Breves do Facebook

24 Fevereiro 2022

 

Antonio Spadaro, SJ

 

“Vorrei appellarmi a quanti hanno responsabilità politiche, perché facciano un serio esame di coscienza davanti a Dio, che è Dio della #pace e non della #guerra; che è Padre di tutti, non solo di qualcuno, che ci vuole fratelli e non nemici”.

"Gostaria de apelar aos que têm responsabilidades políticas, porque fazem um sério exame de consciência diante de Deus, que é o Deus da #paz e não da #guerra; que é o Pai de todos, não só de alguns, que quer irmãos e não inimigos. ”

#PapaFrancesco

 

 

 

Paolo Gamberini

 

Pensare che sia l'Ucraina che la Russia si sono schierati in modo PLATEALE e OSTINATO dalla parte della FEDE CRISTIANA.

Questa guerra è l'ennesima prova che dove c'è FONDAMENTALISMO, LETTERALISMO, DOGMATISMO e rifiuto della MODERNITÀ, il potenziale di GUERRA è sempre latente.

In Nomine Christ. Amen

Pensar que tanto a Ucrânia quanto a Rússia se alinharam de forma PLATEAL e OSTINADA pela FÉ CRISTÃ.

Esta guerra é mais uma prova de que onde há FUNDAMENTALISMO, LETERALISMO, DOGMATISMO e rejeição da MODERNIDADE, o potencial da GUERRA está sempre latente.

Em Nomine Cristo. Amemmmm

 

 

 

José Luis Oreiro

 

Eis porque a gasolina está cara. Porque bozo foi eleito pra redustibuir renda do povo brasileiro para os ricos do Brasil e do exterior. Lucros obscenos da Petrobras de R$ 106 bilhões, fruto do aumento dos preços do derivados. Se não fosse pouco a empresa distribuiu de lucros e dividendos em 2021 cerca de R$ 101,4 bilhões (R$ 72,1 bilhões já pagos e R$ 29,3 bilhões com previsão de pagamentos para 13/4/2022)

 

Petrobras eleva pagamento de dividendos a acionistas em 2021; total passa de R$ 101 bilhões

A estatal já havia informado a distribuição de R$ 63,4 bilhões em dividendos relativos ao exercício do ano passado

 

Apolo Heringer Lisboa

 

HIDRONEGÓCIO É ESTELIONATO ECONÔMICO SOCIAL

Agora que tiramos o véu e as pessoas perceberam vai ser difícil manterem o engodo sem resistência.

 

 

Apolo Heringer Lisboa

 

PAMPULHA

Dobra volume de lixo na barragem neste período chuvoso.

Matéria d'OTempo, p.27, faz boa matéria a respeito. Mas ... ao trazer minientrevista comigo não expressa exatamente o que penso. Sempre há este risco quando o trabalho do jornalista é feito às pressas. Espero ter a oportunidade de voltar ao tema. Sempre há uma forma de falar, sintetizando, e outra forma de ouvir e resumir. É da vida, é da comunicação, prefiro quando sou gravado.

 

 

 

Hugo Albuquerque

 

Seriam só os EUA, ou só a Rússia imperialistas? Ou ambos? A questão não é essa. Evidentemente, são os EUA a expandir sua área de influência, não a Rússia nessa conversa, mas precisamos entender o que é o Imperialismo na globalização tardia.

A grande contribuição dos bolsheviks foi a noção de desenvolvimento desigual e combinado, o que permitiu aos russos virarem a geopolítica ao avesso como ciência do imperialismo no começo do século 20.

A obra de Lenin, sobretudo o seu seminal "Imperialismo, estágio superior do capitalismo", de 1916, é uma obra que diz respeito ao estado derradeiro do capitalismo que desembocou na Primeira Guerra. Mas o autor, lembremos, é marxista autêntico, logo dialético.

O que Lenin propõe ali não é uma descrição da "essência" do Imperialismo, mas um estudo do movimento real que desembocou no Imperialismo - logo, buscando entender para onde ele vai, e como vai. Lenin não é metafísico.

Superado esse ponto, veio a Segunda Guerra, com a ascensão de jovens potências imperialistas como Alemanha, Itália e Japão, bem mortíferas, e a aliança tática entre URSS e as velhas potências imperialistas. Veio a Guerra Fria com a disputa entre os vencedores.

Dois fatos importantes aconteceram: a maneira como surgiu um sistema capitalista global, já nos anos 1970, com os EUA servindo como instrumento, performando o hegemon, usando sua moeda nacional como global, sua indústria cultural etc. E o fim do socialismo e sua absorção.

Nos anos 1990, temos um sistema capitalista global, absorvendo inclusive o bloco socialista. Mas ainda havia dois elementos peculiares (1) a maneira como ainda persistem aparatos nacionais, burocráticos ou militares; (2) a inserção pardoxal de China e Rússia.

O fato dos EUA, como observa bem Varoufakis, administrarem a moeda global, lhes permite manter déficits: os EUA importam bens e serviços como um colônia, mas são retroalimentados por seus "vendedores", aliados árabes, europeus, japoneses, mas os chineses.

Ao emitir o dólar, sediar o exército com funções globais, possui a esfera de produção de produção de subjetividade, por um lado, produz um privilégio exorbitante para o povo americano. Isso cria elites que ou querem desglobalizar ou evitar a dialética da globalização.

Os EUA são, sem rivais, o hegemon global, como com razão veem Negri & Hardt, mas eles não são como um Império qualquer, mas o ator nacional nacional que desempenha um papel de liderança global - e no fundo se beneficiam disso.

A dialética empurraria a globalização na direção de uma moeda global - a partir do dólar, como, regionalmente, o marco alemão se tornou o euro --, mas aí entra algo que certamente Negri & Hardt subestimaram: o poder de reação das burocracias nacionais.

Sejam os cada vez mais isolacionistas republicanos, ou os democratas, a quem não interessa que a globalização caminhe para além disso. Se isso acontecesse, não é a classe trabalhadora americana que perderia, mas sua elite bilionária.

Contra isso, existem dois polos aí: o peculiar socialismo de mercado chinês, que se interessa na aceleração da internacionalização capitalista. E do outro, a Rússia, cujo poder militar é desproporcional para um país do seu peso econômico e seu lugar na globalização.

É nesse sentido que os EUA querem expandir a Otan. A Otan aqui como polícia global, mas encabeçada pela estrutura nacional reminiscente dos EUA. Querem para dobrar a Rússia e conter a China.

Trump argumentava contra a Otan porque, muitas vezes, o gasto americano nele equivalia à proteção não das fronteiras americanas, mas de uma ordem global. Os democratas gostam desse gasto, porque lhes dá poder, lhes permitindo ter as rédeas da globalização nas mãos.

O argumento cínico de que a Ucrânia, "país soberano", iria aderir a Otan é uma farsa. Simplesmente, ela cederia seu território para a Otan operar e emparedar a Rússia - que está cercada por inúmeras bases americanas e da Otan.

E interessa dobrar a Rússia por uma razão: controlar o abastecimento de energia para a Europa, evitar a desdolarização da economia global (que, ao mesmo tempo, é uma descarbonização dela, uma vez que petróleo e dólar guardam uma identidade).

A Rússia se tornou, em grande medida, exportadora de bens primários (energia), mas sua situação é paradoxal pela herança do aparato bélico soviético. Mas ela é só parte da periferia do globo sendo enquadrada. E EUA querem evitar que o Império global vire república.

 

Juremir Machado da Silva

 

Eduardo Leite aderiu cedo ao autocancelamento: não poder correr à reeleição por vontade própria. Agora só lhe resta descumprir a palavra dada ou bandear-se para o PSD e concorrer à presidência da República como azarão e, segundo Bernardo Mello Franco, "mau perdedor", pois foi derrotado nas prévias do PSDB.

 

Mídia NINJA

 

O Tribunal de Contas da União (TCU) compartilhou com a Procuradoria-Geral da República (PGR) os documentos referentes ao dinheiro que o ex-juiz Sérgio Moro recebeu na banca de advocacia da Alvarez & Marsal, empresa que o contratou logo que ele abandonou o governo Bolsonaro.

Desde o começo dessa investigação, recai sobre Moro a suspeita de que ele recebeu, como advogado, os valores das empresas que ele havia julgado, condenado e avalizado acordos de leniência.

 

 

 

 

Fernando Altemeyer Junior

 

Um apelo ao arcebispo metropolitano de Curitiba Dom José Antonio Peruzzo.

 

Rudá Guedes Ricci

 

Ontem, postei a proposta geral da elaboração do programa do Unidade na Diversidade. Hoje, postarei o diagnóstico que elaboramos sobre o Brasil.

Lá vai:

 

UM DIAGNÓSTICO INICIAL SOBRE OS DILEMAS DO BRASIL

 

1. O Brasil vive, no amanhecer da terceira década do século XXI, a mais grave crise do sistema capitalista e de seu processo agressivo de reprodução e acumulação.

2. As profundas crises ecológica e do sistema produtivo, de consumo e da exploração predatória, destroem biomas nacionais a olhos vistos. Quase diariamente somos tomados por tragédias sociais, de chuvas torrenciais, desabamentos ou secas que indicam nitidamente o esgotamento do modelo de desenvolvimento dilapidador e irracional. Ailton Krenak nos desafia questionando que a própria ideia de humanidade parece em risco, se dissolvendo com essa sequência de eventos que estamos experimentando.

3. O que chamamos de crise é mais que conjuntural e limitada às fronteiras territoriais. É uma crise de um padrão de produção e de consumo que implica na mudança desse modelo de sociedade baseado na exploração humana e na apropriação predatória dos ecossistemas. Parece cada vez mais urgente a adoção de uma plataforma socioambiental fundada em experiências populares e de autogestão territoriais que apontem para economias socialmente distributivas e ecologicamente regenerativas.

4. Experiências sociais disseminadas por todo o país contradizem leituras apressadas que sugerem certa passividade popular. Ao mesmo tempo em que expressam estratégias de resistência e sobrevivência em um mundo cada vez mais violento e hostil, essas experiências inspiram caminhos para a construção, a partir dos territórios, de novos padrões de convivência social e de relação com a natureza. Portanto, não há passividade popular, mas necessária revisão dos métodos de mobilização e organização social.

5. Neste cenário de crise destaca-se no Brasil a evidente omissão de autoridades públicas, em especial, do governo federal despreparado e que se pauta exclusivamente pela agenda de desconstrução de políticas públicas, ataques retóricos e ameaças aos direitos democráticos e ao Estado de Direito. Trata-se de um governo federal de nítido caráter fascista, orientado pelo discurso do ódio, da defesa de um regime autoritário e de desqualificação das agendas dos direitos sociais e humanos.

6. O desmonte persistente de políticas públicas pelo governo federal de extrema-direita provocou a reação de organizações populares e movimentos sociais que organizaram ações emergenciais de solidariedade ao longo do território nacional, criando redes de distribuição de alimentos e de atenção à saúde. Esta ampla rede envolveu sindicatos de trabalhadores, movimentos sociais, organizações populares e pastorais sociais, reafirmando uma cidadania ativa que revela o seu potencial político quando da retomada do desenvolvimento social brasileiro

7. Merece destaque o papel de vanguarda e o desprendimento de amplos setores do funcionalismo público engajado na prestação de apoio e serviços à toda população brasileira, seja no caso dos esforços dos professores em ensino remoto ou híbrido, dos servidores da saúde e do SUS e de tantas outras categorias que estiveram na linha de frente durante a pandemia de Covid19.

8. As crises política, econômica e social do país que se instalaram após o impeachment de 2016 e se agravaram no governo Bolsonaro, agudizaram o cenário dramático da pandemia de Covid-19. A crise sanitária não é responsável pela atual situação do país.

9. A inflação, o desamparo, a fome, o desemprego e a precarização do trabalho causam uma profunda dessocialização que atinge milhares de famílias (em especial, as chefiadas por mulheres negras e pardas), implicando em um real aumento da população em situação de rua. A causa desse cenário dramático é a incompetência e o descaso que marcam um projeto ideológico da cartilha neoliberal, reconhecidamente desumano, genocida e desastroso para o país.

10. No campo econômico ano após ano a indústria de transformação desaparece no PIB. Se nos anos 1980 o Brasil era um dos países com maior e mais avançado parque industrial entre os países emergentes (33% do PIB vinha do setor industrial), agora amargamos o retorno do país a mero produtor e exportador de commodities agrícolas e minerais que não geram valor agregado e demandam baixa qualificação dos trabalhadores empregados, diminuindo a base salarial nacional. São Paulo, o Estado-símbolo da indústria nacional, acaba de perceber que suas exportações de commodities superaram a exportação de manufaturados. A decadência da economia nacional jogou a participação da indústria no PIB nacional a 10%. Tal padrão de desenvolvimento econômico agrava a obscena concentração fundiária do país, uma vez se faz a partir da dinâmica expansiva do agronegócio e das grandes empresas de mineração sobre os biomas e sobre territórios tradicionalmente ocupados pela agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais.

11. Enquanto as taxas de investimento declinam vertiginosamente explodem as parcelas de receitas do tesouro transferidas ao capital rentista, especulativo, que aposta na dívida pública, reafirmando assim a hegemonia dos bancos sobre a indústria.

12. O desinvestimento público nas políticas sociais praticado pelos governos foi instituído pela chamada PEC do Teto de Gastos, que destrói as políticas de proteção social previstas na Constituição Federal. A redução do financiamento público em saúde, educação e assistência social causa consequências graves para a população ao mesmo tempo em que favorece os interesses do mercado. Esta é a tônica no que tange à queda de investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação, justamente no momento em que tais áreas se revestem de importância fundamental para o enfrentamento da situação de crise sanitária.

13. As soluções apresentadas ao país apenas reforçam a tragédia em curso. São variações da pregação da austeridade que quebraram países como a Grécia e que aqui no Brasil ganham a roupagem da “Responsabilidade Fiscal” (através da Lei Complementar 101, de 04 de maio de 2000), que se concretiza pelo irracional, desumano e irresponsável socialmente teto de gastos primários, que atinge em cheio os gastos com saúde e educação, mas liberam riquezas nacionais para pagar a dívida externa.

14. A política econômica do atual governo, baseado no tripé câmbio flutuante, regime de metas de inflação e metas fiscais anuais, reduz drasticamente o poder de compra dos trabalhadores brasileiros, mas alimenta a ciranda de especulação.

15. Trata-se de uma proposta de acumulação improdutiva que não gera emprego, não gera renda e aumenta o número de super ricos em nosso país. Desde março de 2020, quando a pandemia foi reconhecida no Brasil, o país ganhou 10 novos bilionários. O aumento da riqueza dos bilionários durante a pandemia foi de 30% (US$ 39,6 bilhões), enquanto 90% da população teve uma redução de renda de 0,2% entre 2019 e 2021. Há algo de muito perverso nesta lógica nacional que alimenta e acentua o aumento da desigualdade social no país.

16. O Congresso Nacional, por sua vez, aprova sucessivas emendas constitucionais que destroem o sistema de seguridade social e impulsionam um agressivo processo de privatizações, supressão de direitos dos trabalhadores, dos povos originários e das comunidades tradicionais.

17. Esse projeto econômico de característica neoliberal vem aprisionando cada vez mais o orçamento público brasileiro: do lado das receitas através de um sistema tributário altamente regressivo, que tributa os mais pobres e isenta os mais ricos; do lado das despesas, através de inúmeras regras que dificultam os investimentos públicos, acentuando assim o abismo social.

 

Andreza Mantovani

 

Em Sociologia Jurídica, vamos discutir a pauta recente do STF. Choro pelos números. Sorrio pela animação dos alunos com o tema.

 

 

 

Paulo Artaxo

 

Boa matéria no Estadão de hoje, do Carlos Bocuhy refletindo sobre mudanças climáticas, eventos extremos e a "inércia" governamental. Acho que não é inércia, é desprezo pelos pobres e vulneráveis. Desprezo por quem mora na rua, é desprezo pelos que passam fome.

De acordo com o Cemaden, o Brasil tem mais de 8 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco. O novo relatório do IPCC aponta que, sem a devida adaptação, as mortes em função de inundações crescerão em 130% dentro do cenário que se prenuncia com profundas mudanças no clima do planeta. Ou seja, se nada for feito, vamos dobrar a incidência de eventos como o de Petrópolis.

A matéria termina assim: "Precisamos democratizar a política de gestão dos riscos climáticos, garantindo a adaptação por meio de uma efetiva participação dos interessados em sua própria sobrevivência."

Matéria integral do Estadão.

 

Paulo Artaxo

 

As inundações, as mudanças climáticas e a inércia governamental

Carlos Bocuhy*

O homem, de todas as espécies, foi a única capaz de se estabelecer em quase todas as regiões do mundo em função de sua capacidade de adaptação. Essa capacidade está sendo testada pelas alterações climáticas.

A ONU divulga nesta semana o relatório do IPCC, onde aponta que, sem a devida adaptação, as mortes em função de inundações crescerão em 130% dentro do cenário que se prenuncia com profundas mudanças no clima do planeta.

A segurança depende da adaptação, no mínimo, para quatro em cada 100 brasileiros. Segundo o Cemaden, o Brasil tem 8.266.566 pessoas vivendo em áreas de risco. No Sudeste, a população sob risco chega a 10 para cada 100. Só nas capitais do Sudeste e suas regiões metropolitanas, o Cemaden aponta 3.205.132 pessoas expostas ao risco.

Para enfrentar a inércia governamental revelada neste universo de desconformidades que cresceu sob as vistas grossas do poder público, considerando ainda a gravidade de suas consequências retratadas na perda de centenas de vidas soterradas em 2022, há de se considerar, em primeiro lugar, o porquê de os alertas de riscos geológicos não se transformarem em políticas públicas.

Ressalto dois aspectos importantes na construção dos processos adaptativos às mudanças climáticas: a informação e a participação social. Sobre a informação, nada há de mais avassalador do que a falsa segurança. Saber que não há segurança faz com que a comunidade tente se proteger, mas a falsa segurança traz a armadilha letal do imobilismo. A intempestividade das mudanças climáticas ainda não se transformou em informação acessível para as comunidades envolvidas.

Além do histórico descaso e omissão com relação às áreas de risco, que deve ser tratado com a devida penalização, há de se considerar a rápida defasagem nas políticas públicas de adaptação climática no Brasil. As ações governamentais têm sido dirigidas, quando são, dentro da série histórica da pluviometria do passado, com base em um índice de chuvas que já não é mais referência para segurança no atual cenário da aceleração das mudanças climáticas.

Deve-se ainda identificar o risco das áreas não mapeadas e atualizar as áreas sujeitas a deslizamentos e inundações em função dos fatos novos. As metodologias de avaliação de riscos deverão contemplar a intensidade das mudanças do clima, assim como devem ser mais efetivos e responsáveis os processos de regramento e fiscalização para o uso e ocupação do solo.
Licenciamentos ambientais devem considerar novas metodologias com o concurso de aporte científico especializado, assim como os projetos de contenção e drenagem já construídos precisam ser redimensionados.

Conhecendo as mazelas do sistema de gestão, onde o conhecimento não se transforma com facilidade em políticas públicas, as soluções não serão possíveis sem um processo integrado de controle social às iniciativas de adaptação. Por exemplo, agregando ao Programa Estadual de Prevenção de Desastres Naturais (PDN) do Estado de São Paulo elementos de controle social. Seu último informe técnico, de 2016, traz criteriosas recomendações complementares sobre como evitar, reduzir riscos e enfrentar desastres naturais.

Há de se reconhecer o bom trabalho geotécnico desempenhado por instituições sérias e responsáveis, como o centenário Instituto Geológico do Estado de São Paulo, inexplicavelmente extinto pela atual gestão.

Considerando o acúmulo histórico de conhecimento técnico e a possibilidade de sua atualização frente às mudanças climáticas, os levantamentos de risco devem chegar às instâncias decisórias providos com a eficácia de “watchdogs”, com mecanismos de controle social.

O Brasil precisa urgentemente da instalação de comitês com participação da sociedade local, especialmente das comunidades diretamente afetadas, para acompanhar as ações preventivas, corretivas e a destinação e a aplicação de recursos orçamentários.

Segundo preconiza o Princípio 10 da Declaração do Rio de 1992, ratificado pelo Brasil, “no nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios”. Este princípio foi ratificado na Convenção de Arhuss (1998) e pelo Acordo de Escazú (2018).

A participação social deve ser assegurada por leis específicas, evitando o desmantelamento de conselhos por meio de decretos como fez o governo de Jair Bolsonaro.

Como a gestão de áreas de risco se encontra sob competência estadual e municipal, projetos de leis estaduais serão bem-vindos na criação de comitês de participação social para o acompanhamento das áreas de risco, cumprindo o que dispõe a Lei da Política Nacional das Mudanças Climáticas (12.187/2009) em seu art. 3º: “A PNMC e as ações dela decorrentes, executadas sob a responsabilidade dos entes políticos e dos órgãos da administração pública, observarão os princípios da precaução, da prevenção, da participação cidadã, do desenvolvimento sustentável e o das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, este último no âmbito internacional (…)”.

Não haverá adaptação climática para a sobrevivência da população ameaçada sem que se proporcione total transparência dos atos públicos, seja nos aspectos estruturais e não estruturais, desde a previsão climática por um sistema de meteorologia eficiente e com capacidade informar a sociedade, especialmente as comunidades em risco; o mapeamentos de riscos geológicos com metodologia adequada e atualizada para a avaliação dos impactos dos eventos extremos; políticas públicas de adaptação, com dotação de recursos para obras de estabilidade geológica e remoção de populações; aspectos preventivos de controle do uso do solo com fiscalização eficiente e a oferta de projetos habitacionais; entre outros.

Enfrentar as mudanças climáticas demanda forte vontade política internacional para a eliminação dos gases efeito estufa (GEE), mas é preciso promover a adaptação com participação direta da sociedade envolvida, exercendo o controle social de forma colegiada, com representatividade e legitimidade.

Precisamos democratizar a política de gestão dos riscos climáticos, garantindo a adaptação por meio de uma efetiva participação dos interessados em sua própria sobrevivência.

 

Faustino Teixeira

 

A ESCRITA DA ORALIDADE NA LITERATURA INDÍGENA

 

com Ailton Krenak e Aparecida Vilaça

 

Entre os povos indígenas, a comunicação é essencialmente oral, tanto nos contextos mais formais de transmissão da tradição quanto na partilha cotidiana de informações. O que hoje chamamos de literatura indígena é tributária de longevas relações com não indígenas que, dentre muitas outras coisas, envolveram a introdução da escrita, possibilitando assim a inscrição dessas narrativas em papel.

O curso examina textos escolhidos de autoria indígena – como A Queda do Céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert; Metade Cara, Metade Máscara, de Eliane Potiguara; Ideias para Adiar o Fim do Mundo, de Ailton Krenak, entre outros – focalizando, não somente o seu conteúdo, mas também as condições de sua produção que, por vezes, contam com a mediação de ‘escribas’ não indígenas. Além de outras considerações sobre esses textos, o curso discute com os participantes questões como: O que acontece nesse processo de passagem da oralidade à forma escrita? O que se perde e o que se ganha?

via Zoom

Datas: 16, 23, 30 de março e 6 de abril, quartas
Horário: 18 às 20h

 

 

 

 

Faustino Teixeira

 

"A sabedoria do longo caminho que acompanha a velhice à sua despedida deve ser vivida como uma oferta de sentido para a vida, não consumida como a inércia da sua sobrevivência.
Se a velhice não for restituída à dignidade de uma vida humanamente digna, está destinada a fechar-se num desânimo que rouba a todos o amor.

Este desafio de humanidade e de civilização requer o nosso empenho e a ajuda de Deus. Peçamo-lo ao Espírito Santo.

Com estas catequeses sobre a velhice, gostaria de encorajar todos a investirem os seus pensamentos e afetos nos dons que ela tem em si e proporciona às outras idades da vida.

A velhice é um presente para todas as idades da vida. É um dom de maturidade, de sabedoria. A Palavra de Deus ajudar-nos-á a discernir o sentido e o valor da velhice; que o Espírito Santo nos conceda também os sonhos e as visões de que necessitamos.

E gostaria de salientar, como ouvimos na profecia de Joel no início, que o importante não é apenas que o idoso ocupe o lugar da sabedoria que tem, de história vivida na sociedade, mas também que haja um diálogo, que fale com os jovens.

Os jovens devem dialogar com os idosos, e os idosos com os jovens. E esta ponte será a transmissão de sabedoria à humanidade"

Francisco
Audiência Geral de 23/02/2022

 

 

 

 

Cesar Benjamin

 

Um amigo me pergunta como anda a preparação do meu livro sobre metodologia da ciência, com ênfase em biologia. Ele anda bem devagar, pois a queda nas vendas da editora forçou-me a pegar trabalhos para fora, para sobreviver. Hoje terminei um trabalho grande – e bem chato. A partir de amanhã vou me replanejar.

Mesmo assim, o livro não parou. Procuro ler uma hora, tomando notas, no final de cada jornada, antes de me recolher. Isso gera textos bem curtos, ou notas, compatíveis com o roteiro que estou seguindo. Escrevi há dois dias o mais recente deles, sobre o trabalho de Uexküll. Está aí embaixo. É mais uma palhinha do que virá a ser o texto maior.

Num mundo pegando fogo, cá estou, estudando comportamento animal...

* * *

Sistemas fechados, por definição, não podem ser observados, pois não interagem com o ambiente; a rigor, nem podemos dizer se existem ou não. Pelo mesmo motivo, nunca se observa um objeto completamente isolado. O ato de observação implica algum tipo de interação entre observador e sistema observado. O que se observa são as interações desse sistema com o mundo. Jakob von Uexküll (1864-1944), biólogo estoniano de língua alemã, levou essa constatação às últimas consequências. Chegou assim ao conceito de Umwelt, o conjunto de percepções específicas de cada espécie: cada uma tem um mundo próprio, e só nele pode ser entendida.

Uexküll diz que nós, humanos, fazemos metainterpretações, pois interpretamos as interpretações que os demais seres fazem dos signos da natureza. Seu exemplo do carrapato é notável. Esses animais podem viver vários meses sem se alimentar, mas precisam ingerir sangue para gerar ovos fecundados. Contam com apenas três canais de percepção: olfato, tato e sensação de temperatura: “O carrapato fica inerte sob a ponta de um galho, no mato, numa posição em que pode cair sobre um mamífero que passe. [...] De todos os fatores estimulantes produzidos pelo corpo mamífero, apenas três, em uma sequência específica, se tornam estímulos para ele.”

Ou seja, apenas três signos fazem o carrapato executar todas as operações de que necessita: o odor do ácido butírico, presente no suor de todos os organismos de sangue quente, produz um impulso em suas patas; a textura do couro peludo, onde cai, produz signos táteis; e o contato com a pele da vítima produz a sensação de calor. “Daquelas centenas de fatores potencialmente estimulantes produzidos pelo corpo do mamífero, somente três dão pistas para o carrapato.”

Para o observador humano, o mamífero que passa embaixo do galho é um objeto constante, que se desloca, mantendo-se idêntico no espaço e no tempo. Para o carrapato, porém, o mamífero, como tal, não existe: aparece de repente como uma nuvem de cheiro, transforma-se em uma floresta de obstáculos e, por fim, vira uma fonte de calor. É só isso o que o carrapato “conhece”.

Aqui, salta à vista uma especificidade dos organismos vivos: os efeitos externos só agem sobre eles e se transformam em estímulos quando são captados como signos, que variam conforme as espécies. Cada sistema de signos possui seu código, e somente os que o conhecem podem entender as mensagens transmitidas por ele.

O observador humano precisa se colocar na posição do organismo observado, para tentar decifrar um código que desconhece. Por isso, todo o conhecimento de organismos vivos depende da nossa capacidade de interpretar interpretações. Para Uexküll, a grande questão é como o observador humano, com seu sistema próprio, pode reconhecer, decodificar e representar processos que ocorrem no demais seres vivos sem distorcê-los de forma antropomórfica. No exemplo do carrapato, não se pode dizer que o animal conheça as mesmas coisas que conhecemos e se oriente no tempo e no espaço, tal como nós os compreendemos.

* * *

Embora lentamente, la nave va.

 

Monja Coen

 

Comunicação não verbal

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