05 Janeiro 2022
O papa de 85 anos planeja fazer várias viagens em 2022 e talvez finalmente publicar o tão aguardado documento sobre a reforma da Cúria Romana.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 03-01-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O que será este ano para o Papa Francisco?
Poucas vezes esta pergunta foi tão difícil de responder. Isso porque a ressurgência da pandemia global ameaça minar muitos projetos e anúncios pelo mundo.
Todavia, o papa de 85 anos não pretende deixar a covid-19 interromper suas atividades e parece determinado a manter seu trabalho de reforma da Igreja, apesar da presença do vírus.
Na verdade, ele está pronto para anunciar diversos compromissos e projetos.
Em uma entrevista de natal para dois jornais italianos – La Stampa e La Repubblica – Francisco confirmou que, “com a vontade de Deus”, continuará suas viagens.
Embora nada tenha sido anunciado oficialmente, há muitos projetos planejados, em estágios mais ou menos avançados.
George Jacob Koovakad, padre indiano que organiza a viagem papal, está trabalhando em várias viagens.
Várias delas já foram anunciadas. O papa poderia fazer visitas importantes ao Líbano e à República Democrática do Congo neste verão.
E fala-se que ele irá ao Caminho de Compostela, local de peregrinação, na Espanha, no início de agosto, enquanto fará uma visita mais extensa à Hungria em dezembro próximo.
Francisco também anunciou que aceitou um convite para ir ao Canadá e provavelmente irá visitá-lo no outono.
Ainda não está claro se o papa finalmente poderá fazer a tão desejada visita ao Sudão do Sul.
Mas as autoridades civis do país africano reiteraram sua disposição de receber uma visita papal quando tiveram encontros pré-natalinos com o arcebispo Paul Gallagher, o equivalente do Vaticano a “ministro das Relações Exteriores”.
Francisco disse repetidamente que iria para o Sudão do Sul apenas quando um progresso significativo fosse feito nas negociações de paz em andamento.
Finalmente, acredita-se que as visitas papais ao Timor Leste e à Papua-Nova Guiné, planejadas antes do início da pandemia, ainda estejam na agenda.
Além da crise mundial de saúde e da total imprevisibilidade de como a pandemia pode se desenvolver, aqueles que organizam visitas papais ao exterior também devem levar em consideração a própria saúde do papa idoso.
“Não acho que ele fará viagens muito longas de mais de uma semana”, disse um amigo de Francisco.
O papa está programado para visitar a cidade italiana de Florença no dia 27 de fevereiro para se encontrar com prefeitos e bispos de todo o Mediterrâneo.
Conforme demonstrado em sua última viagem a Chipre e à Grécia no início de dezembro, ele continua particularmente atento à crise migratória.
Durante sua próxima visita à Florença, ele terá a oportunidade de encorajar os esforços de paz feitos pelos países ribeirinhos do Mar Mediterrâneo.
O papa não será menos ativo na frente doméstica em Roma, já que deve realizar um consistório para criar mais cardeais no início deste novo ano.
O número de eleitores em caso de conclave cai abaixo da marca simbólica de 120 no final desta semana (7 de janeiro), quando o cardeal chileno Ricardo Ezzati Andrello completa 80 anos.
A decisão de criar novos cardeais pertence apenas ao papa, e a data de um consistório costuma ser uma surpresa até o último momento.
É o mesmo que acontecerá com a eventual publicação de uma nova constituição para formalizar a reforma da Cúria Romana.
O documento era aguardado há alguns anos, e entende-se que as revisões jurídicas do texto já foram concluídas.
Há quem preveja que a nova constituição será publicada no dia 22 de fevereiro, festa da Cátedra de São Pedro.
Nos próximos meses, Francisco também estará colocando seu peso em todos os esforços para promover o processo sinodal que lançou em outubro. Ele está apostando no futuro da Igreja na implementação da “sinodalidade” em toda a comunidade católica global.
O atual processo sinodal é uma parte essencial da preparação da próxima assembleia do Sínodo dos Bispos, que terá lugar em outubro de 2023 em Roma. O objetivo do Papa é estimular uma nova dinâmica na Igreja, baseada no diálogo e na escuta mútua entre todos os católicos.
Francisco chamou isso de um novo “estilo” durante sua reunião pré-natalina com altos funcionários da Cúria.
E alguns em Roma não hesitam em comparar o processo sinodal ao Concílio Vaticano II, uma vez que poderia abalar certos métodos de tomada de decisão baseados no “clericalismo” que o Papa criticou duramente. E o mais importante, poderia trazer à tona certas questões dos católicos da área.
Em todo caso, as dioceses de todo o mundo têm até o verão para apresentar uma síntese das discussões que realizaram em suas Igrejas locais.
O primeiro texto será publicado no outono e servirá como instrumento de trabalho para as assembleias episcopais continentais.
Muitas perguntas sobre o sacerdócio e seus desafios no mundo de hoje serão abordadas de 17 a 19 de fevereiro em Roma, em um simpósio internacional dirigido pelo cardeal Marc Ouellet, atual prefeito da Congregação dos Bispos.
O papa deve falar no simpósio.
Várias beatificações e canonizações também acontecerão em 2022, incluindo Charles de Foucauld, que será reconhecido como santo em 15 de maio em Roma.
Quatro meses depois, João Paulo I, o papa do sorriso que reinou por 33 dias, será beatificado.
Francisco também deve reagendar uma reunião com membros da Comissão Independente da França sobre Abuso Sexual na Igreja (CIASE).
O relatório do grupo, o qual foi publicado em outubro, tem sido fortemente criticado por algumas autoridades vaticanas pelo seu número estima de vítimas de abusos sexuais.
Isso levou alguns a supor que o papa pode decidir não se encontrar com os membros do CIASE, afinal.
“É possível que ele os receba, mas não a curto prazo”, disse uma fonte do Vaticano.
“Ele não gosta de agir sob pressão”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Este será um ano decisivo para o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU