22 Dezembro 2021
“É muito cansativo ser pai e mãe hoje, com filhos e filhas que são verdadeiros nativos digitais. Mas é preciso ter as ideias claras.”
A opinião é de Alberto Pellai, médico italiano e psicoterapeuta do desenvolvimento e pesquisador do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade de Milão. O artigo foi publicado por Famiglia Cristiana, 18-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Quero criar um perfil no Instagram.” Quantos de vocês já ouviram esse pedido de um filho pré-adolescente ou adolescente? Provavelmente quase todos. Talvez muitos filhos nem tenham pedido isso, porque muitos deles entram nas redes sociais com total autonomia, sem perceber nenhuma necessidade de acompanhamento e de supervisão educativa por parte dos adultos de referência. Mas esse apoio, esse olhar vigilante que limita, aconselha e dá indicações é mais do que nunca necessário.
Está gerando um amplo debate internacional a notícia de uma pesquisa realizada para uso interno do Instagram e nunca divulgada, até o dia 14 de setembro, quando o Wall Street Journal publicou os dados de um estudo que visava a compreender o impacto do uso dessa rede social nos menores de idade.
Os dados são muito problemáticos e, mesmo que ninguém de fora da empresa deveria conhecê-los, é bom estar ciente deles: 32% das meninas cadastradas no Instagram afirmam que essa rede social contribui para aumentar a ansiedade que sentem em torno da própria imagem corporal. Ou seja, ela faz com que elas se sintam feias, diferentes de como gostariam de ser.
A atividade constante de comparação com corpos perfeitos, rostos limados e embelezados pelo uso de filtros gera uma sensação de inadequação que amplifica aquela que, fisiologicamente, muitos sujeitos em idade de desenvolvimento já sentem diante das profundas transformações que vivenciam em nível corporal.
Além disso, a tendência de todos compartilharem apenas imagens perfeitas de “instantes” em que tudo parece belo e magnífico, todos sorriem e são elegantes torna cada vez mais difícil se perceber como adequados e satisfeitos com o próprio status.
Assim, começa-se a se desejar um corpo diferente e uma vida diferente; tudo o que se tem e que se é parece cinzento e sem sentido. Decorre daí uma insatisfação, que, por sua vez, é um fator de risco para mais ansiedade, tristeza e depressão.
Como psicoterapeuta, também acho que a necessidade constante que os nossos filhos – particularmente as nossas filhas – têm de postar imagens no Instagram nas quais querem parecer perfeitos aos olhos dos outros os esgota excessivamente, prendendo-os em uma preocupação excessiva com seu “exterior” e com aspectos estéticos, fazendo com que percam, assim, a motivação e o interesse pela conquista de competências para a vida muito mais invisíveis e interiores, que são decisivamente mais importantes e funcionais para realizar e autodeterminar o próprio projeto existencial.
Além disso, fazer com que a própria imagem satisfaça o olhar alheio afasta cada vez mais da capacidade de focalizar, dentro de si, um olhar sadio e indulgente, capaz de unir pontos fortes e fragilidades, valorizando a própria singularidade, que não pode ser incluída e homologada à ideia de perfeição imposta de fora.
Caso contrário, o risco é de se tornar aquilo que os outros esperam que você seja. Exatamente o oposto do que deveria ocorrer na idade do desenvolvimento: ou seja, tornar-se aquilo que realmente se quer ser.
“Proibido para menores de 14 anos”, em tradução livre, de autoria de Alberto Pellai e Barbara Tamborini (Foto: Divulgação)
É muito cansativo ser pai e mãe hoje, com filhos que são verdadeiros nativos digitais. Mas é preciso ter as ideias claras. Eu tentei contar tudo isso em ‘Vietato ai minori di 14 anni’ [Proibido para menores de 14 anos], o novo livro que escrevi com Barbara Tamborini, baseado na nossa experiência profissional, mas também na nossa vida de pais de quatro filhos. Aqui, proponho-lhes alguns bons conselhos para uma educação digital familiar que respeite as necessidades de crescimento dos nossos filhos.”
1. Convidem os seus filhos a respeitarem os limites de idade impostos pelas redes sociais: o Instagram não permite o cadastro para quem ainda não completou os 13 anos de idade. Esse é um bom ponto de partida: se você não tem a idade mínima permitida, não pode entrar. Não são seus pais que lhe pedem isso: é o próprio Instagram.
2. Estejam entre os seguidores do perfil do seu filho ou filha até ele ou ela completar 16 anos de idade: saber que os adultos de referência veem o que se faz nas redes sociais favorece nos filhos a capacidade de autogerirem e autorregularem melhor os próprios comportamentos online.
3. Se vocês são pais e mães de filhos em idade pré-escolar e escolar, reduzam ao mínimo a publicação das suas fotografias e o uso de suas redes sociais. Ver adultos que sempre estabeleceram limites e adotaram regras para publicar imagens dos próprios filhos representa o melhor modo para ajudá-los a compreender que limites e regras eles terão que adotar para si mesmos, uma vez que caberá a eles decidir o que fazer online.
4. Passem 15 minutos com os seus filhos, duas vezes por semana, visualizando os seus perfis e discutindo como eles usam as redes sociais e como os seus amigos e influenciadores preferidos as estão usando. Sublinhem o valor das mensagens que lhe pareçam positivas e verifiquem com eles quais problemas constatam diante de mensagens vulgares ou que visam a gerar um senso de inadequação no espectador.
5. Comparem o perfil do Instagram de um influenciador famoso e o de uma pessoa que alcançou grande sucesso no seu campo de competência (cientista, escritor ou escritora, professor ou professora, filósofo ou filósofa). Que diferença vocês conseguem detectar no modo como esses perfis são geridos e alimentados com novas postagens?
6. Exijam que alguns momentos do dia sejam “social-free”, ou seja, livres de consulta às redes sociais: acordar de manhã, as refeições compartilhadas com a família, os momentos antes de dormir (não deve haver instrumentos conectados no quarto durante a noite).
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“Filhos pré-adolescentes e redes sociais digitais: caros pais, comportem-se assim”. Artigo de Alberto Pellai - Instituto Humanitas Unisinos - IHU