A educação na região metropolitana de Porto Alegre – Realidades e perspectivas

Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

Por: Patricia Fachin | 17 Mai 2022

 

Apesar de as escolas brasileiras terem retomado as aulas presenciais, os efeitos da pandemia de Covid-19 ainda são sentidos entre professores e alunos. Um deles diz respeito à perda de aprendizado nos dois anos em que somente uma parte dos estudantes teve acesso às aulas remotas. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, a perda de aprendizado no país entre os estuantes da Educação Básica foi de 72%. Outras pesquisas também indicam o crescimento da evasão escolar ao longo da pandemia. De acordo com dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica - Saeb, o abandono da escola triplicou.

 

As análises do Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, corroboram esses dados em escala local. Em suas análises periódicas sobre os indicativos sociais da região metropolitana de Porto Alegre, o Observatório destaca que "durante a pandemia do novo coronavírus, houve uma queda no número de alunos jovens de 55,8 mil do primeiro trimestre de 2020 para o mesmo período de 2021 na região".

 

O quadro social em relação à juventude é ainda mais preocupante porque além da queda no aprendizado e do crescimento da evasão escolar, outros dois fenômenos perduram entre os jovens: o desalento, isto é, jovens que desistiram de procurar trabalho, e o nem-nem, descrito na literatura como os jovens que nem trabalham nem estudam. Segundo dados do ObservaSinos, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, durante a pandemia, 38,9% dos jovens da região metropolitana de Porto Alegre, cerca de 18,2 mil, estavam em situação de desalento e, no primeiro primeiro trimestre de 2021, 158,8 mil jovens entre 15 e 29 anos não estavam estudando nem trabalhando. "Na Região Metropolitana de Porto Alegre, os que deveriam estar no ensino médio representam mais de 10%, sendo 2 mil jovens de 16 e 17 e 15,5 mil com 18 anos que não estão inseridos no mundo do trabalho e no mundo da educação". O perfil dos jovens, informa a análise, "é composto por 54,4% mulheres e 45,6% homens. 60,2% são filhos; 15,4% são chefes de família e 9,8% são cônjuge ou companheiro(a). A faixa etária com maior número de jovens que estão sem estudo e sem trabalho é de 23 anos, concentrando 19,9 mil".

 

A situação socioeconômica dos jovens interfere diretamente na inserção deles na escola. Ao analisar os impactos do primeiro ano da pandemia de Covid-19 entre estudantes, Rodrigo Manoel Dias da Silva, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos, disse, em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU, que "a educação em 2020 evidenciou o quanto as desigualdades socioeconômicas e culturais interferem na escola e nas relações de aprendizagem. A pandemia nos mostrou faces perversas da exclusão escolar, social e digital". A crise no sistema educacional nos últimos dois anos, especialmente nas escolas públicas, pontua, "mostrou os limites de nossa infraestrutura tecnológica. Tivemos muitos problemas com conexão à Internet, somados à ausência de suportes tecnológicos – notes, tabletes e smartphones – a todos". Na avaliação dele, a atual conjuntura educacional evidencia a necessidade de "investir em tecnologia apropriada, mas também renovar os processos de formação de discentes e docentes".

 

"A educação na região metropolitana de Porto Alegre – Realidades e perspectivas" será tema da palestra de Rodrigo Manoel Dias da Silva e Hildergard Susan Jung, professora do curso de Pedagogia e coordenadora e pesquisadora permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unilasalle, no Instituto Humanitas Unisinos - IHU. O evento virtual será realizado na próxima quinta-feira, 19-05-2022, e transmitido na página eletrônica do IHU, nas redes sociais e no Canal do IHU no YouTube às 17h30min.

 

De acordo com Marilene Maia, do ObservaSinos, o evento "tem o propósito de debater a realidade da educação na região metropolitana de Porto Alegre, dados e expressões de desigualdade potencializados pela pandemia". O evento, explica, "é resultado do trabalho que realizamos pelo GT do Trabalho nos anos de 2020 e 2021. Vamos realizar o debate com as duas universidades implicadas neste GT, a Unisinos e UnilaSalle, por meio dos dois Programas de Pós-Graduação. O evento dá a largada para dois outros trabalhos: um deles vai tematizar as desigualdades e o outro é a criação do ObservaEducação, que está em processo de constituição junto ao Observasinos. O ObservaEducação será criado para dar conta, inicialmente, da análise das desigualdades nos cenários educacionais. Esta pesquisa, apoiada pelo CNPq, será realizada na região do Vale do Sinos e foi levantada a partir do nosso trabalho junto às ocupações ao longo da pandemia, cuja realidade apontava crianças e adolescentes com 10, 11, 12, 13 e 14 anos que estudavam, porém não sabiam ler e escrever". 

 

 

Problemas sociais

 

Os problemas nas escolas brasileiras não estão restritos a questões educacionais ou ao déficit tecnológico, mas dizem respeito a necessidades primárias, como acesso à saneamento básico. As escolas gaúchas ilustram esse cenário: "53% das escolas públicas não têm acesso à rede de esgoto no Rio Grande do Sul" e "26% das escolas públicas do estado não têm acesso a abastecimento público de água, uma das condições fundamentais para fazer enfrentamento à pandemia da Covid-19", quantifica o ObservaSinos.

 

Pacto educativo global

 

A crise sanitária e seus efeitos diretos em todas as dimensões da vida humana e, em particular na área de educação, traz à tona a discussão sobre como viabilizar o Pacto Global pela Educação, proposto pelo Papa Francisco em setembro de 2019, meses antes de eclodir a pandemia de Covid-19. O Pacto Global pela Educação não é reduzido à discussão sobre práticas pedagógicas mais eficientes para garantir o aprendizado. Ao contrário, trata-se de um "convite ao diálogo sobre a forma como estamos construindo o futuro do planeta e sobre a necessidade de investir nos talentos de todos, porque todas as mudanças precisam de um caminho educativo para fazer amadurecer uma nova  solidariedade universal e uma sociedade mais acolhedora”, disse o pontífice. O Pacto, esclarece, tem como finalidade "reavivar o compromisso para e com as novas gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de ouvir com paciência, de diálogo construtivo e de compreensão mútua”. Nesse sentido, acrescenta, o Pacto visa a formação "integral, participavam e poliédrica" em contraposição a uma visão de educação utilitária, que "confunde educação com instrução”. Segundo o papa, a educação é uma "semente da esperança para a construção duma civilização da harmonia, da unidade, onde não haja lugar para esta pandemia terrível da cultura do descarte”.

 

 

Os sete compromissos do Pacto Educativo Global são:

 

 

 

Sobre os palestrantes

 

Hildegard Susana Jung é doutora em Educação pela Universidade La Salle, Campus Canoas, mestre em Educação pela URI, Campus Frederico Westphalen, especialista em Docência Universitária na Contemporaneidade e em Psicopedagogia Institucional, e graduada em Normal Superior pela Faculdade de Tecnologia e Ciências. Atualmente é docente do curso de Pedagogia, coordenadora e pesquisadora permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unilasalle. Tem experiência na Educação Básica, Ensino Técnico e de Idiomas, com ênfase na formação docente.

 

Rodrigo Manoel Dias da Silva é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos. Licenciado em Pedagogia pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS, é mestre e doutor em Ciências Sociais pela Unisinos. Suas pesquisas versam sobre Sociologia da Educação e Políticas Educacionais. Entre suas publicações, destacamos “Experiência e subjetivação política nas ocupações estudantis no Rio Grande do Sul” (Estudos Avançados, v. 34, p. 409-424, 2020) e “Questões urbanas e a agenda formativa da educação patrimonial” (Educação e Cultura Contemporânea, v. 16, p. 392-411, 2019).

 

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