19 Agosto 2022
"Apresentando o contexto das cinco partes do Documento de Puebla (p. 88-93), a autora apresenta os fundamentos teológicos e espirituais da devoção e culto dados a Maria e refletido sobre eles, nos parágrafos dedicados a ela, no Documento desta Conferência realizada no ano de 1979 (p. 94-118). Em Puebla 'nossos bispos propõem Maria como mãe de Deus, modelo de Igreja e como mulher que precede o serviço eclesial de nossos povos'", escreve Eliseu Wisniewski, Presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar o livro "A figura da Virgem Maria nas Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e Caribe" (Santuário, 2022, 160 p.), de Lina Boff.
Conhecer a figura de Maria no magistério eclesial, sobretudo, nos Documentos da América Latina e Caribe, oriundos das Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e do Caribe é o escopo da obra: A figura da Virgem Maria nas Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e Caribe (Santuário, 2022, 160 p.), escrito pela professora emérita da PUC-Rio – Dra. Lina Boff. A referida autora salienta que o texto de todo deste livro é um convite para as pessoas que buscam conhecer Maria como a Mãe de Deus, nossa irmã e companheira na missão para a qual fomos pessoas chamadas pelo nome.
Nesta empreitada a autora recolhe todos os parágrafos e todas as citações espalhados em cada Texto Conclusivo das Conferências do CELAM que falam diretamente de Maria mostrando como ela é apresentada no contexto da evangelização que toca a todos nós e, além disso, dá a conhecer o contexto e os elementos teológicos, eclesiais e culturais que são portadores, para elaborar comentários, interpretações e prática pastorais.
Considerando que os Documentos das cinco Conferências do CELAM são aplicações das orientações vindas do Concílio Vaticano II (1962-1965), dos sínodos e dos papas, Lina Boff traz em primeiro lugar considerações sobre Maria no magistério eclesial da Lumen Gentium (p. 11- 51), na Exortação Apostólica Marialis Cultus de Paulo VI (p. 53-76). Quanto ao capítulo VIII da Lumen Gentium observa que nesta Constituição Dogmática, o Concílio Vaticano II nos “deu o primeiro desenvolvimento de um tratado da função salvífica de Maria, mantendo-se ligado à visão bíblica, patrística, litúrgica, em um modo que satisfez a preocupação ecumênica do diálogo com os irmãos de outras denominações cristãs, os quais admitem a autoridade da Bíblia dos antigos testemunhos dos Padres e da Liturgia. Deixou, outrossim, às várias escolas e tendências teológicas a porta aberta para ulterior aprofundamento das questões levantadas, que não entram no ensino conciliar” (p. 51). Quanto à Exortação Apostólica Marialis Cultus, de 1974 – a autora destaca que “é um texto visceral, porque fala da experiência de fé que o Papa testemunha e comunica aos fiéis, em sua originalidade. Essa originalidade perpassa todos os povos que manifestam à mãe do Senhor sua verdadeira piedade e seu culto e amor sincero” (p. 53).
Em seguida, Lina Boff comenta que na Conferência do Rio de Janeiro realizada no ano de 1955 (p. 77-78), Maria foi “apenas invocada” (p. 77), o mesmo se diga da II Conferência Geral realizada em Medellín no ano de 1968 “nesta Conferência, Maria é citada e invocada pelos bispos e cardeais de Roma e alguns outros bispos e cardeais do CELAM” (p. 81). Nas citações e invocações “Maria é suplicada como Mãe e companheira dos povos do Continente, desde sua primeira evangelização. E em outra vez, quando o bispo todos, em sua mensagem aos povos latinos, colocam sob a proteção de Maria, a padroeira das Américas, todo o trabalho da Conferência, com suas decisões tomadas na esperança e no vigor da fé, a fim que se antecipasse, entre nós o Reino de Deus” (p. 142).
Apresentando o contexto das cinco partes do Documento de Puebla (p. 88-93), a autora apresenta os fundamentos teológicos e espirituais da devoção e culto dados a Maria e refletido sobre eles, nos parágrafos dedicados a ela, no Documento desta Conferência realizada no ano de 1979 (p. 94-118). Em Puebla “nossos bispos propõem Maria como mãe de Deus, modelo de Igreja e como mulher que precede o serviço eclesial de nossos povos. Na segunda parte do Documento, encontram-se as orientações para a evangelização inspirada em Maria, dentro do título: ‘Desígnio de Deus sobre a realidade da América Latina’, com o subtítulo: ‘Maria, Mãe e modelo da Igreja’. São 22 parágrafos, de 282 a 303, e foi esse o documento que mais se estendeu ao falar de Maria de Nazaré, a Nossa Senhora invocada e cultuada por nossos povos” (p. 94).
Na Conferência de Santo Domingo realizada no ano de 1992 (p. 119-123), “as citações feitas a Maria se encontra espalhadas em todo o documento. Maria está incluída na Nova Evangelização entre os discípulos e a discípulas do Senhor. As primeiras citações invocadas foram extraídas dos discursos do papa S. João Paulo II e do episcopado latino-americano e caribenha. Essas citações não obedecem a uma continuidade do assunto sobre Nossa Senhora” (p. 119). No texto de Santo Domingo “as citações feitas a Maria continuam carregadas de uma teologia espiritual, que vê nela a chegada do Reino de Deus para todas as classes do continente – invocada como mãe educadora do nascente povo e selo distintivo da cultura continental” (p. 143).
Quanto à Conferência de Aparecida realizada no ano de 2002, Lina Boff salienta que no seu documento de conclusões, Maria é “apresentada como mãe, discípula e mestra de vida espiritual” (p. 127). Nesta perspectiva a autora ressalta que nos números 266-267 Maria “é colocada como missionária e modelo dos discípulos e das discípulas em missão. Em primeiro lugar, Maria é apresentada como a discípula que vive a máxima realização de sua existência, em íntima união trinitária, na qual é interlocutora do Pai, que traz o Verbo ao mundo para a salvação da humanidade e opera, com o nascimento da Igreja missionária junto aos apóstolos, com as outras mulheres e a família de Jesus, em Pentecostes. Essa participação no mistério de salvação do Pai leva Maria a estar ao pé da cruz para entrar no mistério da Aliança. Em segundo lugar, o (...) Documento confirma os elementos teológicos apontados na Lumen Gentium e em Puebla” (p. 126).
Livro "A figura da Virgem Maria nas conferencias gerais do episcopado da América Latina, de Lina Boff | Foto: Reprodução
Conhecer a mariologia latino-americana e caribenha... A presente obra A figura da Virgem Maria nas Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e Caribe fruto de muita pesquisa e dedicação cumpre o objetivo e ser um instrumento de fácil utilização para o estudo da mariologia presente nos documentos das Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano e caribenho. Documentos que levaram em conta as orientações dadas pelo Concílio Vaticano II e os Documentos Pontifícios publicados depois desse evento.
À luz destes Documentos a autora esclarece o quanto Maria está presente na elaboração de cada documento, de cada parágrafo e também em cada discurso feito em Assembleia, mostrando como isso, a importância de Maria na vida do Povo de Deus na América Latina, tendo-se em conta que neste continente, desde os tempos coloniais, Maria é invocada através de diversos títulos mariológicos – desde Guadalupe, patrona da América Latina à Aparecida, a padroeira do Brasil. Nas palavras de Puebla “Maria é, para a Igreja, motivo de alegria e fonte de inspiração, por ser a Estrela da Evangelização e a Mãe dos povos da América Latina” (n. 168).
Ao prefaciar este livro (p. 5-8) Dra. Andréia Cristina Serrato salienta que este escrito é uma inspiração para conhecer a mariologia contemporânea, pois “refere à Mariologia pós-Concílio Vaticano II até nossos dias, em que a autora costura toda a trama com muitas reflexões pertinentes nos tempos atuais” (p. 7). Eis, algumas das razões para a leitura deste livro que merece atenção e estudo, sendo muito oportuno para cursos sobre Mariologia ou para aqueles que querem compreender melhor porque Maria pertence à identidade própria de nosso continente.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A figura da Virgem Maria nas Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e Caribe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU