25 Março 2022
A guerra no Iêmen entra em seu oitavo ano, nesta semana, com um aumento acentuado de mortes de civis, uma intensificação da fome e três quartos da população com urgente necessidade de apoio humanitário. Em suma, de acordo com a denúncia da Oxfam Intermón, o custo humano do conflito no Iêmen está aumentando drasticamente.
A reportagem é publicada por La Marea, 24-03-2022. A tradução é do Cepat.
A organização internacional argumenta que mais um ano de guerra significaria um sofrimento inimaginável para a população civil: quase dois terços das e dos iemenitas passarão fome neste ano, exceto se as partes beligerantes depuserem suas armas ou a comunidade internacional der passos para reduzir o enorme abismo entre a solicitação de fundos e o orçamento real. O programa de ajuda deste ano está atualmente subfinanciado em 70% e provê apenas 15 centavos diários para cada pessoa que precisa de ajuda, de acordo com a Oxfam.
A invasão da Ucrânia, além disso, piorou a situação, aumentando a preocupação com o fornecimento de cereais e óleo comestível. O Iêmen importa 42% de seu grão da Ucrânia e os preços já começaram a subir. Em Saná, o pão subiu 35% durante a semana em que iniciaram os combates (passando de 200 a 270 riais iemenitas).
“Às vezes, meus filhos dormem com fome. Se almoçamos, pulamos o jantar”, explica Ali Hassan Hadi, de Hajjah, pai de um filho e uma filha com desnutrição. “Temos que enfrentar a situação. Às vezes, só comemos pão, outras vezes podemos cozinhar algo, mas em geral não comemos bem”, acrescenta neste depoimento recolhido pela Oxfam.
“Após sete anos de guerra, as e os iemenitas desejam desesperadamente a paz e, em seu lugar, enfrentam mais mortes e destruição”, afirma Ferran Puig, diretor da Oxfam no Iêmen. “A violência e a fome estão novamente aumentando e milhões de pessoas não conseguem o básico para suas famílias. As pessoas não podem sequer bombear água para irrigar suas plantações e em regiões distantes, onde a população depende da água potável em caminhões, não conseguem pagar o aumento de preços, o que significa que precisam beber água que não é potável. Algumas cidades estão experimentando cortes de luz de 10 a 12 horas por dia. Quem consegue, utiliza painéis solares para carregar telefones celulares e conseguir uma pequena quantidade de energia”.
Segundo a organização, atualmente existem 17,3 milhões de pessoas famintas, com previsões de que esse número aumentará para 19 milhões até o final do ano (seis pessoas em cada dez e um aumento de mais de 8 milhões, desde o início do conflito). Quase cinco milhões de pessoas a mais do que em 2015, o primeiro ano do conflito, precisam de ajuda humanitária.
Desde que a equipe de monitoramento de direitos humanos da Organização das Nações Unidas se retirou, em outubro de 2021, a taxa de vítimas civis dobrou e agora chega a mais de 14.500 vítimas. Com 24.000 ataques aéreos, quatro em cada dez moradias das cidades foram danificadas durante o conflito. E nos últimos sete anos, mais de quatro milhões de pessoas se viram forçadas a fugir da violência.
“Sete longos anos de guerra também causaram uma crise de combustível. Os preços aumentaram 543% desde 2019, triplicando apenas nos últimos três meses. As filas nos postos são tão longas que pode levar três dias para chegar à bomba. O aumento dos preços dos combustíveis tem um efeito secundário, pois aumentam os preços dos artigos essenciais como alimentos, água e medicamentos, tornando-os inacessíveis para muitas pessoas que já têm problemas para satisfazer suas necessidades diárias. Também está provocando uma redução nas entregas de ajuda humanitária para as regiões mais distantes, pois os preços dos combustíveis aumentaram tanto que algumas comunidades recebem menos água e apoio em saneamento”, acrescenta a Oxfam.
Segundo explica em um comunicado, as e os agricultores não conseguem transportar produtos até os mercados, o que faz com que os preços dos produtos frescos aumentem ainda mais. Os ônibus e mototáxis estão ficando inacessíveis, fazendo com que muitas pessoas não consigam pagar o transporte até os centros de saúde e outros serviços vitais. Os centros de saúde de todo o país, em breve, podem se ver forçados a desligar equipes médicas que salvam vidas por causa da falta de combustível. Nos últimos dias, os meios de comunicação locais de Taiz informaram que o hospital de Al-Thawra suspendeu as cirurgias devido à escassez de combustível.
“O Iêmen precisa desesperadamente de uma paz duradoura para que as pessoas possam reconstruir suas vidas e seus meios de vida”, conclui Puig. “Sem paz, o ciclo de miséria continuará e se aprofundará. Até lá, é fundamental que haja financiamento adequado para a ajuda humanitária”.
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Iêmen, sete anos de guerra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU