agricultura abalada pelos efeitos das mudanças climáticas e pela redução da produção de seus cultivos. Se essa tendência continuar, a produção na África poderá cair 20%. Em países como a Zâmbia, o alto preço dos fertilizantes tem sido um componente chave para que a inflação dos alimentos atingisse patamares superiores a 300%.
Os países do G20 pagaram, em 2022, 288% a mais por fertilizantes químicos em relação a 2020. De fato, traçar uma estratégia para enfrentar essa crise será um dos pontos-chave da agenda dos vinte líderes das principais economias do mundo, que se reunirão na próxima semana na Indonésia. A tendência diante dessa policrise aguda é apoiar com subsídios as empresas do setor para aumentar a produção. “Os agricultores estão lutando, mas as grandes empresas de fertilizantes estão obtendo lucros recordes. Os governos precisam parar de usar fundos públicos para subsidiar fertilizantes químicos e apoiar uma mudança para práticas agrícolas agroecológicas que sejam melhores para agricultores, consumidores e o planeta”, alerta David Calleb Otieno, da Liga dos Camponeses do Quênia.
Esta semana, a Comissão Europeia deverá apresentar um novo programa para enfrentar a crise de fertilizantes na maior parte da União Europeia. Durante o último Conselho da União Europeia sobre o assunto, o comissário para a Agricultura, Janusz Wojciechowski, anunciou que a comunicação do Executivo Comunitário tratará do subsídio aos fabricantes de fertilizantes com o objetivo de que a “UE não perca este setor” e evitar as dependências com países terceiros. De acordo com as declarações que o polonês tem emitido nos últimos meses, a estratégia comunitária terá como objetivo promover a ajuda aos produtores de fertilizantes com medidas, tais como: a transferência de dinheiro das empresas de energia ou o fim das tarifas de importação de amoníaco.
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Os oligopólios dos fertilizantes ameaçam a produção global de alimentos enquanto engordam seus lucros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU