Nova esquerda - o identitarismo e os descaminhos da ignorância e do autoritarismo - Frases do dia

Cultura do cancelamento | Imagem: Reprodução | Youtube

04 Outubro 2021

 

Goleada

“Mesmo um novo programa, com o nível de inflação atual, talvez sequer recupere as perdas acumuladas. A verdade é que, nos últimos anos, os pobres estão levando uma goleada” – Marcelo Neri, economista – Folha de S. Paulo, 04-10-2021.

 

Inflação dos pobres – três pontos acima dos mais ricos

“Com esse nível de inflação, antes de melhorar, o desemprego talvez ainda tenha que piorar [para esfriar a economia e conter os preços]. E o que os dados mostram é que essa estagflação, que é um fenômeno de curto prazo, está muito mais séria entre os pobres. A inflação dos pobres tem estado três pontos acima daquela das classes de renda mais alta; e o desemprego dos pobres também aumentou muito mais do que o das classes mais altas” – Marcelo Neri, economista– Folha de S. Paulo, 04-10-2021.

 

Inflação e desemprego. Perdemos nas duas pontas. E os pobres mais ainda

Não temos aquela solução clássica de curto prazo: “Pau na máquina e vamos ter um pouco mais de inflação para reduzir o desemprego”. Estamos perdendo nas duas pontas; e os pobres, mais ainda. E se a estagflação ocorre em um momento de eleição, quando se decidem algumas políticas que têm consequências de prazo maior, talvez essa tempestade perfeita não seja apenas transitória. Além do que, eleição com estagflação talvez seja a receita para propostas populistas. Elas, no fundo, vão afastar o problema meio que por imaginação, com o seu agravamento depois. O grande risco é termos um programa voltado para 2022, não para o período à frente” – Marcelo Neri, economista– Folha de S. Paulo, 04-10-2021.

 

Desembarque

“Disse que não tinha bola de cristal, mas apostava que o mercado vai preferir Lula a Bolsonaro. Grande parte do mercado já desembarcou de Bolsonaro. É a primeira vez que vejo executivos de bancos assinando manifestos por democracia, porque têm a percepção de que está sendo atacada. E as perspectivas econômicas não estão nada boas para 2022. A promessa de uma agenda liberal à la Margaret Thatcher não vai acontecer. E todos os sinais são de que a economia não está decolando, como disse o ministro Guedes, mas ocupando a capacidade ociosa” – Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda – Zero Hora, 04-10-2021.

 

Ministro da Fazenda de Lula

“Não me surpreenderia se, durante a campanha, (Lula) anunciasse quem seria o ministro da Fazenda, com um perfil próximo de Marcos Lisboa. Não tenho nada contra um político ser ministro da Fazenda. Fernando Henrique foi um ótimo ministro da Fazenda. O Plano Real deu certo por que ele era político e não se preocupou com o risco da proposta. Viu a chance de deter a inflação e se eleger presidente” – Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda – Zero Hora, 04-10-2021.

 

O ‘mercado’ e Lula

“Empresários são uma pequena minoria do eleitorado. Podem ser formadores de opinião, podem financiar campanha, mas não ganham eleição. E o financiamento hoje está mais restrito, empresas não podem fazer doações formais. Uma novidade na eleição de 2022 é o surgimento de Eduardo Leite. Mas tudo depende de como votará o bolsonarista-raiz. Se se sentir órfão porque seu 'mito' não concorre, pode anular voto, o que favoreceria Lula. Se predominar o sentimento antilula, pode ganhar a terceira via. Se a disputa for entre Bolsonaro e Lula, o mercado vai de Lula. Por menos alvissareira que seja a candidatura dele, é menos ruim do que Bolsonaro, que não sabe nem como funcionam as instituições” – Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda – Zero Hora, 04-10-2021.

 

Insuficientes

“Num primeiro balanço, as manifestações deste sábado foram insuficientes para assustar e acionar o senso de sobrevivência de deputados do Centrão, que hoje blindam Jair Bolsonaro. Nesse aspecto, a vida continuará a mesma. Por ora, o impeachment segue apenas uma hipótese. Também, a possibilidade de o presidente não chegar à eleição. Continuam as “narrativas” e os ataques nas redes sociais” - Carlos Melo, cientista político, professor do Insper – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Longo caminho a percorrer

“Os grandes espaços vazios deixados na avenida Paulista, na Cinelândia e na Esplanada dos Ministérios mostraram que as oposições, mesmo unidas, ainda têm um longo caminho a percorrer para enfrentar Bolsonaro nas ruas, faltando exatamente um ano para as eleições” – Ricardo Kotscho, jornalista – Balaio do Kotscho – Portal Uol, 02-10-2021.

 

Botijão de gás. ‘Tá muito caro, a culpa é do Bolsonaro’

“Neste 2 de outubro, as palavras de ordem da pauta política pedindo o impeachment de Bolsonaro perderam espaço nas faixas e nos cartazes para as reivindicações da vida real do povo, decorrentes da crise econômica que se agrava a cada dia, com a inflação galopante, a falta de emprego e de comida, o preço do gás e dos combustíveis. Em lugar de bonecos do presidente, apareceram em todo lugar botijões de gás infláveis e faixas com a inscrição "Tá muito caro, a culpa é do Bolsonaro", contra a reforma administrativa e a privatização dos correios, e grupos de defesa dos direitos dos movimentos dos negros, de mulheres, do LGBT +, dos indígenas, de estudantes protestando contra os cortes na educação e das torcidas uniformizadas do futebol”– Ricardo Kotscho, jornalista – Balaio do Kotscho – Portal Uol, 02-10-2021.

 

Comícios do presidente e os protestos da oposição. Diferenças

“A grande diferença entre os comícios do presidente e os protestos da oposição é que, no palanque dele, só Bolsonaro fala, enquanto nos caminhões de som das oposições sobe tanta gente que o povo fica meio perdido para saber quem está falando. Os seguidores de Bolsonaro ouvem-no em silêncio, obsequiosos, como se estivessem assistindo a uma missa; nos protestos da oposição, o clima lembra mais uma grande quermesse, com cantorias e batucadas, ninguém presta muita atenção no que está se falando”– Ricardo Kotscho, jornalista – Balaio do Kotscho – Portal Uol, 02-10-2021.

 

O Brasil atual é o mesmo de sempre e é outro

“Fatos como a CPI da Covid no Senado, a exibição ali do palhaço extremista Hang, de numerosos criminosos do negocismo com o governo e, sobretudo, o desvendar de tantos horrores de desumanidade são, também, aproveitável ironia. Essa desgraça nacional vem a ser mais do que oportuna para acabar com a fantasia de um país de gente afável, de índole pacífica, generosa. Se assim fomos um dia —e não fomos—, na atualidade não somos. Ou desde muito, na maior escravatura ocidental, nos morticínios de populações como em Canudos, na esquecida guerra do Contestado, no vencido Paraguai, na favelização, no genocídio incessante dos invadidos habitantes originais desta terra. O Brasil atual é o mesmo de sempre e é outro” – Janio de Freitas, jornalista – O Estado de S. Paulo, 04-10-2021.

 

Sinal do centrão

“Jair Bolsonaro assumiu sabendo que não tinha base parlamentar além do cacife da Bolsa da Viúva. Fala em 'bancadas temáticas', uma espécie de cloroquina política. Aninhando-se no centrão, conseguiu a proeza de ver derrubados 12 de seus vetos num só dia. O centrão sentiu cheiro de queimado. O repórter Lauro Jardim informa que Lula combinou um jantar para quarta-feira (6). Nele poderão estar, além do ex-presidente José Sarney: Eunício de Oliveira, dono da casa, foi ministro das Comunicações de Lula. Edison Lobão foi ministro de Minas e Energia de Lula e de Dilma Rousseff. Jader Barbalho foi ministro da Previdência de Sarney. Renan Calheiros foi ministro da Justiça de FHC.  – Janio de Freitas, jornalista – O Estado de S. Paulo, 04-10-2021.

 

Agronegócio com Bolsonaro

“Entre os agricultores, vejo uma tendência pró-Bolsonaro. Agora, nas instituições está todo mundo olhando o horizonte, ninguém tem posição tomada ainda” - Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agriculutura, coordenador do Centro de Agronegócio na Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Agenda anti-PT

“Se tem uma pauta que integra e une é a agenda anti-PT, por isso ocorre essa associação binária. O agro inteiro busca encontrar uma alternativa para o PT não ganhar e vai fazer o que for necessário” - Christian Lohbauer, presidente da CropLife Brasil e ex-candidato a vice-presidente pelo Partido Novo, para quem, apesar de ser heterogêneo, o agronegócio se unirá na oposição a Lula – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Credibilidade perdida

“A credibilidade do País foi perdida com a permissão de ilegalidades, a extração de madeira e o garimpo. Se não enfrentar isso e o grilo de terras, que é roubo de terra pública, não resolve nada, não adianta ficar falando de bioeconomia e de pagamento por serviço ambiental na Amazônia. Nisso o governo falhou e é muito grave. Tem que por ordem na casa” - Pedro de Camargo Neto, pecuarista e ex-dirigente da Sociedade Rural Brasileira que rompeu com a entidade que presidiu após 30 anos de elo, por causa do apoio da Rural a políticas do atual governo personificadas pelo ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles – investigado pela Polícia Federal por suposto envolvimento com madeireiras – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Paulo Guedes

“Paulo Guedes é blindado por boa parte do establishment brasileiro, inclusive pela mídia. O motivo é simples: 100% dos analistas concordam que, se Guedes for demitido, Bolsonaro o substituirá por um jumento cracudo com uniforme da SS. A blindagem persiste mesmo com os resultados ruins que Guedes acumula. Desemprego e inflação estão altos e a população briga por carcaças na porta dos açougues” – Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia – Folha de S. Paulo, 04-10-2021.

 

Duas perguntas

“Até aí, já tivemos vários ministros da economia que fracassaram. O que eu quero é perguntar duas outras coisas para o ministro Paulo Guedes. Guedes, você, ou alguém da sua equipe, ajudou o Jair a matar centenas de milhares de brasileiros durante a pandemia? E: Guedes, onde você estava no dia 7 de setembro enquanto o Jair tentava um golpe de Estado?”Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia – Folha de S. Paulo, 04-10-2021.

 

Sem medo

“Guedes, pode responder tranquilo mesmo se você tiver cometido todos esses crimes. A chance de você ser responsabilizado criminalmente é mínima. O governo Bolsonaro é um desastre, mas é um desastre cheio de milicos. A turma tem medo de milico. Daqui a 50 anos você faz que nem o Delfim Netto e dá uma entrevista dizendo que não se arrepende de ter apoiado o protocolo da Prevent Senior”Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia – Folha de S. Paulo, 04-10-2021.

 

Preconceito e o ódio

“Como sociedade, corremos o risco de normalizar o preconceito e banalizar o ódio. Afinal, é isso que fazem o Presidente da República e seus aliados fanáticos. Discursam em defesa de uma tal moralidade que não pode ser vista em seus atos. Carregam a religião na manga, mas mantêm Deus longe de seus corações. Defendem a família, mas só as suas, a dita “tradicional”, enquanto a imensa maioria das famílias brasileiras passa fome e sofre com as consequências da pandemia” - Fabiano Contarato, senador da República, Rede-ES – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Tirem os pés de nossos pescoços

“Não buscamos favores ou privilégios, mas apenas, como dizia a ministra da Suprema Corte norte-americana Ruth Bader Ginsburg, que tirem os pés de nossos pescoços. Que nos deixem crescer e amar. Que nos deixem viver e contribuir para o desenvolvimento do Brasil. Essa luta contra o ódio é de todos nós” - Fabiano Contarato, senador da República, Rede-ES – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Amazônia - Destruição afeta 85% das espécies ameaçadas de extinção

“A área queimada na bacia amazônica é de aproximadamente 150 mil quilômetros quadrados – que, somados aos desmatamentos por corte, atingem aproximadamente 20% do bioma. O interessante é que a área destruída atinge a distribuição geográfica de 64% das espécies estudadas, ou seja, quase dois terços das espécies tiveram sua distribuição geográfica reduzida, o que facilita sua extinção. Mas o mais importante é que essa destruição afeta diretamente a área em que vivem 85% de todas as espécies listadas como ameaçadas de extinção” – Fernando Reinach, biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University – O Estado de S. Paulo, 02-10-2021.

 

Resultado assustador

“Esses dados são muito importantes pois demonstram de uma vez por todas que, de fato, a quantidade de queimadas que vêm ocorrendo na bacia amazônica diminui as chances de sobrevivência de 64% das espécies estudadas e de 85% das espécies ameaçadas de extinção. Portanto, a destruição de uma pequena fração da Floresta Amazônica pode ter um efeito amplificado na redução da biodiversidade da Amazônia. E esse efeito pode levar ao colapso da biodiversidade muito antes que 40% do bioma seja destruído. É um resultado assustador que vai servir como base científica para justificar políticas mais agressivas de proteção desse bioma”– Fernando Reinach, biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University – O Estado de S. Paulo, 02-10-2021.

 

Perderemos para os algoritmos

“Temo que todos os aspectos de nossa vida atual (e em maior medida, no futuro), desde nossas relações amorosas aos empregos que teremos, além do que pensaremos sobre direitos humanos e a legitimidade política de algumas causas ou outras, até mesmo nossa percepção da realidade, enfim, tudo está determinado por algoritmos. Assim, a luta política dos próximos anos será marcada pelo resgate de uma soberania individual e de uma compreensão do tempo e do mundo que nos rodeia e que perdemos nas mãos das telas” – Patrício Pron, escritor argentino, autor de, entre outros, do livro Amanhã Teremos Outros Nomes – O Estado de S. Paulo, 02-10-2021.

 

Não será mais possível amar como nossos pais amaram

“E a pandemia também serviu para ampliar ainda mais as diferenças na forma de conceber as relações amorosas que existem entre as gerações anteriores e a nossa: simplesmente, depois de um evento como o que estamos vivenciando (e como aconteceu depois das duas guerras mundiais ou da eclosão da aids), as ideias de intimidade, corpo, parceiro e casa não podem ser as mesmas. Não será mais possível amar como nossos pais e avós amaram. Mas isso, nostalgia à parte, pode não ser de todo ruim” – Patrício Pron, escritor argentino, autor de, entre outros, do livro Amanhã Teremos Outros Nomes – O Estado de S. Paulo, 02-10-2021.

 

Esquerda rachada

“Vemos hoje, em plano internacional, a esquerda inteiramente rachada. De uma parte, uma esquerda democrática, universalista. De outra, a chamada esquerda identitária ou diversitária, inscrita no multiculturalismo, com sua ânsia de divisórias, pregando “apartheids” e guetificações. E a disputa ideológica entre essas duas esquerdas está deflagrada” – Antonio Riserio, poeta e antropólogo – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Identitarismo e os descaminhos da ignorância e do autoritarismo

“Raras vezes, causas justas, como as dos identitários, terão se pervertido tanto pelos descaminhos da ignorância e do autoritarismo. Caiu-se numa mescla de ceticismo epistêmico, na teoria, e de delírio persecutório na prática, descambando para o fundamentalismo e o fascismo. Tudo é conspiração contra os “oprimidos”. O poder está em todo lugar – a verdade, em nenhum. E não teremos como construir um futuro coletivo com base na fragmentação e no neossegregacionismo, que caracterizam o identitarismo, hoje ideologia dominante no “establishment” acadêmico-midiático e em parte do ambiente empresarial” – Antonio Riserio, poeta e antropólogo – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Nova esquerda obcecada por raça e sexualidade

“A própria neoesquerda mergulharia no fanatismo. Schapire: 'O problema é quando a esquerda regressiva se converte em patrulha moral dedicada a vigiar e punir quem se aparta de seu revisionismo histórico anacrônico à luz da nova moral em voga, de seu macartismo (cultura do cancelamento), da novilíngua e seus códigos. É uma nova esquerda obcecada por raça e sexualidade como prisma privilegiado sobre a realidade ('uma investida essencialista que reduz as pessoas a suas identidades étnicas e sexuais') e disposta a atacar a liberdade de expressão de democratas e universalistas'. A fazer de tudo para enclausurar a dissidência no vazio e no silêncio” – Antonio Riserio, poeta e antropólogo – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Uniformidade ideológica

“Em nome da diversidade cultural, o que se quer impor é a uniformidade ideológica. Instaurou-se assim um ambiente policialesco no mundo das ideias e do comportamento. São as ações das milícias multicultural-identitárias, sejam digitais ou presenciais: polícia da língua, polícia do sexo, polícia do desejo, polícia das condutas, polícia das artes, polícia do pensamento” – Antonio Riserio, poeta e antropólogo – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.

 

Provincianismo

“Seria muito mais produtivo se a esquerda brasileira, hoje, se preocupasse com coisas mais sérias. Com seu provincianismo, por exemplo. Com a necessidade de participar das discussões ideológicas mundiais da esquerda. Porque o que vemos aqui, em variados graus de agressividade e esperteza, é o afã de neutralizar divergências ideológicas e uma militância que prima pela ignorância (e a rima, aqui, nada tem de casual). Militância sectária tão perdida, tão destrambelhada, que ainda vai acusar o arco íris de racismo, porque ele não aceita preto no pedaço de céu onde brilha” – Antonio Riserio, poeta e antropólogo – O Estado de S. Paulo, 03-10-2021.