14 Setembro 2022
Queimadas ilegais já duram um mês. Organizações denunciam ausência do poder público no controle das chamas. Proprietários do entorno se unem em brigadas.
A reportagem é de Cristiane Prizibisczki, publicada por ((o))eco, 12-09-2022.
Há um mês, os Parques Estaduais Cristalino I e Cristalino II, no norte do estado do Mato Grosso (MT), estão sendo destruídos pelas queimadas e o desmatamento sem controle. Segundo números divulgados nesta segunda-feira (12) pelo projeto Observatório Socioambiental de Mato Grosso (ObservaMT), 5.080 hectares de vegetação nativa já foram perdidos para as chamas, que se alastram desde o dia 13 de agosto.
Na área do entorno das unidades de conservação, o fogo se espalhou por mais 1.800 hectares, atingindo propriedades rurais e habitações. De acordo com o Observa MT, até o último domingo (11), a presença de instituições públicas de defesa do meio ambiente no combate ao fogo não havia sido registrada.
Devido à ausência do poder público, proprietários de terra do entorno das unidades formaram uma Brigada, mas a falta de equipamentos adequados e pessoal insuficiente tem dificultado os trabalhos.
No dia 16 de agosto, o Corpo de Bombeiros chegou a anunciar que o fogo estava controlado, mas, segundo a Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação (Rede Pró – UC), ele nunca foi, de fato, extinto.
“Acreditamos que seja o mesmo fogo que se espalhou, ele nunca foi controlado, na verdade. Até porque o efetivo do Corpo de Bombeiros que está na região é composto por apenas três brigadistas, sem equipamentos, sem aeronave, sem nada. Na semana passada sobrevoamos a área e descobrimos que o fogo está enorme”, disse ao ((o))eco a Diretora Executiva da Rede Pró-UC, Angela Kuczach.
As unidades de conservação têm ao todo 184.900 hectares e estão localizadas entre os municípios mato-grossenses de Alta Floresta e Novo Mundo, divisa entre Mato Grosso e Pará.
Os Parques Cristalino I e II estão entre as unidades de conservação mais importantes da Amazônia, com 600 espécies de aves registradas, das 850 existentes na parte brasileira do bioma. Dessas 600 espécies, 25 delas estão oficialmente ameaçadas de extinção.
Os parques também abrigam o macaco-aranha-de-cara branca (Ateles marginathus), espécie ameaçada que só ocorre naquela área e se tornou símbolo das unidades.
O macaco aranha-de-cara-branca é um mamífero que só existe na área do parque (Foto: Marcos Amend | Divulgação)
No último sábado (10), a Rede Pró-UC divulgou em sua conta no Instagram um vídeo do sobrevoo sobre o Cristalino II citado por Kuczach. Nele, é possível ver áreas de floresta amazônica primária sendo queimadas, muitas áreas desmatadas e outras desmatadas já totalmente transformadas em cinzas.
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“O que se vê aqui de cima é muita fumaça, muito fogo, dentro da área do parque. A gente está trocando área protegida de floresta amazônica por um deserto, botando fogo em tudo […] uma área que deveria estar sendo protegida para esta e futuras gerações”, diz Angela, no vídeo.
((o))eco entrou em contato com a Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso para saber quais medidas estão sendo tomadas para o controle das chamas, mas não recebeu resposta até o fechamento da matéria. O espaço permanece aberto.
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Fogo já atingiu mais de 5 mil hectares dos Parques Cristalino I e II, no Mato Grosso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU