08 Setembro 2022
“Que a palavra indiferença, que eu fiz tanta questão que fosse colocada no memorial do Holocausto em Milão, não vença sobre tudo. Rondine não é indiferente, Rondine é fantástica; Rondine, com sua escola de inclusão, é o contrário de quem te coloca diante da porta fechada. Obrigada, Rondine”, escreve Liliana Segre, senadora italiana, em artigo publicado por La Stampa, 06-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O vídeo depoimento da senadora vitalícia pela iniciativa "A escola restituída" 84 anos após a entrada em vigor do "Real Decreto-Lei n.1390 para a defesa da raça na escola fascista". Ontem, os ex-alunos judeus da época voltaram aos bancos junto com os 31 alunos do "Quarto Anno Rondine" na Cidadela da Paz em Arezzo.
Rondine é um lugar que eu amo e este é um dia especial, em que voltam as aulas. Eu, em 1938, queria cursar a terceira série. Estávamos à mesa e meu pai e meus avós tentaram com simples palavras me dizer que eu não poderia mais ir à escola. Por quê? Porque existem leis pelas quais as crianças judias não podem mais ir à escola. Era difícil demais para entender. Eu me tornei a menina invisível.
Lembro que meu pai pediu à minha professora que viesse em nossa casa para explicar que eu não havia sido expulsa. A professora entrou, eu esperava um abraço. E ela, irritada, me disse: "Não foi eu que fiz as leis raciais." E foi embora fechando a porta. Uma das muitas portas que se fecharam na minha cara e da minha família, a partir daquele momento. Eu me tornei a menina invisível. Dali não sobrou mais ninguém para nós. Até que entendemos que tínhamos que fugir. Daquela pequena família sentada ao redor de uma mesa, não sobrou ninguém.
Acabamos em Auschwitz, pela única culpa de ter nascido. Por algum estranho desígnio do destino, eu fiquei entre os sobreviventes. Ao voltar de Auschwitz, tivemos grande dificuldade para fazer até mesmo os nossos parentes acreditarem no que tínhamos visto. Essas coisas são difíceis de falar, às vezes se escrevem. Assim como fez Primo Levi. Ou se fica em silêncio por muitos anos e quando se conta não se sabe se quem te ouve consegue acreditar no teu testemunho.
Que a palavra indiferença, que eu fiz tanta questão que fosse colocada no memorial do Holocausto em Milão, não vença sobre tudo. Rondine não é indiferente, Rondine é fantástica; Rondine, com sua escola de inclusão, é o contrário de quem te coloca diante da porta fechada. Obrigada, Rondine.
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Itália. Crianças, vou lhes contar quando na escola sofri as leis raciais de 1938. Depoimento de Liliana Segre - Instituto Humanitas Unisinos - IHU