24 Setembro 2021
Após fornecer 10 mil refeições gratuitas no início da pandemia, Prefeitura da capital paulista faz mudanças no modelo e passa a encaminhar população vulnerável para restaurantes populares.
A reportagem é de Felipe Resk e Ítalo Lo Re, publicada por O Estado de S. Paulo, 24-09-2021.
Com a fila dando a volta em uma quadra do centro de São Paulo, o pedreiro Fábio de Lima, de 43 anos, esperava de braços cruzados sua vez de pegar o almoço. Ele já havia dobrado a última esquina, conseguindo chegar à Rua José Bonifácio, e estava a poucos metros de ser atendido, quando as marmitas para doação acabaram. “Na rua é assim. Uma hora você come, outra hora você não come".
Voltada a moradores de rua, a entrega de alimentos feita pelo Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo (MEPSRSP) recebe apoio do Rede Cozinha Cidadã, programa da Prefeitura que começou por causa da pandemia de covid-19 e agora está sob ameaça. Na sede da entidade, o número de marmitas disponíveis diminuiu de mil para 750 por dia. Quantidade que na quarta-feira, 22, se esgotou em exatos 19 minutos. Nesta quinta-feira, 23, Lima e pelo menos outras 60 pessoas da fila ficaram sem comer.
“O jeito vai ser esperar a hora do jantar”, diz o pedreiro, que relata já ter ficado até três dias seguidos sem fazer nenhuma refeição durante a crise sanitária. “A situação está ruim e só vem piorando. Com tudo que está acontecendo, as doações estão caindo.”
O Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo solicitou ao Ministério Público do Estado e à Defensoria Pública que acionassem a Justiça contra o fim do programa da Prefeitura. Porém, em decisão liminar, o juiz Kenichi Koyama indeferiu o pedido, argumentando que o tema está na arena política e escapa ao controle jurídico. O MP e a Defensoria recorreram e agora esperam novas definições, mas isso não impediu que o presidente do MEPSRSP, Robson Mendonça, tomasse uma medida mais drástica.
Ex-morador de rua, ele afirma nunca ter visto tanta gente em situação de vulnerabilidade. “Na semana passada, uma pessoa deixou o almoço cair e duas crianças correram para comer do chão. Estavam sem comer há dois dias”, conta. “Não tem como ficar indiferente.”
“Só me restou uma coisa a fazer. Fui lá, comprei uma corrente, fui para a frente da Câmara Municipal, me acorrentei e fiquei solicitando uma reunião com o presidente da Câmara. Ia fazer greve de fome e tudo mais”, disse. O episódio aconteceu por volta de 9h da última segunda-feira.
A íntegra da reportagem pode ser lida aqui.
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SP reduz programa que distribui marmitas a moradores de rua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU