Nos Estados Unidos, o pessimismo une as gerações dos padres mais jovens às dos seus coirmãos com mais idade: um estado de depressão comum, embora os primeiros sejam mais conservadores e distantes do Papa Francisco do que os segundos.

O comentário é de Marcello Neri, teólogo e padre italiano, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado em Settimana News, 17-11-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

A Conferência dos Bispos dos Estados Unidos está reunida em Baltimore nestes dias para a sua plenária de outono – sobre a qual se estende a longa sombra da formulação final do documento sobre a eucaristia. Neste momento, parece que a versão apresentada não contempla nenhuma menção direta a uma eventual negação da Comunhão àqueles católicos pró-escolha que ocupam cargos de destaque público (leia-se, o presidente Biden). (1)

É provável que se forme um consenso bastante generalizado em torno dessa redação, que também inclui aquela parte dos bispos que havia se manifestado anteriormente contra a elaboração de tal documento. Trata-se de um texto menor que visa ao máximo consenso possível neste momento.

Resta a incógnita sobre como se dará a discussão na assembleia sobre o esboço apresentado: com a possibilidade de que seja apresentada uma “emenda Biden”, e de que, mesmo com ela, o texto seja aprovado pelos bispos. De fato, em ocasiões anteriores, os bispos estadunidenses nunca votaram contra uma moção que endurecesse a disciplina eclesial no que se referia ao aborto.

No seu discurso introdutório, o núncio apostólico em Washington, Dom Christophe Pierre, exortou os bispos a buscarem uma união entre eles – ressaltando que uma Igreja dividida não é capaz de desempenhar um papel significativo na vida das pessoas e do país.

Enquanto os bispos jogam o seu jogo de azar em relação ao presidente católico, algumas pesquisas recentes permitem vislumbrar o sentimento dos padres – pessimista, muito pessimista. Cerca de 50% dos padres envolvidos declararam que o estado de saúde da Igreja não é nada bom, muito pelo contrário.

O pessimismo une as gerações dos padres mais jovens às dos seus coirmãos com mais idade: um estado de depressão comum, embora os primeiros sejam mais conservadores e distantes do Papa Francisco do que os segundos.

Outra pesquisa com os jovens católicos estadunidenses mostrou que 40% deles se mantêm afastados de um maior envolvimento na vida paroquial devido aos casos de abuso e à posição da Igreja em matéria de homossexualidade.

Levando em conta os dados de 2018, nos Estados Unidos, existem cerca de 17.000 paróquias católicas, com 37.300 padres (contando também os 11.600 religiosos ordenados): pouco menos da metade tem mais de 70 anos. Também estão diminuindo os recursos econômicos das Igrejas locais para enfrentar uma situação pastoral que está entrando em estado de emergência: 25 dioceses declararam falência como resultado dos abusos sexuais clericais; as ofertas semanais sofreram uma forte queda durante a pandemia, ficando hoje entre 15% e 30% a menos do que no período pré-pandêmico.

Diante de tudo isso, a concentração exclusiva dos bispos na questão Biden parece, pelo menos em parte, destoante: “Mas onde está a mesma energia investida para apoiar aquele grupo cada vez menor de homens nos quais os bispos mais confiam? Como os bispos estadunidenses preveem exatamente que a Igreja Católica dos Estados Unidos funcionará daqui a 10 anos, levando em conta a diminuição do número de padres e os fardos crescentes que eles têm de carregar?” (J. McDermott).

Divididos na ideologia eclesiástica, mas unidos no pessimismo, muitos padres pensam que “há questões muito mais importantes no nosso mundo e na nossa Igreja que deveriam ser levadas em consideração”. No entanto, não falta muito para se chegar ao ponto em que a Igreja Católica estadunidense começará a ter sérios problemas até mesmo para a simples administração dos sacramentos a (todos) os católicos do país – e não apenas a um.

Nota do Instituto Humanitas Unisinos - IHU

1.- Segundo o portal Religión Digital, 18-11-2021, 'os bispos dos EUA aprovam um texto tíbio sobre a Eucaristia que evita a polêmica. Joe Biden poderá seguir comungando'

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